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OPINIÃO
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O ministro Sérgio Moro ficou à disposição dos senadores da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) praticamente por nove horas seguidas. Bem ao seu estilo, falou como se fosse um monge tibetano sem alterar a voz. E para não se perder, repetiu bordões ensaiados. Não dando espaço para se passar como alguém em desespero. Esse era o seu grande risco.
Num ambiente menos difícil do que o normal nessas ocasiões, Moro usou a velha tática dos políticos tradicionais, fugir das perguntas incômodas.
E quando acossado, fazia-se de vítima, não respondendo.
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Com isso, Moro venceu essa primeira batalha. E ainda conseguiu jogar para o The Intercept a suspeita de ter agido com criminosos para realizar a investigação da Vaza Jato, repetindo à exaustão que uma organização criminosa hackeou juízes e procuradores com o objetivo de anular a Operação Lava Jato.
Aliás, o “sucesso” da Lava Jato foi seu escudo principal durante a sabatina.
Mas Moro deixou um fio desempacado e que pode ser utilizado contra ele. Alguns senadores, entre eles Randolfe Rodrigues (Rede), do Amapá, lhe perguntaram se estava disposto a liberar o Telegram para fornecer os dados de suas conversas que poderiam mostrar se agiu contra a lei em ações judiciais quando era juiz.
Num primeiro momento, Moro disse que não tinha nada contra, mas que isso era tecnicamente impossível. Quando Randolfe argumentou que o Telegram havia publicado no Twitter que se Moro autorizasse poderia entregar os dados à Justiça, Moro não respondeu.
Fez-se de desentendido e repetiu que as conversas foram criminosamente hackeadas.
O ministro que, como juiz quebrava o sigilo de todos que caiam nas suas garras, não respondeu de forma clara e assertiva sobre a quebra do seu sigilo. O que poderia esclarecer as reportagens do The Intercept Brasil e se, ele é inocente, como diz, lhe livrar de constrangimentos como o de hoje.
A não autorização da quebra do seu sigilo ainda é insuficiente para lhe criar grandes problemas, mas muitos senadores devem ter anotado esse ponto. Que foi a parte sensível do seu depoimento de hoje. E que pode abrir uma estrada para o que virá.
Moro passou pelo teste do Senado, mas deixou uma porta aberta. Foi assim com Eduardo Cunha quando foi à sua primeira sabatina na Câmara. Ele disse que não tinha contas no exterior. E depois isso lhe custou o mandato.
O primeiro round foi de Moro, mas ele tomou um soco no fígado. E isso pode ser decisivo no percurso do confronto que só começou hoje. Até porque muitos políticos querem comer o fígado de Moro. Que lhes tratou como bandidos e não lhes deu nenhuma possibilidade de defesa quando os investigou.