A antropóloga Adriana Dias Higa, que pesquisa a atividade de neonazistas no Brasil, cobrou nesta quarta-feira (9), em entrevista ao Fórum Onze e Meia, que Monark seja "punido de forma exemplar" por ter defendido a legalização de um "partido nazista" durante entrevista no Flow Podcast.
"A punição precisa ser exemplar para a gente mostrar que não concorda, não podemos mais deixar chegar num extremo absurdo", pontuou.
Para ela, as instituições de terceiro Estado - como Judiciário e polícia - ainda são absolutamente passíveis diante do crescimento do neonazismo no Brasil, o que se intensificou após o apoio desses grupos ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Depois que os nazistas e os neonazistas chamaram no MASP em São Paulo o apoio a Bolsonaro em 2011 eu não vi nenhuma instituição praticamente falar fortemente contra eles. Havia uma elite muito interessada em tomar o poder, que se utiliza dos laços que deseja, e vai se utilizar do esgotamento e da extrema direita quando sentir necessidade", afirmou a pesquisadora.
Ela exemplificou que os regimes fascistas na Alemanha e Itália surgiram dessa forma, com o crescimento de discursos de ódio e violência. "O Holocausto não começou em 1933. Os campos de concentração não surgiram do nada. Houve um grande discurso de ódio contínuo que permitiu isso, exclusivamente alimentado pelo anticomunismo", disse Dias.
Vereadora Liana Cirne lembra declarações racistas de Monark
Também presente no debate, a vereadora Liana Cirne (PT-PE) lembrou que Monark já havia feito declarações racistas. Em outubro de 2021, ele questionou em seu Twitter se “ter uma opinião racista é crime". Embora tenha perdido alguns patrocínios, ao contrário desta vez, ele não foi demitido ou punido.
Apesar de condenar veementemente as declarações nazistas de Monark, Cirne pontuou que há um "pacto narcisístico da branquitude" - muito teorizado por diversas autoras e acadêmicas negras - que, devido ao racismo estrutural, deixa passar episódios de racismo.
"Essa denúncia, quando feita em relação às manifestações tipificadas pelo crime do racismo, não teve a repercussão que teve agora, quando ele faz uma fala apologética do nazismo. Também teve denúncia, e os patrocinadores não se manifestaram como agora. Crime é crime, e não precisa de mobilização social para que seja punido", afirmou a vereadora.