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Por Bruno Sobral
Administradores de "massa falida" que nada! Esse é e será o lema dos traidores que hipotecaram nosso futuro reprimindo nossa contestação popular. O Rio de Janeiro não está condenado à vitrine de um programa de austeridade. O Rio de Janeiro está com suas potencialidades ociosas e reprimidas pelo controle de grandes agiotas. Eles não querem parar até onde já foram, querem dobrar, triplicar a aposta pondo no novo governo o mais dotado para garantir o mesmo consentimento com menor tensão.
É um projeto de vários anos que sua única diretriz é ver o Estado como problema e criar inúmeras desvantagens e dificuldades para este ter capacidade decisória própria de tratar as prioridades do povo como inegociáveis. Por isso, a eleição estadual desse ano não é para principiantes, mas para quem quer por seu nome na história. Ou então nos renderemos à posição mais medíocre que a imaginação de nossos opressores possa executar.
Marx nos lembrou de que as ideias são determinadas pelas condições materiais. Logo, não podemos no Rio de Janeiro sair do terreno do debate de políticas concretas para sermos norteados por aforismos. Não há espaço para uma anticandidatura que sirva para protestar e elevar o espírito, o que precisamos é de um líder. Esse ano, não basta se oferecer boas intenções e um discurso generoso. É preciso alguém disposto a ser comandante e oferecer uma reflexão profunda sobre quais os interesses reais do Estado do Rio de Janeiro.
Especialmente, porque, até o momento, a única candidatura com projeto crível para Rio de Janeiro é de Eduardo Paes, e isso não é bom. Desponta uma candidatura de alguém experiente e voltado para se apresentar como quem faz a diferença para manter a liderança do bloco de poder. Ele virá com retórica de política de resultados e do gestor que entrega. Em especial, ele vai se apresentar como capaz de tocar o acordo federal com mais eficiência.
Logo, qualquer outra opção crível deve ter por base focar em quem tem condições políticas de, primeiro, mostrar que tem qualidades maiores como gestor e, segundo, oferecer um projeto apto a discordar que o problema é tocar o acordo federal com mais eficiência. Creio que uma unidade das forças progressistas se faz a partir de ideias-força como esta, para serem discutidas e formar consenso para que se ganhe clareza do mais capaz. Uma unidade com orientação estratégica que seja alternativa a algo concreto com discussão de políticas concretas.
Essa eleição estadual é decisiva. Não há espaço para articulações com base em candidaturas que puxem parte do eleitorado e sirvam de “moeda de troca”. Se optar por essa opção, o atual marco de poder reafirmará seu domínio. Inversamente, cabe considerar que se trata de uma janela histórica que não se repetirá facilmente para superar isso. Cabe às forças progressistas ter foco para buscar romper esse marco no momento que ele está agora mais vulnerável sem muito espaço de negociação.
Hora de se apresentar para a disputa quem possa oferecer autoestima e capacidade de liderança, a ponto de tornar a voz e inspirar lealdade a seu corpo de servidores a partir de uma clara visão estratégica. Por um olhar regional que recoloque a importância do território e sua relação com a formação do país. Por um olhar que respeite o valor de sua gente e sua criatividade, tendo como metas reconquistar autonomia federativa e ser o novo epicentro de um projeto nacional de desenvolvimento.
Visar liderar um programa estratégico para o Brasil e acumular forças. Logo, visar a federação e criar frentes políticas a partir dela sobre essa bandeira. Essa proposta não é mera utopia e pura retórica, isso são as condições concretas da luta política que se fizeram necessárias. Não é para qualquer um assumir tal compromisso. É para quem enxerga um povo cansado de ser humilhado e ignorado por acordos como o atual que condenam a serem contidas suas grandes oportunidades.
Lenin nos recomendou que qualquer um que busque assumir um poder político deve ter senso de poder e instinto de poder. A falta disso poderá ser nossa maior fraqueza para nossos adversários explorarem. Diante de nós temos um discurso hegemônico sobre que se deve fazer o mesmo de agora, mas fazendo melhor. As forças progressistas cabem superar isso apontando que a questão não é simplesmente de eficiência e sim de orientação. Esse estado não tem outro destino do que ser síntese do Brasil, que seja uma síntese virtuosa e dinâmica. Cabe vir para disputa quem não transija a defender isso até o fim da gestão.
Resiliência e foco no objetivo. Só existe situação e oposição, e a busca não é para ser a oposição da oposição da oposição... é luta pelo poder. Aí começaremos a se organizar para ganhar.
Bruno Sobral é especialista em Economia Fluminense e professor da FCE/UERJ