Quando todos são hipócritas: contra Bolsonaro, Macron e Merkel

Raphael Fagundes: “Todos estão a serviço do imperialismo, se escondendo por trás de discursos comumente aceitos”

Foto: Presidência da República
Escrito en OPINIÃO el
Até ontem, Macron era visto como um tirano que, coadunado com empresários e banqueiros, ampliou a exploração sobre os trabalhadores franceses que foram às ruas protestar. Os coletes amarelos repercutiram em todo o mundo, com um grande apoio das esquerdas. Angela Merkel era vista como a grande gestora do Banco Central Europeu, que promove uma política econômica ultraliberal sádica em relação aos países mais fracos da União Europeia.

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Mas as esquerdas atuais, vislumbradas com a crítica dos dois presidentes a Jair Bolsonaro, passaram a aplaudir essa corja. Sem dúvida, é preciso resistir à política entreguista, de grande teor ideológico e religioso promovida pelo presidente brasileiro, mas não nos aliando a outros bandidos. Esse reboliço que a esquerda faz é um dos motivos pelo qual as pessoas acabam sendo atraídas pela extrema direita, que, por sua vez, adotou um discurso radical que contesta tudo. É preciso lembrar que essa história de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo nunca funcionou para as lutas operárias. As conquistas foram realizadas através do sangue, e os governos populistas tiveram que ceder à pressão dos trabalhadores. A relação entre trabalhadores e banqueiros é uma alucinação. As esquerdas precisam, em meio a esta crise ambiental pela qual passamos, formular o seu próprio discurso sobre o meio ambiente, sobre a relação dos seres humanos com a natureza e a atuação do capital sobre ela, transformando tudo em valor e mais-valia. Mostrar que o capitalismo é contrário à ecologia devido a sua própria lógica econômica, já que sua necessidade de matéria prima não acompanha a reprodução da natureza. O capital precisa produzir lixo para dinamizar o consumo, ao mesmo tempo que precisa desmatar, devorar espaços. A inspiração de uma esquerda combativa não pode ser a manifestação de líderes que fomentam a exploração econômica, visando o incremento do capital. É preciso dar opções às classes trabalhadoras, criar uma identificação, uma identidade, e não aplaudir ou reproduzir o discurso de uma burguesia pós-moderna, que pretende conter os males sociais causados pelo próprio sistema que financia. Bolsonaro, por seu turno, posa de patriota, mas todos sabem que quer entregar o Brasil aos Estados Unidos, por meio de acordos desproporcionais aos interesses nacionais. E se a intervenção na Amazônia for um pretexto para reforçar o uso das Forças Armadas no combate às lutas indígenas e aos movimentos que querem ter acesso à terra no Norte do país? Tudo é possível. O certo é que o desmatamento é a última razão desse imbróglio. Todos estão a serviço do imperialismo, se escondendo por trás de discursos comumente aceitos. Eles podem ser hipócritas, nós não.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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