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OPINIÃO
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A decisão do ministro Dias Toffoli pode ser vista como uma página de realismo fantástico. Ele autorizou Lula a ir ao velório do irmão, desde que o corpo fosse levado a uma unidade militar. Poderíamos imaginar algum sargento exigindo a identificação do cadáver pra autorizar a entrada do caixão...
A decisão, no entanto, saiu quando o corpo já fora baixado à sepultura no ABC paulista. Podemos imaginar então um tenente do bravo Exército nacional exigindo que o corpo de Vavá fosse desenterrado e levado até o quartel. Cumpra-se! Selva! Brasil acima de todos os corpos e caixões!
O episódio ajudará a contar, em futuro próximo, a história abjeta de perseguição ao ex-presidente. Lula estará nos livros como grande líder popular. Seus algozes serão nota de rodapé.
Atentemos, no entanto, para um detalhe (minúsculo, diante de tantas derrotas para os que defendem Lula): a decisão de Toffoli crava na testa da juíza carcereira de Curitiba e da PF (lembremos que os lavajateiros, perversos, haviam negado autorização para Lula ir ao enterro) que eles agem em desacordo com a Constituição e perseguem Lula.
Fica esse carimbo: abuso de autoridade e perseguição... sob comando do Moro.
Claro que, ao remeter para a PF opinar sobre a autorização, numa atitude inusual e abjeta, a juiza carcereira de Curitiba sabia que na verdade era Moro - chefe da PF - quem opinaria. Moro é o algoz e carcereiro indireto.
Toffoli cravou esse carimbo na testa dos lavajateiros: abusaram de autoridade. Usaram togas e prerrogativas policiais para fazer política.
Toffoli procurou se diferenciar dos carcereiros, decidindo de forma caricata por um velório em quartel militar. Seria simbólico!
E há outro ponto a ressaltar: Mourão, um vice com apetite de poder, já havia dito que Lula teria direito sim de ir ao enterro. Toffoli, parece claro, agiu em acordo com a facção militar do governo.
Há, portanto, nuances entre o regime Moro/Bolsonaro e a facção militar. Essa última parece menos propensa a aventuras que gerem um quadro de completa anarquia institucional.
O regime Moro/Bolsonaro é um capitulo do avanço conservador. Pode ser descartado em breve pela facção militar. Essa disputa já se trava. E Lula é um troféu em disputa.
Toffoli, amparado por Mourão e os militares, passa aos lavajateiros e Moro o recado: "não avancem tantos sinais, nisso não estaremos juntos".
E, mais que isso, Toffoli oferece ao mundo (e aos simpatizantes de Bolsonaro menos tresloucados) uma decisão didática a demonstrar o grau de perseguição a que Lula esta submetido.
É uma pequena vitoria em meio a tantas derrotas para o campo lulista.
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