O governo de Jair Bolsonaro pagará US$ 2 a mais por cada dose da vacina Sputnik-V só para comprá-la da farmacêutica União Química, de propriedade de um empresário que já fez doações a partidos do chamado centrão, grupo que dá sustentação ao Executivo federal no Congresso.
A denúncia, que consta numa matéria do site The Intercept Brasil, mostra que cada uma das 10 milhões de doses adquiridas com a intermediária brasileira custará US$ 11,95, preço acima dos US$ 9,95 pagos por governadores estaduais que fecharam contrato diretamente com a Rússia, fabricante do imunizante.
A União Química tem entre seus diretores o ex-deputado do PSD Rogério Rosso e exerce forte lobby em Brasília por meio do ex-ministro da Saúde e atual líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros, pivô de outros escândalos de corrupção que surgiram durante a pandemia.
A venda, que só não foi concluída até agora porque a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não deu aval para o uso indiscriminado do imunizante (limitando a poucas aplicações nos estados), implicará num prejuízo de R$ 105 milhões aos cofres públicos.
O The Intercept questionou a União Química sobre a diferença nos valores do contrato com o governo Bolsonaro em relação àquele praticado pelos russos com os estados. A empresa limitou-se a dizer que seu valor praticado engloba riscos por conta da variação cambial, frete sob condições de refrigeração, despesas de importação e os custos da carta de crédito em favor do Fundo Soberano Russo, além de controles de farmacovigilância e etiquetagem em português.