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Não adianta culpar o povo do Pará por Wladimir Costa. Temos os nossos similares em todas as partes. Tiririca e Bolsonaro que o digam.
Por Julinho Bittencourt
O espetáculo musical Tangos & Tragédias, dos gaúchos Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky, ficou em cartaz durante trinta anos. Era ambientado num país fictício chamado Sbørnia, uma paródia hilária de nosso país, onde o regime político vigente é o anarquismo hiperbólico.
O brasileiro, e este é um de seus melhores traços, gosta de rir de si próprio. Ao mesmo tempo, o brasileiro gosta de zombar-se de si próprio, o que é um de seus piores traços. O nosso bom humor, a carnavalização das nossas mazelas, é, num primeiro momento, uma genial paródia da vida nacional. Um tantinho mais à frente, ultrapassando uma linha tênue, se torna uma debilidade insuportável.
E essa linha, já nem tão tênue, tem sido ultrapassada com muita frequência.
A votação na Câmara dos Deputados desta quarta-feira (2), que não acolheu a denúncia por corrupção passiva de Michel Temer, inaugurou o seu manancial de imbecilidades dias antes, quando o deputado Wladimir Costa (SD-PA) exibiu tatuagem com o nome de Michel Temer no ombro.
Figura folclórica no plenário da Câmara, Wladimir Costa, tido por alguns como brincalhão é, na verdade, um imbecil que nos mostra o avesso do espelho. Foi eleito, portanto, é nosso representante. E não adianta culpar o povo do Pará, pois temos os nossos similares em todas as partes, e o deputado Tiririca, engraçadinho, mas acusado de assédio sexual por sua empregada, que o diga.
Wladimir Costa, como se não bastasse, ainda protagonizou outra cena bisonha durante a votação de quarta-feira (2). Foi fotografado pelo sempre genial Lula Marques pedindo, pelo Whatsapp, que uma mulher mostrasse a bunda.
O mesmo tipo de comportamento, o do palhaço carnavalizado, fora de lugar, é adotado frequentemente por Jair Bolsonaro, sem sombra de dúvidas, o mais perigoso de todos. Não é raro o deputado ofender pessoas pelas redes, com comentários misóginos, machistas, homofóbicos etc.
Com essas e outras e, sobretudo, por essas e outras, ganhou o apelido de “Bolsomito”. Na opinião de seus seguidores ele “mita” a cada vez em que é grosseiro, deseducado, xenófobo, machista, homofóbico. Para os mesmos, ele também “mita” a cada vez que enaltece e defende o criminoso, torturador e cangalho do regime militar, o coronel reformado Carlos Brilhante Ustra.
Somos, portanto, engraçadinhos e bem-humorados. Rimos de tudo. Do Congresso que nos enche de vergonha e insiste em se manifestar, desavergonhadamente, pois isso os enche de “likes”.
Rimos dos votos vendidos descaradamente, como se não precisassem prestar contas a ninguém.
Rimos de verde e amarelo do impeachment de uma presidente por “pedaladas fiscais”. Rimos quando livram a cara de outro notadamente gravado, carimbado, envolvido, como se fosse nada.
Rimos, como se não tivéssemos dado nenhum voto por isso, por eles.
E, enquanto rimos, nossos direitos seculares escorrem pelo ralo. O patrimônio público se esvai. O Estado é saqueado. As minorias são vilipendiadas.
Wladimir Costa, Tiririca e Bolsonaro não são engraçados. São perigosos.