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OPINIÃO
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Por Lucas Bastos Marcondes Machado*
Todos nós temos certas expectativas sobre serviços e cuidados de saúde. As expectativas são construídas por nossa experiência pessoal, pelo que nos falam parentes, amigos e pessoas próximas, pelo que é noticiado na mídia e visto em filmes e seriados.
Uma pessoa que já operou o joelho sabe como foi sua recuperação, já sabe um pouco o que esperar caso tenha de operar novamente: sabe sobre a imobilização logo após a cirurgia, o inchaço e dor após o procedimento, conhece as semanas de fisioterapia até retomar suas atividades habituais.
Nossas expectativas sobre os benefícios e malefícios de testes e tratamentos podem contribuir para o jeito que usamos os serviços de saúde, e podem contribuir para o uso excessivo de serviços. A expectativa de que os médicos vão tomar alguma atitude ativa, e o excesso de confiança nos exames também são contribuidores da epidemia de sobrediagnóstico.
Vamos pegar um exemplo simples: quanto tempo dura a tosse de um resfriado? No começo de um resfriado podemos ter febre, ficamos com coriza, o nariz entupido. Podemos ter dor de garganta e tosse. Mas alguns dias após o resfriado, já sem febre, sem secreção nasal… continua a tosse! Quando devemos nos preocupar e quanto podemos esperar esta tosse passar?
Em uma pesquisa por telefone no Canadá, a maioria das pessoas estimou a duração da tosse entre 6.5 e 9.2 dias. Porém, a duração dos episódios de tosse em estudos é de quase 18 dias! Algumas pessoas tiveram episódios ainda mais longos de tosse, sem nenhuma doença grave envolvida. A incompatibilidade entre a expectativa de duração da tosse (perto de uma semana) e a duração real (mais de duas semanas, às vezes três) pode gerar ansiedade, preocupação, consultas médicas, exames e prescrição de antibióticos.
Os próprios médicos não se saem muito melhor. Foi visto que a maioria subestima os males causados por remédios e cirurgias, enquanto superestima seus benefícios. Isso tem diversas explicações: dificuldade de se manter atualizado, os estudos são espalhados em dezenas de jornais o que dificulta achar a informação, problemas dos próprios estudos que reportam pouco os efeitos colaterais e algo chamado de ilusão terapêutica - um entusiasmo com o tratamento sem justificativa clara tanto pela parte do médico quanto do paciente.
- Mais de 95% das pessoas com câncer de próstata localizado vivem mais de 10 anos após o diagnóstico, quase 98% não morrem por conta de câncer, porém apenas 25% dos pacientes esperavam viver mais de 10 anos. A cirurgia não muda a sobrevida em comparação com observação ativa.
- 62% das pessoas subestimam o risco de câncer causado por radiação de tomografias.
- efeito das medicações para osteoporose é superestimado por 82% das pessoas! 69% superestimam o benefício dos remédios para colesterol.