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OPINIÃO
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A primeira fotografia de um buraco negro, essa “região do espaço-tempo, de onde a luz não pode escapar e chegar a um observador distante”, como disse Stephen Hawking, que veio a público na última semana, pode trazer à tona discussões cósmicas interessantes, como as teorias ainda não comprovadas da exobiologia.
O interesse cósmico ultrapassava os conflitos ideológicos durante a Guerra Fria. Prova disto é a publicação de Carl Sagan em parceria com o cientista soviético Iosif Shklovskii em 1966, Vida Inteligente no Universo. Tanto os cientistas do bloco socialista quanto os do bloco capitalista acreditavam na existência de vida extraterrestre. Até os nazistas, após a queda de Hitler, tinham as suas especulações.
Contudo, havia razões diferentes. Uma possível crise energética levou tanto socialistas quanto capitalistas a pensar em uma expansão para o espaço. Entretanto, para os capitalistas a causa seriam os conflitos sociais, fome, destruição ambiental, como vemos nos filmes de ficção científica corriqueiramente. Os cientistas do bloco capitalistas reconheciam que o modo de produção sob o qual operavam era autodestrutivo.
Por outro lado, os cientistas soviéticos eram mais otimistas. A expansão pelo espaço sideral estava relacionada à capacidade humana de progredir. Iosif Shklovskii dizia que “certamente, enquanto existe capitalismo, um fim tão trágico é possível, mas não é de modo algum fatal... A sociedade futura de seres realmente racionais que será edificada sobre a base do comunismo não irá mais temer a catástrofe nuclear”.
Já o cientista e escritor soviético J. Perel'man lançava o socialismo no espaço: “tendo conquistado o Sistema Solar, a sociedade comunista dará um audacioso passo além, i.e., para as estrelas de nossa Galáxia, e então para outras galáxias; para visitar e estudar os sistemas planetários e civilizações de outros mundos de forma a reunir outras ilhas de inteligência”.[1]
Já os neonazistas acreditavam que os fugitivos nazistas da Segunda Guerra mundial foram para a Antártida onde estavam sendo desenvolvidas instalações subterrâneas secretas com experiência em óvnis. Mitos que alegavam que Hitler tinha orientações extraterrestres se espalharam e o relato de contato com óvni de Reinhold Schmidt promoveu uma especulação que disseminava a tese de que a nação alemã poderia ser uma colônia de Saturno.
Esses mitos nazistas aproveitaram o boom da ficção científica para encontrar espaço. Um delírio esotérico e sci-fi acreditava que a Segunda Guerra mundial se repetiria e com a ajuda dos extraterrestres os alemães venceriam. Esses elementos foram analisados pelo historiador Nicholas Goodrick-Clarke que sustenta que “os segredos sumérios e templários, sábios orientadores extraterrestres, pureza espiritual e a impressionante perfeição dos discos luminosos giratórios oferecem símbolos arquétipos positivos, que não apenas apagam a cruel memória do Terceiro Reich, mas sugerem que os nazistas eram um povo interessante e espiritual”.[2] Percebe-se, portanto, que a posição nazista não tinha nada de científica, era apenas uma maneira de disseminar o ódio que essa ideologia defende, muito diferente das posições científicas dos comunistas e liberais.
A exobiologia é ainda muito criticada principalmente por não haver provas da existência de vida em outros planetas. Embora existam cálculos (a Equação de Drake, por exemplo), um vasto investimento nessa área e cientistas renomados premiados com o prêmio Nobel que se dedicaram a tal questão, a exobiologia é vista como uma pseudociência. Porém cabe lembrar que a existência de buracos negros foi detratada por muitos que se perguntavam: “como alguém poderia acreditar em objetos para os quais a única evidência eram cálculos baseados na duvidosa teoria da relatividade geral?” como nos lembra Hawking.[3]
Será que um dia nos esbarraremos com outras civilizações nesse imenso espaço sideral? Talvez. Contudo, seria muito improvável que elas tivessem alguma relação com as nossas ideologias e sistemas econômicos.
[1] BARCELOS, E. D. Telegramas para Marte. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. P. 111.
[2] GOODRICK-CLARKE, N. O sol negro. São Paulo: Madras, 2004. P. 222.
[3] HAWKING, S. Uma breve história do tempo. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015. P. 121.