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OPINIÃO
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Jean, meu querido. Posso te chamar de amigo, né? Poucas vezes estivemos juntos pessoalmente, mas em muitas outras trocamos mensagens e até confidências por aplicativos. Você sempre tão sincero e transparente. Tão afável e tão parceiro.
Há alguns dias te enviei uma nota sobre o processo que estamos sofrendo de Bolsonaro e seu "garoto" Dudão e, mal tive tempo de piscar, já estava lá no teu perfil, com o seu toque pessoal inconfundível, um texto de solidariedade.
Aliás, solidariedade me parece um pouco sinônimo de Jean Wyllys. Uma solidariedade profunda te move contra as injustiças. Uma solidariedade que sofre, que carrega a dor dos outros no peito, como se sua fosse.
Por isso te atacam tanto. Porque você não é daqueles que agem a favor ou contra algo. Você se transforma neste algo de tanta solidariedade.
Foi isso que te levou a ser tão intensamente Lula Livre. Que te fez sofrer tanto com os algozes de Dilma e a dar uma cusparada na fuça do capitão da turma. É isso que te fez sangrar em cada violência contra a comunidade LGBT.
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Você não tem que explicar nada sobre a sua decisão de não assumir um novo mandato. Mas, se tem uma coisa que tenho certeza é que o teu medo te dignifica ainda mais.
O medo não é covarde. O medo é um sentimento racional. Só quando passamos a ter medo é que o sentido lógico passa a nos habitar.
Lá pelos dois, três anos o bebê começa a ter medo de algumas coisas. E ali começa a conhecer melhor o mundo.
Se perdermos o medo, muito de nossa humanidade se vai junto.
Minha solidariedade tem medo como e com você. E por isso vejo imensa dignidade e coragem no teu gesto.
Tua decisão é um risco no chão. Transforma todas as violências à democracia que estamos naturalizando naquilo que realmente são, barbárie.
Como podemos viver tantas agressões e ir tocando o barco? Será que não devíamos ter feito gestos como o teu antes de deixar as coisas chegarem ao ponto que estão? Será que continuar jogando o jogo como se nele houvesse regras não nos transforma um pouco em sócios da farsa?
Não respondo, pergunto. Sei que há muitos tons de cinza e que em cada um a luta e a resistência escolhe um caminho. Mas por isso mesmo o teu me parece tão importante.
Você está abrindo uma nova porta. Sua entrevista renúncia estabelece uma reflexão profunda para muitos de nós.
Eu a li algumas vezes e suas palavras me caíram como bomba. Até onde eu puder estarei contigo.
E te plagiando, amigo, quero repetir aqui o que você escreveu ao Lula. "Eu te amo, mesmo, atravessaremos este tempo ruim...".
Te cuida, mermão. Porque sua força viva é muito importante pra nós. E se precisar de algo, já sabe, tens um cabra aqui que tem medo tanto quanto você.
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