Vamos ter de ir para o pau? Dez questões sobre o ataque ao Porta dos Fundos e combate ao fascismo

O ataque à produtora do Porta dos Fundos me parece mais complexo do que se imaginava à primeira vista

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O ataque à produtora do Porta dos Fundos me parece mais complexo do que se imaginava à primeira vista. Por este motivo, fiz esta lista de questões que não tem por objetivo produzir respostas, mas sim de abrir novas possibilidades de perguntas para reflexões que me parecem necessárias.
  1. O ataque é um ato terrorista? Há muita gente que defende isso, incluindo o jurista Maierovitch. Eu sinceramente tenho dúvida, gostaria de ter todos os elementos da investigação para não ter de recuar depois. Se foi ataque terrorista a Lei de Antiterrorismo tem que ser usada. Mas e se depois isso virar moda e ela vier a ser usada contra qualquer manifestação ou ação de ocupação de terras como foi no caso do Rafael Braga?2)
  2. Será que a motivação de fato foi religiosa? Será que o grupo que agiu contra a produtora é integralista militante ou está usando os símbolos deste agrupamento que sempre teve viés fascista como um simulacro?3)
  3. Se grupos integralistas de fato participaram desta armação de maneira orgânica eles têm que ser colocados na ilegalidade? É necessária uma ação mais firme e dura que seja exemplar ou isso pode torná-los ainda mais fortes e interessantes para jovens que se iludem com discursos do extremismo conservador?4)
  4. Qual deveria ser o papel da Polícia Federal e das polícias do Rio de Janeiro numa investigação como essa? Se o crime vier a ser tratado como ação terrorista ele deveria ser investigado no âmbito federal? O governo Bolsonaro e Moro, que silenciou sobre o crime, tem independência para investigá-lo?5)
  5. Grupos antifascistas têm sido criados Brasil afora, inclusive vinculados às torcidas organizadas. Alguns desses grupos já discutem ações mais duras contra grupos fascistas. Isso ajudaria a silenciá-los ou pode fortalecê-los e torná-los mais violentos?6)
  6. Qual o papel das milícias e das polícias no fortalecimento de grupos fascistas violentos? Como se pode impedir essa simbiose entre milícias e polícia e ao mesmo tempo combater o fascismo? O que governos progressistas podem e deveriam fazer neste sentido?7)
  7. Num primeiro momento havia uma desconfiança generalizada de que o ataque poderia ter vinculação com grupos evangélicos. Sendo um ataque de integralistas, a possibilidade é que eles sejam católicos extremistas. Se isso vier a se confirmar como a Igreja Católica deve ser cobrada? Ou vai se fazer de conta que ela não tem qualquer responsabilidade em abrigar grupos extremistas?8)
  8. Pessoas têm sofrido ameaças semelhantes às que acabaram sendo concretizadas no Porta dos Fundos. Uma delas é a blogueira Lola Aronovich, que novamente recebeu graves ameaças. Como os governos e a sociedade civil podem proteger essas lideranças de ataques?9)
  9. Um deputado federal policial comemorou o ataque ao Porta dos Fundos. Ou seja, ele comemorou um crime. Ser permissivo com este tipo de declaração e não puni-lo no parlamento é melhor ou pior para a democracia? 10)
  10. Por fim, por que chegamos neste ponto? Onde erramos? O que deixamos de fazer nas últimas décadas e que encorajou este comportamento violento? Como podemos enfrentar este monstro do fascismo sem usar os mesmos métodos dele? Isso é possível? Ou a saída passa por ter de enfrentá-lo usando os seus métodos?