Nesta quinta-feira (2), dia em que foi divulgado pelo IBGE que o Produto Interno Bruto (PIB) teve diminuição de 0,1% no terceiro trimestre, a offshore que Paulo Guedes mantém nas Ilhas Virgens Britânicas valia R$ 53,81 milhões. O dólar fechou o dia a R$ 5,63.
Os dados são do jornalista e C3PO da Lagom Data, Marcelo Soares, que atualiza diariamente em uma tabela a variação diária da empresa de acordo com o andar do câmbio.
"A flutuação do câmbio é feita de expectativas, e declarações de um ministro da economia são levadas em conta na construção delas. Operador do mercado há décadas, Guedes conhece como poucos esse mecanismo. Ainda que possa não auferir benefício pessoal imediato, ele sabe o peso que suas falas têm no mercado", escreve Soares na explicação da plataforma.
Ontem, Guedes afirmou ao blog da Ana Flor, no G1, que a queda do PIB foi “localizada”. Segundo ele, o grande culpado é o impacto da crise hídrica na agricultura e na indústria.
“A agricultura caiu 8%, mas setor de serviços, por exemplo, se recuperou. Foi uma queda localizada”, disse o ministro. “Falar em crescimento é falar em investimento”, continuou, ressaltando que a taxa de investimento na economia está em quase 20%, “ponto mais alto desde o 3º trimestre de 2014”.
Ele também negou que o Brasil viva uma recessão técnica após recuo do PIB por dois trimestres seguidos. “O crescimento está contratado. A conversa de que o Brasil não vai crescer é uma conversa de maluco”, afirmou em palestra no Airport National Meeting, encontro de empresários do setor de aeroportos, que têm grande interesse nas concessões feitas pelo ministro.
“O PIB caiu 0,1% e a Bolsa cresceu 3%. Se alguém estivesse levando a sério que o PIB vai cair, a Bolsa não estava subindo”, justificou, minimizando os dados do IBGE.
Guedes diz que dólar subiu por “política ou doença”
Recentemente, Guedes negou que tenha atuado para elevar o dólar e, com isso, lucrado através da offshore que mantém nas Ilhas Virgens Britânicas.
Em audiência na Câmara dos Deputados para explicar sua participação em paraíso fiscal, ele culpou a pandemia da Covid-19 e as tensões políticas pela alta da moeda norte-americana e tentou justificar a declaração de que, se fizesse muita besteira, o dólar iria a R$ 5.
“Mandei ver o que aconteceu, nos últimos 3 anos, quando o dólar subiu mais do que 2%. Foi sempre política ou doença. Nada pela economia”, afirmou.
As denúncias contra Paulo Guedes apontam que ele pode ter lucrado R$ 14 milhões com a valorização do dólar, somente durante o seu mandato à frente da pasta.
Isso porque a offshore Dreadnought International, que ele mantém nas Ilhas Virgens Britânicas, tinha US$ 9,55 milhões em 24 de setembro de 2014, segundo revelado pela investigação Pandora Papers.
Esse valor correspondia a R$ 37 milhões quando Guedes foi nomeado ministro por Bolsonaro. A cotação, na época, era de R$ 3,85 para cada unidade da moeda estadunidense.
Ele também admitiu que enviou recursos para a empresa sediada em paraíso fiscal para fugir da cobrança de tributos nos Estados Unidos e, consequentemente, no Brasil.
Segundo o ministro, o envio do dinheiro foi feito entre 2014 e 2015 para investimento em ações norte-americanas. Guedes afirmou que recebeu na época a sugestão de conselheiros, como uma forma de evitar os impostos nos EUA no caso de sua morte.