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OPINIÃO
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Eu cobro, você cobra, o Ciro cobra e todo mundo fica insistentemente falando sobre aquilo que já virou uma piada e uma lenda dentro da esquerda brasileira: A autocrítica do PT.
Se você faz parte da galera que cobra aos quatro cantos essa postura do Partido dos Trabalhadores (PT), devo lhe alertar que você chegou tarde. Ela já aconteceu e foi em maio de 2016, quando eles publicaram uma resolução em que reconhece parte dos seus erros, inclusive os mais gritantes como a conciliação de classes e a política econômica atrapalhada do governo Dilma. Critica se pontuou e discorreu até mesmo sobre terem se esquecido dos perigos do imperialismo. E fala lá em 2016 sobre o que hoje se tornou uma epidemia no país que é superexploração da força de trabalho.
Dez anos antes, o PT também fez uma autocrítica semelhante quando realizou no texto de conjuntura, tática e política de alianças que foi debatido no 13º Encontro Nacional do partido em 2006.
Neste texto, a famigerada autocrítica foi até mais contundente e foi além dos conhecidos erros no campo ético do financiamento partidário. Nele também abordaram a incapacidade do PT para construir uma hegemonia política e a timidez na criação de mecanismos democráticos de participação e controle popular sobre as grandes instituições nacionais. Em especial na política de comunicação.
A conclusão geral é que o terreno principal do enfrentamento à contra-ofensiva conservadora precisa mudar das CPIs para as ruas, do Congresso para a campanha eleitoral. Isso em 2006! 13 anos antes dos horrores que vivemos hoje pelas mãos do governo inapto de Seu Jair.
Infelizmente ambas as autocríticas passaram despercebidas por 3 fatores que perduram até hoje:
Primeiro: A direita e a mídia esperavam (e esperam) uma confissão, uma delação premiada e que o partido diga que “sim, Lula merece estar preso”.
Segundo: A esquerda espera que o PT aponte um sucesso, algo do tipo: “somos ruins demais e aqueles ali são melhores que nós”. Já os mais emocionados esperam que o PT troque a estrela pela foice e pelo martelo (deveriam, mas nunca vai rolar).
E terceiro: E talvez o mais importante dos motivos. O próprio PT ignorou e engavetou as duas resoluções e permaneceu reconduzindo lideranças aburguesadas para a direção do partido. Na prática o distanciamento dos diretórios com a sociedade permaneceu. Vejam só, este não é um debate de apenas 3 ou 4 anos, mas sim de mais de 10 anos!
O documento de 2016 ainda defendia que, diante do afastamento de Dilma, a sigla deveria desenvolver uma campanha “de todos os tipos de ação massiva e combate parlamentar para inviabilizar” as medidas “impopulares” do governo do presidente em exercício, Michel Temer, de modo a “denunciar seu caráter ilegal e impedir sua consolidação no comando”. O que todos nós sabemos que não ocorreu e que Dilma até mesmo foi abandonada pelo partido durante todo o processo. Não por menos hoje sua imagem é bem dissociada do partido.
Outro fato que contribuiu para o esquecimento do documento de 2016 foi a ausência de Lula na primeira reunião do diretório após impeachment e que debateu a autocrítica.
A autocrítica existiu, porém todos se esqueceram, até o PT.