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Durante mesa sobre literatura feita na periferia, autores discutiram a ideia de que o ódio de classe sempre existiu
Por Marcelo Hailer
A ultima mesa do seminário Periferia no Centro: Cultura, narrativas e disputas discutiu a produção literária feita na periferia e a maneira como os guias culturais invisibilizam os eventos culturais realizados fora do centro das metrópoles. Participaram da mesa Crônica Mendes; Bruno Ramos, da Liga do Funk; Sergio Vaz, da Cooperifa, Allan da Rosa, blogueiro da Fórum e das Edições Toró, e Elizandra Souza, da Ação Educativa.
O rapper Crônica Mendes falou sobre a sua entrada no rap e de como ele e os seus companheiros de cultura eram taxados de “bandidos” e não de “agitadores culturais”. “Ninguém via a gente como agitador cultural e nem articulador de cultura, éramos taxados de marginais e bandidos”, criticou Mendes.Ele também falou sobre o significado do movimento hip-hop. “Não existe movimento rap, o rap é apenas um grão de uma cultura chamada hip-hop... E eu sobrevivi aos anos 1980, 1990 graças aos rap”, comentou Mendes. “Hoje a periferia vive uma efervescência cultural, ficou pequena para nós e é por isso que estamos ocupando o centro da cidade”, finalizou.
Na seqüência falou Bruno Ramos, da Liga do Funk, que narrou parte de sua trajetória até encontrar a cultura do funk que, segundo ele, o salvou de caminhos que já havia trilhado. Posteriormente, o membro da Liga falou sobre a presença do consumismo em algumas letras de funk. “A culpa não é do funk, esse consumo está aí há décadas. O problema é a ausência do poder público que não quer fomentar as nossas ideias”, criticou.
O poeta Sergio Vaz, da Cooperifa, centrou a sua fala sobre a atual disputa política que se instalou no Brasil. “Eu tô adorando esse Brasil de hoje: esquerda X direita. De um lado, os guerreiros, e do outro, os bundões. Esse ódio não é novo e desde sempre eles tiveram ódio de nós, talvez, agora, eles tenham incluído novas pessoas nesse ódio”, disse. Ele criticou também a relação de setores da esquerda com os grupos da periferia. “A esquerda não entende a periferia, não adianta ir lá de quatro em quatro anos. E ainda teve gente que foi lá pra dizer que a periferia esta alienada, votando na direita... Agora, esses amigos que apareceram nesses três meses sumiram. Tem muito revolucionário pra pouca Cuba”, finalizou.
Allan da Rosa falou um pouco dos cursos educacionais que dá em bairros da periferia e tratou da disputa pelos espaços. “Disputa: a questão é de classe, de raça e de gênero. Essa é a disputa”, disse, questionando: "E como vamos disputar o espaço editorial com editores racistas?”. O escritor também criticou a educação ensinada nas escolas, a qual classificou como “cartilha do racismo”. Para Allan da Rosa, é necessário criar uma intersecção entre o saber popular e o acadêmico. “Disputar espaços é propor samba e geografia”, analisou.
Organizadora do Guia Cultural da Periferia e membra da Ação Educativa, Elizandra Souza contou a história do coletivo que fundou, Mjiba, que teve o seu nome inspirado em guerrilheiras da Namíbia. Tratou também da divulgação cultural pelos meios de comunicação. “O mapeamento da cidade que eu tenho é outro, que não vai estar no Guia da Folha”, ironizou. Por fim, Elizandra Souza comentou sobre a sub-representação das mulheres no hip-hop. “As mulheres antes eram convidadas, por isso fazemos o Mjibas em Ação, para visibilizar o trabalho feito pelas mulheres na poesia e na música. O Mjiba nasceu dessa inquietação de gênero”, finalizou.