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OPINIÃO
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Nunca houve, nos últimos 35 anos, um motivo tão claro para ser comunista neste país. Porque, se ser contrário ao governo reacionário de Jair Bolsonaro é ser comunista, por que não sê-lo?
Se defender o meio ambiente, demarcações indígenas, o Estado laico, os direitos trabalhistas, a liberdade de imprensa, folgas semanais etc., for ser comunista, então que sejamos.
A grande questão é que Bolsonaro fala do comunismo, em suas falas furibundas, desarrazoadamente, e, por conta disso, não o define. O objetivo parece aviltrar que tudo e todos que sejam infensos ao presidente e ao seu estilo de governar se enquadram no comunismo, então por que não nos tornamos de fato?
De acordo com o raciocínio do presidente, ser comunista é defender a distribuição da riqueza, o investimento em educação, a dignidade humana, a liberdade religiosa e de expressão, emprego seguro, enfim, é ser contrário ao plano de seu governo, que, abertamente, vem envergonhando o Brasil e os brasileiros mundo afora. Logo, ser comunista é estar do lado destas virtudes execradas pelo sistema atual. Qual é o problema disto?
Nós não temos que provar defensivamente que não somos comunistas para comprovar que o que Bolsonaro vomita não passa de inverdades, retóricas fundadas no fantasma da Guerra Fria, mas nos transformar no que ele odeia, para afrontar sua soberba jactanciosa de “salvador da pátria”. É a profecia autovalidante. Pois, é fato que ele diz que a esquerda é comunista porque sabe que ela não tem mais a coragem de assumir que é; que seus projetos de governo estão muito longe de serem comunistas; que as liberdades que defendem são mais individuais que econômicas e se põe o único capaz de combater tal ideia.
É hora de ser comunista. De explicar para a população o que isso significa. O significado desse significante tão odiado por Bolsonaro.
É odiado pelo presidente, diga-se de passagem, porque as elites (e as classes médias imbecilizadas) também odeiam e são capazes de dar poder a ditadores para impedir que o comunismo se torne um modelo econômico vigente. Foi o que aconteceu com a ascensão do nazismo na Alemanha. Mas as elites sabem que não há um complô comunista para tomar o poder no Brasil e que, muito menos, há uma bipolaridade entre o famigerado “mito” e o comunismo.
O mercado quer um modelo de privatização e a desvinculação da América Latina dos mercados europeus e asiáticos para entregar a região aos Estados Unidos que, por seu turno, fecha-se, mais uma vez, no continente. Assistimos o retorno da “América para os americanos”. Na Argentina, está acontecendo algo parecido. A vitória nas primarias da chapa de Cristina Kirchner gerou uma queda no mercado, que sempre blefa e chantageia para colocar no poder a sua tendência.
Quando Bolsonaro venceu, a Bolsa acenou positivamente no Brasil. O mesmo aconteceu quando do golpe que tirou Dilma Rousseff do poder. Chantagem financeira. Pirraça das elites. Mas não houve crescimento com a entrada de Temer e muito menos com a ascensão da extrema direita. Tomara que os argentinos não caiam no blefe financeiro, alimentado pelo discurso midiático.
Mas, para além dessa esquerda liberal que governou a América Latina nos últimos anos, precisamos pensar em um modelo realmente contrário ao liberalismo proposto por Guedes. E se ser contrário ao projeto econômico do governo atual que, por sua vez, não tem nenhuma previsão real de melhora da vida das pessoas, for ser comunista, então por que não ser? Bolsonaro torna - toda vez que mostra sua incapacidade e seu ódio - o comunismo uma alternativa cada vez mais interessante, já que este seria o oposto de tudo que está fazendo. Libertemo-nos dos estereótipos e das amarras do passado. Sejamos sim comunistas.
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