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OPINIÃO
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Fragmentos de um diálogo por telefone grampeado, entre um homem e uma mulher:
Ele: “... Oh, Deus, eu poderia viver dentro de tuas calças ou alguma coisa assim?”
Ela: “Você vai virar o quê, uma calcinha?”
Ele: “Ou então um tampax. Queria ter essa sorte” (se é que alguém não sabe, tampax é um absorvente íntimo, como o OB).
Ela: “... Que ideia maravilhosa”.
Bom... Podem dizer que esse não foi um diálogo “republicano”, não é? E não foi mesmo. Foi, digamos, “monárquico”: entre o príncipe Charles, da Inglaterra, e a Camilla Parker-Dowles, duquesa da Cornualha.
Pois é, o príncipe, casado com a já lendária “Lady Di”, como era chamada Diana, famosa pela beleza e elegância, tinha como amante a duquesa que Diana chamava de rottweiller. Por que o apelido? Não sei. Será por desempenho sexual? Beleza e elegância podem não ser sinônimos de bom desempenho... Quem sabe?
Mas o que eu queria dizer é que o diálogo foi grampeado, não foi divulgação espontânea dos envolvidos, diferente de “príncipes” e pai deles, daqui, que se comportam como se fossem a família imperial de uma monarquia absoluta e deslavada e falam abertamente ou tuitam coisas muito menos “republicanas” do que esse papo do príncipe. Está certo: tuitar é coisa de hoje em dia, não daquela época.
Porém, os príncipes ingleses têm as mídias sociais agora, mas não tive notícia de que tuitam impropérios, ameaças e baixarias como os “príncipes” daqui. Aliás, quem se assemelha aos tuiteiros daqui é um congênere deles, do Império do Norte: Donald Trump, modelo para esse tipo de gente.
Epa! Tá parecendo que defendo a monarquia. Nada disso. Os seus defensores dizem que na monarquia não há golpes, competições escrotas pelo poder etc. Mentira. Basta estudar um pouquinho o comportamento das nobrezas de tudo quanto é país que as tem ou teve para ter notícias de comportamentos que vão das intrigas palacianas, tramas, complôs, até assassinatos de “concorrentes”.
Para quem quiser ter uma mera noção disso, sugiro assistir na TV paga à série “Catarina, a Grande”.
Mas por que estou escrevendo isso?
Publiquei recentemente, aqui mesmo, um texto chamado “República com príncipes?”, pensando no Brasil atual, em que filhos do presidente se sentem como príncipes de uma monarquia absoluta.
Não houve muitos comentários no blog, mas recebi por e-mail algumas mensagens sobre o texto.
E depois fiquei pensando nas falas e tuitadas dos “príncipes” e seu pai no governo, com seus sonhos imperiais.
Resolvi, então, pegar umas frases ditas ou escritas por pessoas das mais variadas, sobre monarquia, reis etc. Não tem nada a ver, não é? Mas resolvi assim mesmo. São muitas, tem gente a favor, tem gente contra... mas colhi só um pouco, não me limitando às opositoras. E nem às mais “sérias”.
Começo com uma frase manjada, atribuída às vezes a Voltaire, às vezes a Diderot, mas na verdade de autoria de Jean Meslier. Lembro, porém, que é de um tempo em que a igreja católica ditava as regras do reacionarismo. Não melhorou muito, mas perde de longe para certas seitas evangélicas de hoje: “O homem só será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre”.
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Alexander Pope: “Os reis têm o direito divino de governar errado”.
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Hebe Camargo: “De coroa, já basto eu”.
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Hans Christian Andersen (grito de uma criança em “A roupa invisível do rei”): “O rei está pelado”.
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Maquiavel: “O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem à sua volta”.
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Maquiavel, de novo: “Quero ir para o inferno, não para o céu. No inferno, gozarei da companhia de papas, reis e príncipes. No céu, só terei por companhia mendigos, monges, eremitas e apóstolos.
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Maquiavel, mais uma vez: “Para conhecer o caráter do povo, é preciso ser príncipe, e para bem conhecer o príncipe, é preciso ser povo”.
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Rousseau: “Maquiavel, fingindo dar lições aos príncipes, deu grandes lições ao povo”.
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Voltaire: “Se Maquiavel tivesse tido um príncipe como discípulo, a primeira coisa que teria lhe aconselhado era escreve um livro contra o maquiavelismo”.
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Voltaire, de novo: “Os reis são para seus ministros como os cornudos são para as esposas: nunca sabem o que se passa”.
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Barão de Itararé: “Artaxerxes, rei dos Persas, nos períodos normais de sua vida, passava, às vezes, duzentos dias seguidos sem dormir. Acontece, porém, que dormia muito bem de noite”.
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Shakespeare: “Cada gota de sangue inocente derramado clama vingança contra o príncipe que o fez afiar a espada”.
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Agostinho da Silva: “Não seja servil; não tenha servos”.
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Ditado popular: “Quem foi rei, nunca perde a majestade”.
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Mark Twain: “É penoso, para uma pessoa nascida em liberdade, ouvir as humildes e sinceras declarações de lealdade para com o Rei, a Igreja e a nobreza, mais ou menos como ver um escravo amar e honrar o chicote, ou um cão amar e honrar o estranho que lhe dá um pontapé”.
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Montesquieu: “Todos os homens são bestas. Os príncipes são bestas que não estão atreladas”.
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Montesquieu, de novo: “As repúblicas acabam pelo luxo; as monarquias, pela pobreza”.
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Montesquieu, mais uma vez: “Quase todas as monarquias foram instituídas na ignorância das artes e destruídas porque as cultivaram demais”.
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Balzac: “Esse privilégio de sentir-se em casa em qualquer lugar pertence apenas aos reis, às prostitutas e aos ladrões”.
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Miguel Reale Jr.: “Monarquia absoluta, só com o rei Momo e, mesmo assim, no carnaval”.
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Platão: “Os Estados só têm chance de serem felizes se os filósofos forem reis ou se os reis passarem a ser filósofos”.
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Ludwig von Mises: “Príncipes, governantes e generais nunca são espontaneamente liberais. Tornam-se liberais quando forçados pelos cidadãos”.
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Tati Bernardi: “E chega! Há anos peço o príncipe e só me mandam o cavalo”.
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Tati Bernardi, de novo: “O grande problema do mundo de hoje é que o Príncipe Encantado também está procurando o Príncipe Encantado”.
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Lord Byron: “Ainda que tivesse que ficar só, não trocaria minha liberdade de pensar por um trono”.
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Noah Gordon: “Nunca deves esquecer que tratar com um monarca não é o mesmo que tratar com um homem comum e vulgar. (...) Um rei não é alguém como você e eu. Basta que ele faça um gesto indiferente para que alguém como nós seja condenado à morte”.
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Victor Hugo: “Onde o conhecimento está em apenas um homem, as monarquias se impõem. Onde está em um grupo de homens, deve haver lugar à aristocracia. E quando todos têm acesso às luzes do saber, então vem o tempo da democracia”.
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De Montaigne: “Os príncipes me dão muito quando não me tiram nada e me fazem bem bastante quando não fazem mal; é tudo que lhes peço”.
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Dercy Gonçalves: “Sempre ouvi dizer que Dom Pedro I era safado com as mulheres, mas não com o país”.
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Ditado popular: Palavra de rei não volta atrás.
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Marquês de Vauvenargues: “O sinal infalível de um mau reinado é o excesso de elogios dirigidos ao monarca”.
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Frederico, o Grande: “Quando um monarca deseja a guerra, começa-a muito simplesmente, quite com sua consciência, porque sempre tem qualquer homem da lei cheio de gravidade, para demonstrar por A + B que o direito estava ao seu lado”.
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Oscar Wilde: “Há três tipos de déspota: o que tiraniza o corpo: o Príncipe; o que tiraniza a alma: o Papa; o que tiraniza o corpo e a alma: o Povo”.
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Marechal Deodoro (que até às vésperas da Proclamação da República era monarquista e, na última hora, se converteu a ela, para virar presidente): “República no Brasil é coisa impossível porque será uma verdadeira desgraça. O único sustentáculo do Brasil é a monarquia; se mal com ela, pior sem ela”.
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Francisco Morazán Quesada: “Para extirpar o mal das nações é preciso destruir a monarquia”.
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Arturo Pérez-Reverte: “Para o povo espanhol, acostumado à religião e à monarquia, um título de nobreza, uma batina ou um uniforme são a única referência política em tempo de crise”.
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Antoine Rivarol: “Os reis continuarão a perder a cabeça enquanto trouxerem a coroa mais sobre os olhos do que sobre a fronte”.
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Adam Smith: “A riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não pela riqueza dos príncipes”.
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Delfim Neto: “Sai mais barato para a nação sustentar a família imperial. Esta, pelo menos, sabe-se quantos membros tem”.
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Cervantes: “Quando não sabe nada, seja ele senhor ou príncipe, deve ser incluído no número das pessoas vulgares”.
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Robert Burton: “Nada mais perigoso para os homens comuns que a flatulência dos monarcas”.
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Napoleão Bonaparte: “Sobre 100 favoritos dos reis, 95 têm sido enforcados”.
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Nietzsche: “A casta nobre foi, em sua origem, sempre a casta bárbara”.
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Mathias Aires: “A nobreza foi a maior máquina que a vaidade dos homens inventou”.
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Polibio: “A monarquia degenera em tirania, a aristocracia em oligarquia e a democracia em anarquia”.
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Edgar Quinet: “A democracia tem necessidade de justiça, enquanto a aristocracia e a monarquia podem passar sem ela”.
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Rainha Cristina da Suécia: “Se se conhecesse a fundo os deveres dos príncipes, poucos seriam os que os desejam”.
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Marquês de Maricá: “Os governos tendem à monarquia, como os corpos gravitam para o centro da Terra”.
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Harold Wilson: “A monarquia é uma indústria de mão de obra intensa”.
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Thomas Hobbes: “Uma democracia não é na realidade mais que uma aristocracia de oradores, interrompida às vezes pela monarquia passageira de um orador”.
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Luís XIV, o “Rei Sol”: “O Estado sou eu”.
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Sue Townsend (escritora inglesa): “A monarquia acabou, mas os cadáveres continuam a dançar”.
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Julian Jarrold: “Na Inglaterra as pessoas vivem fascinadas pela monarquia. Embora a monarquia não tenha poder tecnicamente, a acham fascinante, porque eles levam uma existência estranha para as pessoas normais”.
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Um dito do Millôr Fernandes que “aparentemente” não tem a ver com o tema tratado aqui: “Se os ignorantes forem suficientemente fortes acabam impondo tudo o que querem. Como os colonizadores eram sempre ignorantes e poderosos, acabavam impondo sua língua aos nativos”.
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