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OPINIÃO
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Em postagem anterior, quando esse Cinegnose analisou anomalias semióticas no lançamento da logomarca do então “novo” Governo Temer, observávamos que a marca visual revelava atos falhos: verdadeiras intenções por trás de uma propaganda política que pretendia expressar progresso, avanço e retomada do desenvolvimento econômico – clique aqui.
Os “atos falhos” da comunicação visual criada pelo marqueteiro Elsinho Mouco revelavam diversos retrocessos: o desaparecimento da cor verde - predomínio do azul, masculino, e o contraste com o branco, conotando “inteligência”, “racionalidade”, “concentração”, contrastando com a “emotividade”, segundo a Psicologia das Cores; e o estilo geométrico com um sólido geométrico levitando sobre letras com superfície em extrusão – alusão direta ao estilo retro-futurista da velha marca da Globo dos tempos de Hans Donner, que a própria emissora abandonou.
Enfim, uma marca que nascia velha. Tentava esconder os retrocessos, mas revelava involuntariamente o contrário. Digamos que a logomarca do Governo Temer era um caso exemplar de ideologia como falsa consciência.
Muito diferente é a nova logomarca do Governo Jair Bolsonaro: não há “atos falhos” ou qualquer exercício de retórica visual para tentar esconder intenções. A comunicação é direta e sem floreios: replica a polarização que a velha propaganda da ditadura militar nos anos 1970 criou no tom de “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
Se ainda no tom retro-futurista de Temer ainda tinha uma intenção (frustrada) teleológica ao simbolizar progresso ou ansiar por algum tipo de futuro, nessa logomarca de 2019 é nostálgico e explícito: meia volta e volver aos tempos das ditaduras militares.
Retorna a velha dominante verde e amarela recorrente de todas as marcas de governos anteriores, mas dessa vez com uma sugestão de movimento e narrativa: a associação da bandeira do Brasil como um sol nascente sobre as terras verdes brasileiras.
Mas, muito mais do que isso: a marca visual do governo do capitão da reserva comprova a linha de continuidade entre a campanha eleitoral e o dia-a-dia do Governo – diferente das logomarcas anteriores que simbolicamente demarcaram o início dos trabalhos do Poder Executivo, a marca atual revela que a retórica alt-right da campanha de 2018 continuará como tática cotidiana dos próximos anos.
Afinal, esse é o único discurso possível de Bolsonaro, já que ele próprio admite que nada entende sobre economia ou qualquer outro tema das pastas ministeriais.
Primeira leitura: o ufanismo
O olhar inicial da marca visual denota o claro tom ufanista. O vídeo no qual a nova marca foi divulgada (claro, na Internet...) diz que o povo brasileiro foi às urnas para “escolher” e “resgatar um novo País”. "Em 2018, não fomos às urnas apenas para escolher um novo presidente. Fomos às urnas para escolher um novo Brasil, sem corrupção, sem impunidade, sem doutrinação nas escolas e sem a erotização de nossas crianças. Fomos às urnas para resgatar o Brasil", diz o vídeo divulgado pelos perfis das redes sociais do presidente.
Se desde Collor de Mello (o primeiro presidente eleito após a redemocratização do País), as marcas sempre tiveram um tom executivo ou programático (“trabalhando em todo o Brasil”, FHC; “Governo do Brasil”, Collor; “Pátria Educadora”, “País de Todos”, “País Rico é País sem Pobreza”, governos petistas), dessa vez o ufanismo da propaganda política clássica domina esse primeiro nível de leitura semiótica.
Nesse primeiro nível de leitura, tudo parece ser uma clássica propaganda política apelando para Nacionalismo, Pátria, Nação etc. Mas a narrativa sugerida pela imagem estilizada (o Sol que nasce sobre terra verdes) vai mais além: do tom ufanista para o messianismo.
Segunda leitura: retorica visual e narrativa
Se no primeiro nível descobrimos que há uma narrativa messiânica para além do ufanismo, no segundo nível descobrimos que há uma retórica que satura essa narrativa: a bandeira nacional estilizada como o Sol que nasce ocupa grande parte do espaço visual. A bandeira nacional chega a ser o próprio céu, sobre o solo verde que ocupa o menor espaço.
Portanto, está acima do nível dos olhos, criando o efeito contra-plongée – isto é, a bandeira vista de baixo para cima. A criação da mitologia da superioridade, idealismo, ou seja, a princípio o velho macete da propaganda política nazi ou de contra-propaganda norte-americana na Segunda Guerra Mundial que até hoje está presente nos pôsteres promocionais de filmes românticos ou de aventura hollywoodianos.
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