Cartas do Pai: “Cidadão de bem”

Estou do lado de quem faz balbúrdia. Meus amigos, gostam de cultura, de música, de arte

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Rio de Janeiro, 04 de junho de 2019 Pai. Sei que você e a mamãe sempre se preocuparam em me transformar em uma pessoa de bem. Me passaram seus valores e me deram exemplo com seus caracteres e com suas atitudes. Cresci achando que estavam me ensinando tudo certinho. Mas percebi que fizeram tudo errado. Vejo os exemplos exaltados hoje e eu não me encaixo neles. Os dois nunca me ensinaram a ser preconceituoso. Não me ensinaram a tacar fogo em mendigo. Não me mostraram como discriminar negros. Nunca me disseram que eu deveria espancar homossexuais. Não me prepararam para eu atirar em catadores de papelão. E mais: não aprendi a agredir uma mulher. Não me explicaram que eu posso fazer sexo à força, caso ela mude de ideia em cima da hora. Nunca me deram uma arma, pra me mostrar que matar é bom. Como eu poderia ser um cidadão de bem, se nunca me mostraram como eu realmente tenho que agir, para ser um? Hoje, por causa disso, eu vejo que estou do lado de quem faz balbúrdia. Meus amigos, gostam de cultura, de música, de arte... E pior, fiz a neta de vocês estudar. Não briguei com ela, por ela ler um monte de livros, e acabar sendo frequentadora de uma universidade. Que vergonha, pai! Mas a culpa é toda de vocês. Eu e a Jade não somos cidadãos de bem. Um beijo do seu filho, Ivan
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.