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OPINIÃO
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Após derrotas significativas nas eleições para o parlamento europeu e nos pleitos locais em 2019, os partidos britânicos tradicionais, em especial o Conservador, foram castigados pelo eleitorado. A grandiosa indefinição política e a insegurança jurídica geradas pelo Brexit despertaram um sentimento de instabilidade não visto no país havia longo tempo.
Desde então, vimos a primeira-ministra britânica, Theresa May, perder seu cargo para Boris Johnson, depois de uma votação interna de seu partido que o conduziu como líder da agremiação e do governo. A partir desse momento, a já tumultuada política do Reino Unido da Grã-Bretanha, tornou-se ainda mais complicada sob liderança do ex-prefeito de Londres, associado por muitos como um populista radical e até com Donald Trump, que defendia uma saída sem-acordo do bloco.
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No governo desde 2010, os Conservadores perderam o apoio dos Liberais Democratas em 2015, após o anúncio do referendo sobre o Brexit, que aconteceu em junho de 2016; derrubou David Cameron e promoveu à liderança do partido e do país setores com discursos mais à direita. Desde então, os partidos tradicionais (Conservador e Trabalhista, que se revezam no governo desde 1922) promoveram uma divisão profunda na população, que ficou clara nas urnas.
Apesar de se manter como primeira força política do país, o Partido Conservador foi perdedor nas eleições europeias e locais em 2019, diminuindo sua vantagem histórica sobre outras agremiações. Neste caso, perderam votos para todos os lados, à direita, para Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) - agora Partido do Brexit; mas, também para o campo liberal, em especial para setores que defendiam a permanência do país na UE.
Por sua vez, o Trabalhista, segundo maior partido britânico, do líder oposicionista Jeremy Corbin, recebeu uma mensagem diferente, porém também amarga. Apesar de não ter tido um resultado tão ruim em termos totais e/ou em comparação nas eleições europeias e na eleição local 2019 - se confrontado com os conservadores -, o partido também não foi capaz de voltar ao governo.
Com uma posição ambígua e dividida sobre o Brexit, o partido perdeu aparentemente eleitores mais nacionalistas, assim como os mais abertos a temas como imigração, livre-comércio e globalização. Apesar da guinada à esquerda do líder que questiona a chamada terceira via da Era Blair e clama por restabelecimento de setores estratégicos do Estado de Bem-Estar Social, o sucesso ainda não mostrou a cara.
Nesse sentido, os pequenos partidos, com exceção do UKIP nas eleições europeias, roubaram votos do desgastado status quo, mas não chegam a ameaçar a hegemonia do bipartidarismo britânico. Segundo várias pesquisas de opiniões registradas na última semana, o Partido Liberal Democrata (terceira força política no país) deve conquistar de 11 a 15% dos 650 assentos da Câmara dos Deputados em disputa.
Os conservadores aparecem como favoritos e devem seguir sendo a primeira força no parlamento, atingindo entre 41 a 46% dos votos, possibilitando a formação de uma maioria. Já os trabalhistas, podem conquistar entre 30 e 36% dos votos, segundo média de mais de dez pesquisas feitas esta semana, o que tornaria improvável uma formação de governo mais à esquerda ou de centro-esquerda.
Com os termos do Brexit assumidos pelo parlamento, o chamado no deal (saída sem acordo da UE) não assusta tanto. Com uma extensão até janeiro de 2020 para o acordo, a novela do Brexit parece irreversível, bem como um novo referendo improvável. Um acordo de livre-comércio entre os britânicos e a EU, aos moldes da Noruega, é a tendência. Os reflexos desse período para os britânicos ainda são incertos. Problemas como crescimento da pobreza, desmonte do Estado de Bem-Estar Social, sentimento anti-imigração e fuga de capitais seguirão preocupando a todos.