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OPINIÃO
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Em primeiro lugar, preciso explicar de que lugar eu falo. Falo do lugar acadêmico, de alguém que se dedicou bastante, anos, a estudar um objeto. No meu caso, o neonazismo. Eu estudei o nazismo, o neonazismo, os movimentos nacionalistas voltados à supremacia branca. Estudar um objeto exige fazer recortes. Não estudar uma série de coisas. Mas, também no caso de meu objeto, estudar muita coisa. Porque o nazismo é uma coisa imensa: tem aspectos na arte, na filosofia, na história, na antropologia.
Quem conhece de fato minha pesquisa se impressiona com o tanto que eu li sobre o tema que eu abordo. Mas, um tema assim exige profundidade: então, eu tinha que ver filmes e ler livros e pesquisar biografias, ver processos judiciais e entrevistar pessoas, e eu fiz tudo isso. São 18 anos da minha vida dedicados ao tema, é muita coisa.
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Como eu parei nisso? Em 2002, um professor da Unicamp resolveu oferecer uma matéria que discutia Identidades, no caso a trajetória da Identidade Judia e da Identidade Gay, e o idealismo e romantismo alemão. Eu não sou judia, nem gay. Mas, eu me interesso por temas relacionados a Direitos Humanos desde pequena.
Então, fui fazer a matéria. Na matéria, pude ler o livro “A escrita ou a Vida”, e o livro parecia me socar no estômago a cada parágrafo. Fiz uma resenha do livro. Foi super elogiada. E aí ouvi, na matéria, uma denúncia sobre o negacionismo do Holocausto.
Ainda no Altavista, o grande buscador da época, eu achei um site no kit.net sobre revisão Histórica. Na capa, havia quatro jovens formando uma suástica com o corpo para uma bandeira do NS, e uma frase atribuída a Hitler: “Ao amanhecer teremos o Estado Nacional Socialista ou nossos cadáveres”.
Eu não conseguia acreditar naquilo. No Brasil? Nacional-Socialismo? Num primeiro momento, achei, como todo mundo pensa, que era coisa de adolescente, depois vendo o tanto de traduções que havia no site e a rede no qual ele se inseria fui mudando de opinião. Percebi que estava diante de algo medonho, assustador, mas que tinha que ser estudado.
Eu li todos os livros de Primo Levi na semana seguinte. E fiz meu trabalho de fim da matéria sobre a obra de Primo Levi e. Sugeriram que eu pesquisasse o que tinha descoberto, a imensa rede de sites, fóruns, blogs nacional-socialistas, em três línguas, português, inglês e espanhol. E virou minha monografia de fim de curso. Depois virou Mestrado e Doutorado. São 18 anos estudando o tema. E por isso resolvi explicar algumas coisas sobre eles.
É preciso compreender de que se trata de uma pesquisa acadêmica, portanto li historiadores, cientistas sociais, filósofos, entre outros tipos de pensadores. Há gente que comenta, absurdamente me perguntando sobre coisas que não tem nada a ver com a pesquisa (de início da humanidade ao Renascimento, da Revolução Industrial ao Governo do Paquistão...). Eu tenho conhecimento razoável de História, noções gerais de Economia, Epistemologia pela formação excelente do Curso de Ciências Sociais da Unicamp. Mas, a PESQUISA, eu fiz sobre neonazismo.
Quando as pessoas fazem determinadas observações apenas demonstram o quanto o Brasil está distante de uma sociedade que valorize a pesquisa científica, porque a grande maioria dos comentários são sobre o que não tem nada a ver com a pesquisa, revelando o desconhecimento sobre como se faz pesquisa. E sim, eu adoro metodologia.
Em segundo lugar, queria dizer que fiz um esforço imenso para compreender o movimento. Nunca para justificá-lo. Sempre denunciei o que era passível de denúncia (links, sites, usuários, discursos de ódio). Mas, eu precisava entender o que se passava na mente daquelas pessoas, e para isso eu tinha que “levar a sério” o que elas acreditavam, ainda que para mim, a supremacia racial seja um completo absurdo.
Isso é parte do processo de pesquisa: levar a sério o que seus informantes dizem. No meu caso era muito sofrido, porque me fazia muito mal. Eu vomitei muitas vezes, chorei várias outras, sentia raiva, desespero. Afinal, eu lido cotidianamente com gente que odeia. Então, eu tentei viver, fora da pesquisa, o mais saudável possível, com amigos me apoiando sempre. A Revista Fórum sempre foi um grande apoio, assim como a Comunidade Judaica, mesmo eu não sendo judia.
Por fim, eu sempre entendi que o neonazismo deve ser desmentido e combatido. Através de uma educação voltada à empatia. Mais para frente falamos nisso. Para falar nesse tema tão importante, eu vou dividir em pontos, e sugerir leituras e filmes para aprofundar as questões discutidas (fiz um empenho em escolher o que acho melhor sobre cada ponto).
Primeiro ponto.
- O Brasil está se nazificando? O que é nazificar-se? Como surgiu o nazismo?