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OPINIÃO
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Gramsci, após a tentativa frustrada de repetir a experiência da revolução russa na Itália, dedicou seus últimos anos - parte deles no cárcere político do regime fascista de Mussolini - a entender os erros do movimento e pensar na superação histórica.
Por isto, ele é lido - e combatido - até hoje. Porque não se limitou a lamber as feridas ou reclamar da direita, porque esta exercia seu poder e disputava hegemonia.
Gramsci entendeu que, no caso da Rússia, a tomada de poder de forma insurrecional correspondia a um tipo de sociedade - que ele qualificou como do tipo oriental - em que o poder do governo estrito era quase absoluto.
Derrubar o governo era sinônimo de conquistar o poder.
Na Itália dos anos 30, ao contrário, já havia uma sociedade civil mais complexa - imprensa, partidos, organizações sindicais e empresariais - que ombreavam o poder ideológico de Estado.
Derrubar o governo era apenas uma tarefa na conquista do poder mais amplo.
Eis que, nas sociedades de tipo ocidental, era preciso empreender a guerra de posição e disputar muitos espaços de poder, além dos postos de governo, no sentido estrito.
O Brasil se aproxima da qualificação definida por Gramsci para a Itália.
E esta análise é partilhada pela esquerda aqui, há muito tempo.
Desde, especialmente, as traduções e interpretações de Carlos Nelson Coutinho.
Nos debates internos do PT estas análises eram recorrentes.
Ocorre que o governo lulista parece ter cedido à tentação de substituir a análise das forças políticas e hegemônicas pelo poder do carisma político, nos termos rebaixados do populismo sul-americano.
O Estado é tudo foi alterado por o “presidente é tudo”.
E sim, Lula e seu carisma e genialidade conseguiram muito em uma sociedade quase estamental e profundamente desigual.
Mas, se o carisma e a personalidade foram o norte, também foram a limitação.
Em quase 14 anos de governo progressista - um recorde histórico para o Brasil - com 80 por cento de popularidade, com maioria no Congresso e maioria absoluta das indicações no STF, nenhuma reforma estrutural (além da Reforma da Previdência) foi sequer proposta.
Nenhuma, absolutamente nenhuma.
Sequer a assinatura de convênio com a rede Telesur foi feita.
Quatorze anos de um governo progressista, que não sabemos se um dia irão voltar.
E não houve nem guerra de movimento, nem de posição.
Gramsci, o tão combatido pela direita, foi ignorado pelo outrora governo progressista de plantão sazonal.
A disputa foi substituída pela conciliação.
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