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OPINIÃO
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Sim, não é novidade que representantes da área econômica assumam a pauta da Educação, no Brasil. Paulo Renato e Fernando Haddad são dois dos exemplos, mas não, os únicos.
E não há nenhum problema nisto. Já que Educação e Economia (e não financismo ou financeirizaçao) deveriam caminhar juntas. Um projeto de nação se faz com projeto de desenvolvimento econômico, social e educacional.
A questão é: qual é o projeto de nação e qual projeto de desenvolvimento educacional decorrem dele? Formar uma nação soberana, com produção de ciência e tecnologia? Ou conformar um país produtor de commodities e fornecedor de mão de obra barata?
E sim, há um problema adicional quando ministros vindos da Economia, ou de qualquer área - às vezes da Filosofia! - ignoram as pesquisas e práticas no terreno da Educação.
Mas, há outra verdade dura.
O atual ministro vem do campo acadêmico (UNIFESP) e reverbera teses que não são excepcionais nas universidades.
A universidade abriga conservadores entre si. Pessoas que contestam a ampliação de vagas, as cotas e inclusive - como vimos, no caso recente da eleição da UNIRIO - gente que professa que estudantes e técnicos devem ter menos voz nos processos internos da universidade. Que a voz deve ser, por excelência, a dos doutores! (A Unirio, infelizmente, não é um caso isolado).
Disto decorre o inegável sofisma da fala do atual ministro e da maioria dos integrantes do governo Bolsonaro.
Não há uma hegemonia do pensamento gramsciano na universidade.
Se consultarmos o google acadêmico, veremos que Paulo Freire é um dos autores mais citados no mundo - e não só no Brasil.
Mas, Gramsci não.
Talvez, tenha tido grande influência, nos anos 80, em áreas bem específicas.
E, como vimos, isto não produziu uma revolução.
A universidade brasileira, ainda que tenha tido alguns avanços do ponto de vista do acesso, ainda continua sendo um lugar reservado a poucos.
Nada a ver com a reforma intelectual e moral proposta por Gramsci, nos anos 30, para elevação de conhecimento de toda a população.
Nada a ver com seu postulado de que o ensino técnico deveria ser incentivado.
Nada a ver com sua utopia de formar “Leonardo da Vinci modernos” na escola básica, onde a arte, o trabalho, a técnica e a cultura fossem a base do currículo e onde “não se hipotecasse o futuro dos garotos/as”.
Isto é Gramsci.
Isto é o que queriam os Pioneiros da Escola Nova - que bebiam da matriz liberal de Dewey - nos anos 30, no Brasil.
Isto é tudo o que ainda não conseguimos fazer e que o novo governo diz refutar.
A verdade cristalina é: estão hipotecando o futuro da nação. Lamentável e cinicamente.