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Com ou sem medalhas, mulheres negras destacam-se nos Jogos Olímpicos Rio 2016 por vencer processo histórico excludente
Por Juliana Gonçalves, no Brasil de Fato
Na última terça (9), após a vitória da judoca Rafaela Silva, as redes sociais foram tomadas por depoimentos de mulheres negras celebrando a vitória da jovem de 24 anos.
A atleta, que é negra, pobre, lésbica e nascida na Comunidade carioca Cidade de Deus, sofreu duros ataques racistas em 2012, por conta da sua derrota nas Olimpíadas de Londres.
Durante coletiva de imprensa, após ganhar a primeira medalha de ouro do Brasil, disparou: “Posso servir de exemplo para as crianças da comunidade porque, só de você ser negra, já é malvista na rua”.
No país que forjou sua identidade no mito da democracia racial, falar de racismo e formas de superação ainda não é tarefa fácil. No esporte, por exemplo, muitos atletas evitam o tema para não atrair a antipatia do público.
"O esporte já é um lugar que a sociedade não considera próprio para mulheres, exceto modalidades tida como femininas, como ginástica, por exemplo. E, para mulheres negras, esse acesso é ainda mais restrito por uma série de fatores sociais. A questão não é o talento e sim as condições desfavoráveis para que grandes talentos possam acontecer", comenta a arquiteta ativista negra, Joice Berth.
Em diferentes momentos, outras atletas se posicionaram, como a nadadora Etiene Medeiros em entrevista à Carta Capital no ano passado. “Muita gente diz que isso [racismo] não existe, mas é claro que pesa. Natação é um esporte caro e, para praticar, é preciso ter acesso a lugares aos quais a população negra tem dificuldade de chegar”.
A levantadora da seleção de vôlei e bicampeã olímpica, Fabiana Claudino, foi a primeira a carregar a tocha que abre os Jogos em maio deste ano.
"Eu me sinto honrada principalmente por ser negra e ter uma oportunidade de mostrar ao mundo que estamos ali, fazendo parte da história e construindo algo maior. De mostrar a todos que nós, negros, somos capazes, mas às vezes nos faltam oportunidades”, afirmou na época ONDE.
Os Jogos Olímpicos de 2016 têm a maior porcentagem de mulheres atletas da história até agora: são mais de 45%. Mas as negras não são a maioria e estão ausentes em diversas modalidades, como canoagem, hipismo, tênis e vela.
Como ocupar espaço é garantir representatividade para uma importante parcela da população, o Brasil de Fato listou a algumas das mulheres negras dos Jogos Olímpicos que, com ou sem medalha, vencem e sobrevivem a despeito do racismo e machismo.