Entrevista de Bolsonaro derruba em 20% a audiência do Domingo Espetacular da Record

A queda na audiência no Domingo Espetacular com a entrevista exclusiva do presidente da República não é algo isolado nesta decisão da Record de se tornar uma TV chapa branca. Depois que o jornalismo da emissora se bolsonarizou, a audiência também vem caindo.

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O Domingo Espetacular da Record trouxe na edição de ontem (3/11) uma entrevista exclusiva com o presidente da República Jair Bolsonaro. Foram 13 minutos de conversa gravada com o repórter Thiago Nolasco. Uma entrevista com um presidente da República, seja ele quem for, é sempre um momento especial para um veículo, especialmente quando se trata de uma exclusiva. E também costuma levantar a audiência da emissora. Mas dessa vez não foi o que ocorreu. Quando a matéria começou, aproximadamente às 21h40, o programa estava com 10,5% no Ibope. A audiência foi caindo sem parar nos minutos que se seguiram e terminou com 8,5%. No mesmo horário, o Fantástico da Rede Globo apresentava o terceiro episódio da série "Meu filho nunca faria isso", que abordou o bullying. Essa atração estava com 20,5% quando a entrevista de Bolsonaro teve início na Record e chegou a 22,5% no momento em que ela acabou. Ou seja, enquanto Bolsonaro atacava a Globo na Record e pedia 15 minutos ao vivo para falar na TV dos Marinhos, a Globo herdava os pontos perdidos pela concorrente. Algo para lá de surpreendente. A queda na audiência no Domingo Espetacular com a entrevista exclusiva do presidente da República não é algo isolado nesta decisão da Record de se tornar uma TV chapa branca. Depois que o jornalismo da emissora se bolsonarizou, a audiência também vem caindo. Artigo recente na Folha de S. Paulo mostra que houve queda de 18% da audiência no mês de outubro deste ano comparado com o mesmo período do ano passado. Faz cinco meses que o SBT mantém-se em segundo lugar na audiência geral do país, mesmo tendo uma receita bem inferior que a da Record. Do ponto de vista político, a queda de audiência num programa assistido por um público simpático ao presidente também chama a atenção. Bolsonaro pode ter saturado inclusive a sua base com a estratégia de guerra permanente. Uma queda de aproximadamente 20% na audiência de um programa em apenas 13 minutos não é algo normal. Se a entrevista de Bolsonaro fosse um quadro fixo do programa, os editores já estariam pensando em algo para substitui-lo.