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OPINIÃO
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A chacina praticada pela Polícia Militar em Paraisópolis, que vitimou nove jovens e deixou outra dezena de feridos, seria “legal”, caso estivesse valendo o princípio do excludente de ilicitude previsto na primeira versão do pacote supostamente anticrime do ministro Sérgio Moro. Os policiais poderiam alegar estar sob violenta pressão e emoção para justificar estas mortes.
Interessante as argumentações dos defensores desta chacina. Criminalizam o funk, dizendo que a música faz apologia ao sexo. Mas o funk é tocado em muitas festas de adolescentes e jovens de classe média e não se vê a Polícia Militar entrando lá e arrebentando tudo. O sexo de forma quase explícita também está presente em vários outros tipos musicais – lembro a música “Depois das Dez” interpretada por Simone em que a cantora, no show, simula uma masturbação entre almofadas. Não me lembro da Polícia Militar invadindo os shows de Simone e botando para quebrar.
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Fala que os fluxos de funk perturbam o silêncio. Pergunto se a PM também entra reprimindo cultos religiosos que ocorrem as madrugadas com som altíssimo. Ou mesmo as baladas ou raves que acontecem em bairros de classe média, inclusive nas ruas.
E as drogas que rolam no funk? Pergunto se isso não acontece também nas baladas e raves da classe média, em festas universitárias... Não me recordo de ações policiais desse tipo.
O que diferencia, de fato, é que a cara dos que fazem os fluxos do funk é preta ou quase preta de tão pobre e que o território é a periferia.
Em outras palavras, são as senzalas modernas que no olhar dominante servem apenas para executar os serviços a preços de banana. Lazer, nem pensar.
Para garantir que isso se normalize, a polícia age – reprimindo, ferindo, matando. E Moro, Bolsonaro, Doria, Witzel querem simplesmente legalizar tudo isso com o tal “excludente de ilicitude”. É a legalização do “mirar na cabecinha e atirar”. Porque para essa turma, os meninos e meninas de Paraisópolis e de todas as favelas e periferias brasileiras não merecem ser jovens. E as lágrimas das mães e pais não têm valor. Sequer o direito de se despedir é garantido, como foi o caso da mãe do menino Lucas, que pôde ficar só 15 minutos no enterro do seu filho e ainda algemada.
A democracia não chegou na periferia – e essa turma quer impedir a qualquer custo que ela chegue.