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OPINIÃO
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Quem passou pelas ruas do Rio de Janeiro nos últimos dias viu a grande comoção popular em relação à final da Libertadores da América. O Flamengo disputará a decisão com o time argentino, River Plate. Na mídia e nas redes sociais não se fala de outro assunto, de modo que a comoção atinge várias regiões do país. Mas como o Flamengo se tornou o time mais popular do Brasil?
O historiador Renato Soares Coutinho explica em seu livro, Um Flamengo grande, um Brasil maior: o Clube de Regatas do Flamengo e a construção do imaginário político nacionalista popular (1933-1955), as origens da popularidade do rubro-negro. Contesta duas explicações comuns. A primeira é a que afirma que craques como Zico e Júnior são a razão para tal sucesso, pois eram os maiores jogadores na época do boom das transmissões televisivas.
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Sem dúvida, foi o momento das maiores conquistas do time carioca, ganhando os principais campeonatos entre 1978 e 1983. Mas as vitórias em campo não podem explicar o sucesso porque o Santos, de Pelé, conseguiu angariar títulos em um período maior de tempo, isto é, ao longo dos anos 1960 e 1970.
Outra questão que contradiz essa tese é o fato de o Flamengo ser o time mais popular antes mesmo da era Zico. Durante os anos de 1960, o time já atingia o maior número de público nas arquibancadas. E já nos anos 1940 e 1950, as excursões do Flamengo pelo território nacional já mobilizavam milhões de torcedores.
“Muitos atribuem o crescimento da torcida aos tempos do amadorismo, quando o Flamengo não tinha estádio e treinava na rua, fato que despertava a atenção dos garotos que ajudavam a buscar as bolas que saíam do campo”. Mas para Coutinho essa hipótese também é falha porque o Flamengo, como a maior parte dos outros times de futebol, não era popular, pelo contrário, compartilhava dos valores elitistas cariocas.
A pretensão popular, de acordo com o historiador, só veio na década de 1930, quando surge um projeto de Estado nacionalista. A cultura popular passa a ser valorizada. A capoeira, os blocos carnavalescos, o samba etc., passam a ser símbolos da nação. “Estado e trabalhador haviam encontrado um vocabulário adequado para o reconhecimento mútuo: o nacionalismo”, destaca Coutinho.
“O Flamengo foi o primeiro clube de futebol no Brasil que se apropriou do bem-sucedido discurso nacionalista estatal”, mostra o historiador. Tudo foi feito por meio de campanhas de marketing e ações sociais. Foi justamente no momento em que o futebol se profissionalizou que o Flamengo começou a investir em sua imagem popular se aproveitando do discurso político da época.
Através da análise de intelectuais como Mario Filho, José Lins do Rêgo e Ari Barroso, o clube se expõe constantemente nos veículos de comunicação. Além disso, a grande invenção do Fluminense como um time da elite, fortaleceu a imagem do Flamengo como um time popular, compondo o imaginário social da classe trabalhadora.
Portanto, cabe lembrar que o Flamengo hoje é o time mais querido do Brasil porque seus diretores do passado - destaque para José Bastos Padilha - souberem aproveitar uma situação política investindo num tipo de discurso para servir de marketing. Hoje, o discurso de nação está mais presente nos torcedores do Mengão que nos habitantes do país como um todo.