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OPINIÃO
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Enquanto que o discurso radical de esquerda defende o empoderamento das fábricas e das terras pelos trabalhadores, ou a queda da dominação burguesa de forma violenta através de uma revolução, o discurso radical de direita foi perfeitamente proferido pelo estudante de direito Pedro Baleoti:
“Indo votar… armado com faca, pistola, o diabo, louco pra ver um vadio, vagabundo com camiseta vermelha e já matar logo. Essa negraiada vai morrer! Vai morrer!”
Cada um escolhe o radicalismo que preferir. Tem para dar e vender. No entanto, um fato curioso é que no radicalismo de direita, encontramos expresso um ódio cromático, especialmente a duas cores: o vermelho e o preto.
O ódio a tais cores é de longa data na história Ocidental. O inferno cristão é vermelho e preto. O vermelho representa o fogo eterno, já o preto, as trevas. Com frequência, o diabo era pintado ora de preto, ora de vermelho, ou até mesmo com as duas cores.
Como destaca o historiador Michel Pastoureau, havia na iconografia e na simbólica romanas, tonalidades vermelhas interpretadas de forma positiva, referindo-se ao sangue de Cristo ou ao fogo de Pentecostes. “Mas o vermelho, aqui associado ao preto, é completamente diabólico”. E aqui, em terras tropicais, o discurso radical de direita, quando esboça um ódio ao vermelho, tende a odiar, também, o preto.
A cor pura sempre foi o branco. Representa a luz criada por Deus para colocar vida em meio as trevas. Noé mandou um corvo para averiguar se a maré havia abaixado após o Dilúvio, mas a ave não voltou, ficou se refestelando com um cadáver. Por conseguinte, Noé mandou uma pomba que retornou duas vezes com um ramo de oliveira. A cor branca se tornou pura, a pomba o símbolo da paz, o negro o diabólico, e o corvo... basta ler o poema clássico de Edgar Allan Poe.
Com a vitória de Bolsonaro muitos comemoram o fato de a bandeira do Brasil não se tornar vermelha, o que é uma birutice por parte destas pessoas. Contudo, o vermelho teria mais sentido para bandeira brasileira que o verde e amarelo. Estas cores representavam o emblema da casa dos Bragança. Uma herança do colonizador. Já o vermelho era a cor extraída do Pau-brasil, tintura cobiçada pela realeza europeia. Cabe lembrar, que o vermelho representava também a cor do cavaleiro, da nobreza europeia, vide o tapete vermelho.
Ao longo das eras pré-modernas, só havia ódio ao vermelho quando este estava acompanhado do preto. Enquanto que estas cores representavam um conflito na Ásia desde tempos imemoriais, na Europa, essa oposição não possuía significado algum. Elas se uniam para descrever o demônio e o diabólico. Tanto que no jogo de xadrez árabe-muçulmano, enfrentam-se um campo preto e um campo vermelho, mas quando o jogo chega à Europa, as cores do tabuleiro mudam para o principal conflito cromático Ocidental: branco-preto.