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De acordo com o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que participou de encontro com Joaquim Levy, parlamentares do partido estão coesos ao reivindicar a taxação das heranças e das grandes fortunas. A avaliação dos deputados é que, se o governo não entender que todos têm que dividir a conta, vai perder a base social que ainda lhe resta
Por Najla Passos, na Carta Maior
A bancada do PT conseguiu entender o recado da atual conjuntura que a presidenta Dilma Rousseff ainda não ousou enfrentar: após os expressivos protestos do último domingo (15), ou o governo divide a conta da crise com o ‘andar de cima’, ou corre o risco de perder também o apoio da pequena base social que ainda lhe resta. Em reunião, na última segunda (16), com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deputados e senadores da sigla exigiram a taxação das heranças e das grandes fortunas como condição para apoiarem as medidas de ajuste fiscal que retiram direitos dos trabalhadores e comprometem o setor produtivo.
De acordo com o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que participou do encontro, a bancada está coesa ao reivindicar esses dois pontos de tributação da riqueza, já amadurecidos no debate partidário. “Nós entendemos que as três medidas provisórias enviadas ao congresso pelo governo corrigem distorções e não representam, de forma alguma, uma traição da presidenta aos princípios que ela sempre defendeu. Mas acreditamos que o sacrifício não pode pesar apenas sobre os trabalhadores e sobre o setor produtivo: tem que atingir a todos, incluindo o ‘andar de cima’”, afirmou.
Segundo ele, o intenso desgaste a que o governo vem sendo submetido deriva de várias razões, incluindo a perda da sua capacidade de dialogar com o povo que elegeu Dilma Rousseff há apenas cinco meses. “Nosso principal erro foi achar que as eleições haviam terminado em outubro. Nós recolhemos nossas armas, mas a oposição reforçou ainda mais as delas, em busca de um terceiro turno. E como eles contam com amplo apoio da mídia conservadora, nós perdemos a capacidade de dialogar com o povo”, avalia.
Na opinião dele, o governo vem sofrendo derrotas importantes no parlamento, como a perda da presidência da Câmara para Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafeto reconhecido, e a perda da autonomia da narrativa da crise, com a CPI da Petrobrás sendo conduzida de forma a criminalizar única e exclusivamente o PT. “Não fomos nós que inventamos a corrupção neste país, mas a oposição está ganhando cada vez mais espaço ao emplacar essa narrativa”, exemplificou.
O deputado, entretanto, faz a mea culpa. Para ele, o governo também errou ao analisar equivocadamente a conjuntura e não se dialogar mais. “Nossa comunicação com a sociedade foi tão falha que as medidas provisórias que corrigem distorções foram apresentadas como um ajuste fiscal. Isso dificultou o diálogo com a população, com os movimentos organizados. É por isso que, agora, mesmo considerando as alterações nas medidas propostas pelas centrais, nós vamos cobrar que o governo taxe também os mais ricos e divida a cota de sacrifícios”, esclareceu.
De acordo com ele, o ministro Levy não confirmou que irá atender as reivindicações, mas garantiu que o governo está estudando uma forma de taxar o ‘andar de cima’. A preferência do ministro é pela taxação da herança, diretamente na transmissão, que ele considera mais eficiente e mais simples de operar do que o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), previsto inclusive na constituição, mas jamais regulamentado. A bancada, entretanto, quer o IGF, uma bandeira histórica do PT.
Avanço conservador
O deputado admitiu preocupação com os protestos que tomam conta do país. Segundo ele, são manifestações intensas, de caráter nacional, com um forte componente de classe média, mas que têm tudo para atrair setores populares, caso o governo não recupere sua capacidade de diálogo. “Além da forma que apresentamos as medidas provisórias de correção das distorções, nós erramos também, por exemplo, ao mudar o Fies [sistema de financiamento universitário] sem discutir, primeiro, com a população. E isso desagradou a base social do governo”, analisa.
Para ele, a pauta das ruas precisa ser muito bem compreendida antes de ser trabalhada, já que há uma parte legítima e outra nada lícita. “É legítimo que as pessoas se manifestem contra a corrupção, e essa pauta nós temos que atender. Mas é inadmissível que peçam intervenção militar, a volta da ditadura ou o impeachment de uma presidenta contra a qual não pesa nenhuma denúncia. Não podemos abrir espaços para golpismos porque isso prejudica não só este governo, mas toda a democracia”, defende.
Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados