Escrito en
NOTÍCIAS
el
Roberto Freire garantiu empregos para seus correligionários em assessorias e secretarias estratégicas do Ministério da Cultura, muitos sem qualquer experiência no setor
Por Maíra Streit, de Brasília
Ferrenho crítico do que chama de “aparelhamento” do Estado pelos governos petistas, o atual ministro da Cultura, Roberto Freire, garantiu emprego na pasta para dezenas de candidatos de seu partido, o PPS, derrotados nas últimas eleições.
Seus correligionários ocupam assessorias e secretarias estratégicas do MinC, muitos sem qualquer experiência ou familiaridade com o setor em que atuam. Os conterrâneos também não foram esquecidos, já que boa parte da equipe vem do estado de Pernambuco.
Curiosamente, em 2016, Freire chegou a defender a extinção do Ministério. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, no final do ano passado, ele admitiu ter sido o autor da proposta, com o objetivo de “economizar” recursos do governo federal.
No entanto, após a polêmica saída de seu antecessor, Marcelo Calero, foi convocado a assumir o comando da pasta e fez dela uma oportunidade de garantir o lobby político baseado em troca de cargos e favores.
Fábio Sato foi um dos beneficiados (confira lista abaixo). Derrotado na disputa a prefeito de Presidente Prudente (SP) em 2016 pelo PPS, ganhou o cargo de assessor na Secretaria Executiva. O secretário de Articulação e Desenvolvimento Institucional, Adão Cândido, por sua vez, concorreu a vice-governador do Distrito Federal pela legenda, sem sucesso.
Também do PPS, Raimundo Benoni Franco perdeu na corrida pela prefeitura de Salinas (MG), no ano passado. Como consolo, recebeu o título de secretário de Infraestrutura Cultural no Minc comandado por Freire, que se licenciou como presidente nacional do partido para se tornar ministro.
Assim como Franco, o ator Stepan Nercessian foi mais um caso. Após perder no pleito de 2014 para deputado federal, tornou-se o novo presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte). Além desses exemplos, existem vários tanto na sede em Brasília quanto nos escritórios regionais.
Implosão
Pressionado pela opinião pública, o governo de Michel Temer cedeu depois de duas semanas de extinção oficial do MinC. Embora a pasta tenha sido mantida em funcionamento, algumas atitudes mostram que a estratégia do peemedebista é ruir a estrutura internamente.
Prova disso é o boicote a programas da gestão anterior, como o Cultura Viva, responsável por pontos de cultura em todo o território brasileiro, assegurando a democratização do acesso à arte, inclusive, em comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e assentamentos rurais. A tentativa de criminalização da Lei Rouanet é outra estratégia bastante utilizada para desqualificar as iniciativas em vigor até então.
O aparelhamento do Ministério tem provocado a paralisia de muitas atividades, uma vez que, entre os indicados, há um grande número que não apresenta qualquer proximidade com a área cultural e é acusada de utilizar o posto como trampolim para novas investidas eleitorais.
Em relação à distribuição de cargos a filiados ao PPS, a assessoria de imprensa do órgão foi procurada pela Fórum e enviou uma nota assinada por Freire que alega que a escolha dos nomes para a equipe “se dá por critérios republicanos”. “Nossa preocupação é com a competência, a experiência, a idoneidade e a conduta ilibada dos funcionários que aqui atuam”, dizia o comunicado.
“Feito o registro a título de esclarecimento, é evidente que não faria o menor sentido a presença de aliados de um governo que sofreu impeachment ocupando cargos de confiança, postos de direção ou definindo as políticas públicas do ministério da nova gestão", prosseguiu.
Confira abaixo a lista de alguns dos nomes ligados ao PPS que ocupam cargos no Ministério da Cultura.
Alberto Aggio - Assessor Especial do Ministro
Dirigente nacional do Partido Popular Socialista (PPS). Em 2012, chegou a se candidatar a vereador na cidade de Franca (SP), não conseguindo êxito nas urnas.
João Artur de Almeida Pinheiro - Chefe de Gabinete Substituto
Membro do Diretório Regional do PPS no Distrito Federal. Tuca Pinheiro, como é conhecido, era assessor de Roberto Freire na gestão como deputado federal por São Paulo.
João Batista de Andrade - Secretário Executivo
Concorreu ao cargo de vice-prefeito de São Paulo em 2008 ao lado de Soninha Francine, mas não foi eleito.
Fábio César Sato - Assessor na Secretaria Executiva
Candidato derrotado à prefeitura de Presidente Prudente (SP) em 2016.
Adão Cândido - Secretário de Articulação e Desenvolvimento Institucional
Pleiteou o cargo de vice-governador do Distrito Federal nas eleições de 2014.
Débora Albuquerque - Secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural
Concorreu a vereadora de Jaboatão dos Guararapes (PE) em 2016, mas não conseguiu se eleger.
Cristiano Vasconcelos da Silva - Chefe de Gabinete
Coordenador da Juventude do PPS em Pernambuco
Aníbal Henrique de Oliveira Macedo - Coordenador-Geral de Acessibilidade e Inclusão
Disputou o cargo de vereador na cidade de Belo Horizonte (MG) em 2016.
Renata Carvalho - Coordenadora-Geral de Cultura e Educação
Atuou como advogada do PPS nas eleições de 2012 e 2014 em Pernambuco.
Raimundo Benoni Franco - Secretário de Infraestrutura Cultural
Perdeu na disputa pela prefeitura de Salinas (MG) em 2016.
Fátima Nieto Soares - Coordenadora Geral na Secretaria de Economia Criativa
Assessora jurídica do PPS em São Paulo
Fabiano Caldeira - Chefe da Assessoria de Comunicação (ASCOM)
Especialista em marketing político filiado ao PPS
José Haddad - Chefe da Representação Regional do MinC no Rio de Janeiro
Presidente do PPS de Niterói (RJ).
Haifa Madi - Chefe da Representação Regional do MinC em São Paulo
Em 2016, foi candidata ao cargo de prefeita de Guarujá (SP). Ficou em segundo lugar.
Maria do Céu - Chefe da Representação Regional do MinC no Nordeste
Tentou o cargo de vereadora de Recife (PE) em 2016.
Stepan Nercessian - Presidente da Funarte
Concorreu à vaga de deputado federal pelo PPS do Rio de Janeiro em 2014, mas perdeu a disputa.
Foto: Lula Marques / AGPT