Pandemia e crise fecham Ó do Borogodó, em SP, e Alaíde do Feijão, na Bahia

Os dois espaços, mais do que bar ou restaurante, eram pontos de cultura e resistência das capitais paulista e baiana

Foto: reprodução Youtube
Escrito en NOTÍCIAS el

Com a ausência de políticas de combate à pandemia, a segunda onda do coronavírus, além de arrastar milhares de pessoas diariamente para as covas, está destruindo o cenário gastronômico e cultural ao redor do Brasil. São Paulo e Salvador devem perder duas referências culturais para a crise econômica: Ó do Borogodó e ALaíde do Feijão anunciaram que vão encerrar as atividades.

Reduto do samba

O espaço cultural Ó do Borogodó usou as redes sociais que deve encerrar as atividades. Por meio de um post, a casa escreveu que "num tempo em que tristeza é mato, a gente anuncia o fim". De acordo com a proprietária da casa, eles têm 15 dias para pagar uma dívida de locação que é próximo de R$ 100 mil.

"O bar era a nossa única fonte de renda. Estávamos fazendo a feijoada [para entrega via delivery] e algumas lives no nosso canal no YouTube. Tudo o que a gente arrecadava era usado para pagar os funcionários, não o aluguel. Tentamos negociar, mas os proprietários não foram receptivos", disse Stefânia Gola, dona do Ó do Borogodó.

A casa está fechada desde o dia 14 de março de 2020 e, desde então, não promoveu nenhuma atividade presencial. Gola revela que o bar, que fica na Vila Madalena, reduto boêmio da capita paulista, tem 15 dias para a dívida do aluguel ou entregar o imóvel.

De acordo com a proprietária do espaço, a dívida do aluguel está acumulada em R$ 100 mil. "Mas isso é agora. Como a gente não quer abrir até acabar a pandemia, o valor só aumentaria ao longo dos meses", disse Gola à Folha de S. Paulo.

O post anunciando o fim próximo da casa gerou repercussão nas redes, mas, a proprietária acha difícil que isso leve a o espaço a ter uma sobrevida, pois, ela lembra que a crise atinge e a todos e que as pessoas, dificilmente, teriam "fôlego ou braço" para ajudar a manter o espaço.

"É muito provável que a gente entregue o imóvel. Dependemos de um milagre", finaliza Gola.

Feijoada contra o racismo

Na capital baiana outro ponto cultural e histórico, Alaíde do Feijão, também deve encerrar as atividade em definitivo. O espaço está fechado desde março de 2020 e, para piorar a situação, Alaíde da Conceição, que toca o espaço desde a década de 1990, testou positivo para a Covid-19.

O cenário que se dá em São Paulo com o Ó do Borogodó é o mesmo que acomete a Alaíde do Feijão: a crise prolongada e as faltas de políticas nacionais para o combate à pandemia.

Segundo informações do UOL, quando foi anunciado o início da vacinação, Alaíde da Conceição se animou para reabrir o espaço, ligou para as filhas e sobrinhas para organizar o retorno. Porém, como é notório e público, o governo Federal nada fez para garantir os imunizantes e a vacinação da faixa etária de Conceição foi cancelada por falta de insumos.

Além de ser uma referência cultural e gastronômica, Alaíde da Conceição também é conhecido por ser ponto de encontro de figurões das artes e da política de Salvador. Segundo o UOL, lá é lugar onde a "bancada da feijoada" se reúne e discute o futuro da cidade e do estado da Bahia.

Com as portas fechadas, além de Alaíde amargar a tristeza de não poder exercer a função que praticava desde jovem, agora se encontra internada no Hospital Couto Maia lutando contra a Covid-19.

Abaixo, confira um vídeo com a história de Alaíde Conceição:

https://www.youtube.com/watch?v=hj3_0Q5hX48