Malditos hipócritas: a grande mídia e a investida contra Bolsonaro

Não é uma questão de Bolsonaro ou Lula, mas de acumulação de capital. A burguesia não acreditou que o PT poderia tocar as reformas, agora percebe que nem Bolsonaro tem condições de fazê-las. É necessário um meio termo, um grupo de poder que não toque em temas ideológicos

Escrito em Opinião el
Doutor em História Política na UERJ. Professor da rede municipal do Rio de Janeiro e de Itaguaí.
Quando observamos a produtividade da indústria brasileira desde 2015, encontramos a maior contradição do capitalismo. “A produção industrial encerrou o ano passado com crescimento disseminado nas regiões brasileiras. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 11 dos 15 locais pesquisados houve avanço, com uma média nacional de 1,1%”. Em seguida a notícia do site do governo federal prognostica: “Para 2019, a expectativa dos analistas ouvidos pelo Banco Central é que a indústria nacional avance 3,04%”.[1] No site do portal da indústria  (portaldaindustria.com.br) há um gráfico que mostra que em 2016 houve um aumento de 1,8% e em 2017 de 4,5%.[2] A crise se encontra com maior vigor no setor de serviço onde se emprega a maior parte da superpopulação relativa produzida pelo capital. A indústria, por sua vez, a base do modo capitalista de produção, gera desemprego para poder ampliar a sua produtividade. Um paradoxo ou o modus operanti do capital? O aumento da produtividade gera desemprego. Por exemplo: “a montadora Mercedes-Benz anunciou uma série de inovações na fábrica de caminhões e ônibus de São Bernardo do Campo, resultado do investimento de R$ 500 milhões nos últimos três anos, período em que também demitiu 5 mil pessoas. Com a modernização da unidade e a adoção de conceitos da chamada indústria 4.0, a empresa anunciou um ganho de produtividade de 15%”.[3] Karl Marx chama esse fenômeno de “lei geral, absoluta, da acumulação capitalista”. Existe um ponto de vista errôneo defendido pelos jornalistas e economistas que trabalham para o grande capital, “entretanto, dogma econômico. Segundo ele, os salários sobem em virtude da acumulação do capital. Os salários mais elevados incentivam o aumento mais rápido da população trabalhadora, e esse aumento prossegue até que o mercado de trabalho se abarrote, ficando o capital insuficiente em relação à oferta de trabalhadores. Caem então os salários, e aparece o reverso da medalha”. Esse ciclo se repete sucessivamente segundo os economistas burgueses. Mas é tudo um delírio, uma maneira de justificar o fortalecimento do capital. “Como é belo esse modo de mover-se a produção capitalista desenvolvida!”, ironiza Karl Marx. A verdade é que o trabalho gera o desemprego, mais investimento desemboca no pauperismo da classe trabalhadora. O “enriquecimento individual dos capitalistas” “acelera ao mesmo tempo a produção do exército industrial de reserva, numa escala correspondente ao progresso da acumulação social”.[4] No processo de acumulação, o capitalista começa com um capital global que se divide, mais ou menos, em 50% de capital constante (gasto em matéria prima, maquinaria, aluguel etc.) e 50% de capital variável  (destinado à força de trabalho). Após recolher os lucros, retirados da mais-valia (trabalho não pago), o nosso capitalista investe 70% em capital constante e 30% em capital variável. O capital constante cresce progressivamente em relação ao capital variável. Ele compra máquinas e outros elementos que modernizam a produção. Ou seja, do trabalho não pago ao trabalhador (fonte do lucro), o capitalista comprou os instrumentos que futuramente irão desempregar os trabalhadores. Esse procedimento se torna um ciclo, pois quando estoura a crise com milhões de desempregados, os economistas e jornalistas que trabalham para o capital clamam por mais investimentos para gerar empregos convencendo grande parte dos trabalhadores a acreditar que a acumulação de capital é a salvação. Eles assim se tornam vítimas que alimentam os próprios carrascos. O foco das privatizações e concessões é o setor industrial. A procura por investidores estrangeiros concentra-se em sua maior parte justamente neste setor para extrair mais valia do trabalhador e com ela comprar máquinas para gerar desemprego. É inevitável: “parte do capital variável se transforma em constante”. A condição de miséria com o desemprego faz com que o trabalhador venda sua força de trabalho cada vez mais barata para aumentar a riqueza alheia. O trabalhador agradece a Deus por conseguir um emprego que, mais à frente, será a razão de sua desgraça. Ele está a mercê da necessidade de enriquecimento do capital. Portanto, não é uma questão de Bolsonaro ou Lula, mas de acumulação de capital. A burguesia não acreditou que o PT poderia tocar as reformas, agora percebe que nem Bolsonaro tem condições de fazê-las. É necessário um meio termo, um grupo de poder que não toque em temas ideológicos. Rodrigo Maia, nesse momento, se apresenta como o mais apto a realizar com ou sem o governo e suas trapalhadas. No entanto, crise e desemprego sempre irão existir para que a riqueza dos capitalistas se suceda. É uma lei. As reformas não darão jeito nesta lógica e as privatizações vão deixar ainda mais os trabalhadores vulneráveis a essa crueldade. Depois virá a mesma imprensa que deseja tanto o investimento de capital expor seus clamores passageiros e hipócritas de uma literatura de sensação sobre o povo sofrido. Ridículos!!! [1] http://www.brasil.gov.br/noticias/economia-e-financas/2019/02/producao-industrial-registra-crescimento-em-2018-aponta-ibge [2] http://www.portaldaindustria.com.br/estatisticas/produtividade-na-industria/ [3] https://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2018/03/produtividade-brasileira-reage-apos-seis-anos.html [4] MARX, K. O Capital: crítica da economia política: livro 1, v. 2. Trad: Reginaldo Sant’ana. 30 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. P. 740.

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