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OPINIÃO
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“Quando vocês tiverem dúvidas quanto a que posição tomar diante de qualquer situação, atentem: se a Rede Globo for a favor somos contra. Se for contra, somos a favor”
(Leonel Brizola)
“Leva-lo a dividir suas tropas, e será mais fácil dominá-los”
(Sun Tzu)
Durante os anos de guerra midiática que culminaram no impeachment de 2016, a Rede Globo deu visibilidade a pequenos escroques, acadêmicos e intelectuais obscuros, músicos que fizeram sucesso no passado e foram esquecidos, ex-anônimos que confundiam militância profissional com fundamentalismo religioso e oportunistas de toda sorte para engrossar o caldo de oposição ao Governo.
Como, por exemplo, um manifestante pró-impeachment que organizava acampamentos em frente à Fiesp na Avenida Paulista que vivia de recrutar mulheres para feiras e acusado de estelionato e de assédio sexual a modelos; ou o procurador do Ministério Público Federal, de controversa militância religiosa, acusado de agredir a esposa e mantê-la em cárcere privado – clique aqui.
Esses, e muitos outros, exemplares do Brasil Profundo costumavam ganhar visibilidade no dia-a-dia dos telejornais da emissora para atiçar ainda mais a extrema-direita a embarcar na cavalgada do Golpe.
Enquanto isso, crescentes atentados racistas e homofóbicos na ruas de São Paulo eram reportados de forma anódina pelo telejornalismo. Apenas como notícias da pauta policial. Como fossem eventos análogos a acidentes de carros ou roubos de celulares a mão armada.
Meros casos isolados, já que para a linha editorial da Globo, comandada pelo diretor de Jornalismo Ali Kamel e autor do livro “Não Somos Racistas”, as críticas contra o racismo não passavam de manobra da esquerda e do lulopetismo para “construir uma separação entre cores que nunca existiu, de fato, no Brasil”.
Talvez, o ponto de inflexão tenha sido em 2015 quando a ascensão profissional da jornalista negra Maria Júlia Coutinho (a “Maju”) na emissora despertou o ódio de grupos racistas nas redes sociais – clique aqui.
Naquele momento o roteiro para o impeachment já estava traçado e a massa de manobra nas ruas já organizada. A Globo teve que, então, tirar o pé do acelerador e iniciar o trabalho de rescaldo pós-golpe: uma política de “controle de danos” para tentar tirar das mãos a lama psíquica que teve que remexer por anos para dar o tranco subliminar nas massas e tornar o golpe político verossímil. E salvar a credibilidade comercial e jornalística da emissora.
[caption id="attachment_136814" align="aligncenter" width="600"] Caso Maju: o ponto de inflexão da Globo[/caption]
Diante do sentimento de traição, a direita começou a acusá-la de “petista” quando viu perplexa a Globo colocar em ação um rolo compressor do politicamente correto na programação da emissora: a agenda da igualdade racial e de gênero, cidadania, tolerância etc. tomou conta não só do Jornalismo, mas também dos programas de entretenimento e teledramaturgia.
Os movimentos identitários e culturais (movimentos de gênero, afro-brasileiro, indígena, movimentos de jovens e idosos) passaram a merecer o apoio do jornalismo da Organização Globo, numa escalada até subliminar – não importa sobre do que se trata a pauta: repórteres nas ruas fazem enquetes procurando preferencialmente mulheres, negros e jovens (tanto melhor se o entrevistado reunir essas três características). Enquanto isso, o veterano William Waack era demitido por ser pego fazendo galhofas racistas diante das câmeras e o jornalista negro Heraldo Pereira ganhava protagonismo com o programa “Jornal da Dez” na Globonews no lugar do “Painel” apresentado pelo afastado Waack.