Dennis de Oliveira: Hierarquia que coloca brancos no topo e negros na base é natural para Bolsonaro

“A opressão racial, na visão da extrema direita, é normatizada. Então, o presidente não vai enxergar, de fato, que existe racismo”, avalia o jornalista e professor

Sérgio Camargo, Bolsonaro e Hélio Negão - Foto: Reprodução/Twitter
Escrito en NOTÍCIAS el

O jornalista e professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Dennis de Oliveira, observa coerência no discurso de Jair Bolsonaro, quando ele defende a não existência de racismo no Brasil.

“O presidente Bolsonaro é uma pessoa de extrema direita, que nega o racismo. Essa extrema direita defende os privilégios das classes dominantes e esses privilégios estão construídos, historicamente, sob a opressão racial contra negros e negras. E a opressão, na visão da extrema direita, é natural, é naturalizada e normatizada. Então, ele não vai enxergar, de fato, que existe racismo”, avalia o professor.

Para ele, esta ordem hierárquica, que coloca brancos no topo e negros na base é algo naturalmente dado e não produto do racismo. “Por essa razão, ele diz que não há racismo no Brasil”, destaca Dennis.

“Bolsonaro costuma usar dois exemplos pontuais de negros que estão do lado dele para mostrar que a questão é de mérito apenas. Porém, esses negros que ele cita, o Sérgio Camargo e o Hélio Negão, são pessoas que não têm nenhum tipo de ação efetiva dentro do seu governo, a não ser o Sérgio Camargo, que tem o papel deletério de detonar o movimento negro. Mas, efetivamente, não fazem parte do núcleo duro da produção do seu governo”, acrescenta.

Com isso, na avaliação de Dennis, mesmo esses negros de extrema direita que ele escolheu como exemplos para mostrar que não há racismo, também não exercem papel nenhum sob o ponto de vista da formulação política e ideológica do seu governo.

“Então, extrema direita e racismo têm tudo a ver. Por isso que o Bolsonaro tem esse tipo de posição”, finaliza.

Discurso negacionista

Dennis de Oliveira se refere à fala de Bolsonaro, nesta quinta-feira (4), em Cascavel, no Paraná. O presidente voltou a criticar a política de cotas para negros em um discurso negacionista sobre o racismo, durante inauguração do Centro Nacional de Atletismo.

Ao nomear os responsáveis pela obra, Bolsonaro parabenizou o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), e o asssessor dele, Marcelo Magalhães, “o negão Marcelo”.

“Assim como tem outro negão aqui: o [deputado federal] Hélio Negão. O Mário Cidão, negão aqui… Não foram escolhidos por cotas. Foram escolhidos por competência”, afirmou.

Em seguida, negou que haja racismo no Brasil. “Não existe raça inferior a outra em nosso país. O meu sogro é o Paulo Negão. Sou apaixonado pela filha dele, não por ele. E assim é nossa vida”.