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Diego Vieira Machado foi assassinado na tarde do último sábado (2). Seu corpo foi encontrado próximo ao Campus do Fundão, da Universidade Federal do Rio do Janeiro. Diego e outros alunos LGBT's vinham recebendo ameaças por e-mail; pichações escritas "Morte aos gays da UFRJ" foram vistas no banheiro universidade e seu corpo foi encontrado nu da cintura para baixo. Seguranças da universidade também estariam sendo coniventes com homofobia
Por Victor Labaki
Na tarde do último sábado (2) Diego Vieira Machado, aluno de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), deixou o alojamento onde morava para praticar exercícios pelo campus e nunca mais voltou. O estudante foi assassinado e seu corpo foi encontrado por volta das 17 horas às margens da Baía de Guanabara, na Ilha do Fundão, na altura da Faculdade de Biotecnologia.
O delegado Fábio Cardoso, responsável pela Divisão de Homicídios, disse em entrevista que a hipótese mais provável é de que tenha sido um crime com motivações homofóbicas.
"Uma das linhas de investigação mais consistentes e mais fortes indicam que ele foi morto por crime de homofobia", disse. E que Diego vinha sofrendo ameaças de tom homofóbico e racista: "Ele vinha recebendo ameaças homofóbicas e racistas nos últimos dias", completou Fábio Cardoso.
Diego e outros alunos LGBT's vinham recebendo ameaças por e-mail. As mensagens diziam "sabemos quem são vocês" e "queremos vocês fora daqui". Haviam também recados velados a um estudante específico que ao que tudo indica seja Diego. "Ele vinha recebendo ameaças homofóbicas e racistas nos últimos dias", explicou o delegado Fábio Cardoso.
No mesmo dia do assassinato, foram encontradas pichações homofóbicas em banheiros da UFRJ no campus da Praia Vermelha. Em tinta preta, foi escrita a mensagem "Morte aos gays da UFRJ".
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O corpo do estudante ter sido encontrado nu da cintura para baixo e com muitas pancadas na cabeça é um dos fatos importantes para a análise da perícia.
"Ele sabia se defender e não acredito que tenha sido um crime de uma pessoa só. Ele lutou judô pela UFRJ e treinava kung fu. Ele já havia sofrido ameaças, dentro e fora do alojamento. Já foi zoado por ser nortista. Chamavam ele de Paraíba", disse Pérola Gonçalves, amiga de Diego e aluna da UFRJ.
Maycon Machado, irmão de Diego, disse que "ele comprou uma briga" ao denunciar que a segurança do campus estaria "acobertando e apoiando a violência no local".
"Eu acredito que ele possa ter sido morto por ódio sim. E também porque ele fez uma denúncia de um fato que ocorreu no campus da universidade e insinua que os próprios seguranças da universidade apoiam a violência no local. Ele deu a entender que a polícia e os seguranças se encobrem. Ali, ele comprou uma briga”, disse Maycon. O irmão também fez questão de ressaltar que Diego não costumava ofender ou xingar alguém gratuitamente.
No post Diego disse que os seguranças das obras do campo de rugby da universidade "violentaram e torturaram um rapaz".
“Ontem, os seguranças das obras do campo de rugby violentaram e torturam um rapaz, o deixando nu e humilhado na rua e atiram contra outros rapazes na quadra da educação física. Nossa segurança interna Diseg, que levou meia hora pra chegar, sendo que eu levo 15 minutos andando pra chegar da prefeitura do campus (onde eles ficam) até o alojamento (lugar que o rapaz buscou pra se proteger), não registrou a ocorrência, não levou o rapaz pra fazer averiguação ou ao medico, e ainda usaram (sic) desculpas do tipo, 'mas o que você estava fazendo aí'. Essa é nossa segurança, que nos protege, chamando a PM para alunos e acobertando seus comparsas estupradores.... Espero que todas tenham um bom dia depois dessas noticias”, escreveu em seu Facebook.
O Instituto Rio Sem Homofobia, ligado a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Governo do Rio de Janeiro, divulgou uma nota dizendo que vai acompanhar o caso na Divisão de Homicídios e pedem que qualquer pessoa que tiver novas informações que possam ajudar nas investigações para entrar em contato com o instituto pelo telefone 0800 0234-567.
A UFRJ divulgou uma nota de pesar pela morte do aluno e se encarregou de pagar o translado do corpo para Ananindeua, no Pará, cidade natal de Diego Vieira Machado.
Foto de Capa: Reprodução/Facebook