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Para a vaga de vereadora, 14,2% das candidatas são mulheres negras. Atualmente, apenas 1 mulher negra legisla no Senado Federal
Por Matheus Moreira
Uma pesquisa divulgada pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) evidencia o sexismo e o machismo como mecanismos estruturais de opressão e de marginalização de minorias de gênero e étnicas no Brasil, por meio da sub-representatividade dessas parcelas (quantitativamente majoritárias) na política.
O levantamento, divulgado nesta segunda-feira (26), mostra que 14,2% do total de candidaturas para vereador e vereadora é de mulheres negras. Entretanto, é importante ressaltar que, por negra, entende-se parda e preta, na classificação que o IBGE dá. Levando em consideração apenas as auto-declarações de mulheres como pretas, a porcentagem cai para 2,64%.
O mesmo acontece com as prefeituras e subprefeituras. Na nomenclatura e recorte do conceito de negritude, 0,13% representam as mulheres negras na disputa por prefeituras. Tomando apenas a auto-declaração preta, os números caem para surpreendentes 0,01% para prefeitas e 0,03% para vice-prefeitas. Na prática, isso significa que dos 5. 570 municípios brasileiros, concorrem para prefeitura apenas 60 mulheres negras, e para a vice prefeitura, 135.
Entre os partidos que mais têm mulheres negras concorrendo à prefeituras, vice prefeituras e câmara municipal, estão o Partido da Mulher Brasileira (PMB), com 23,6% do total de candidaturas da legenda, e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), com 20,4%.
O estudo revela ainda os estados da federação que mais têm candidatas negras (pretas e pardas): em primeiro lugar está o Amapá, com 25,2%, seguido pelo Acre, que apresenta 25%, e pelo Pará, com 24,9%.
São Paulo, Bahia e Minas Gerais são os três estados brasileiros com o maior número de mulheres negras em sua população, mas a desproporcionalidade fica evidente com o estudo. São Paulo tem 7,8% do total de candidaturas de mulheres negras concorrendo nas eleições de 2016, um total de 6.678 mulheres, enquanto Bahia tem 24% (8.759) e Minas Gerais apresenta 15% (11.724).
"Os dados das candidaturas às Eleições 2016 demonstram, mais uma vez, que os espaços de poder institucionalizados continuam fechados para as mulheres negras no Brasil", conclui, no texto de apresentação do estudo, Carmela Zingoni, assessora política do Inesc.
Em que Brasil isso acontece?
Ao longo da última década, houve o aumento das iniciativas sociais de políticas de segurança alimentar e nutricional, elevação do salário mínimo, erradicação da miséria e diminuição da pobreza extrema, aumento da formalização de mão de obra e outras políticas públicas. Entretanto, as mulheres pretas ainda são minoria dentro de duas outras minorias: negros e mulheres.
O mapa da violência de 2015: Homicídios de mulheres no Brasil, que foi produzido pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais para a ONU, aponta que o homicídio de mulheres negras cresceu, entre 2003 e 2013, 54,2%, enquanto o das mulheres brancas caiu 9,2%. Os dados revelados pela pesquisa mostram que a mulher negra é a principal vítima de violência doméstica e violência letal.
O estudo vai além e mostra que, fora o fato de serem as mais violentadas, as mulheres negras são maioria da população carcerária, representando 68% do total. É importante ressaltar, ainda, que a população carcerária aumentou também, entre 2000 e 2014, e o número de mulheres presas no país cresceu 567%.
Com dados divulgados pelo Mapa da Violência de 2014, nota-se a morte de 25 mil jovens negros por arma de fogo ao ano, no Brasil. Mas o que isso tem a ver com a quantidade de mulheres negras na política? A morte desses jovens impacta direta e indiretamente a vida de suas mães, irmãs, filhas, companheiras, tornando-se mais um obstáculo no empoderamento e na inclusão social.
Entretanto, houve avanço, com políticas afirmativas, como as cotas. O número de mulheres negras em universidades aumentou, mas ainda há muito que ser feito para a equiparação, tanto salarial, quanto institucional. Hoje, o Congresso Nacional tem ao todo 56 mulheres eleitas, dentre as quais 12 são mulheres negras, 11 estão na Câmara dos deputados e apenas 1 mulher negra legisla no Senado Federal.
O vídeo abaixo, feito pela Inesc em 2014, explica como funciona a sub-representatividade no cenário político brasileiro:
Foto: Reprodução/vídeo