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Eduardo Jorge e Luciana Genro protagonizaram o momento de maior tensão no debate da Rede Globo, quando disseram a Levy Fidelix que ele devia desculpas ao povo brasileiro por seu discurso de ódio contra as LGBT
Por Marcelo Hailer
Aconteceu na noite desta quinta-feira (2) o debate da Rede Globo com os presidenciáveis, que marca o fim da campanha eleitoral na televisão. O primeiro bloco, além do confronto entre Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB), ficou marcado pelo momento em que Eduardo Jorge (PV), ao dirigir a sua pergunta para o candidato Levy Fidelix (PRTB), pediu que ele se desculpasse com a população brasileira.
“Na segunda-feira de madrugada (durante o debate da TV Record), você extrapolou todos os limites. Pretendo que o senhor peça perdão à sociedade brasileira”, disse Eduardo Jorge. Em sua resposta, Fidelix declarou que o candidato do PV não tinha moral. “Você não tem moral nenhuma para me falar isso. Você propõe que o jovem fume maconha, isso é apologia ao crime. Eu não fiz nenhuma apologia”, afirmou o candidato do PRTB, que no debate da TV Record declarou que a “maioria (heterossexual)” deveria se levantar contra a “minoria (LGBT)”.
Na tréplica, Eduardo Jorge respondeu a Levy Fidelix que vai encontrá-lo “na Justiça” e ainda completou dizendo que Fidelix “envergonha o Brasil”. Posteriormente, o embate se daria entre Fidelix e Luciana Genro (PSOL). Na mesma linha de Eduardo Jorge, a candidata psolista criticou a postura do adversário e o classificou como “nazista”.
“Você humilhou milhares de pessoas com aquele discurso homofóbico, que incitou uma suposta maioria a tirar direitos de uma minoria, isso já aconteceu com a escravidão, com o holocausto. O teu discurso é o mesmo que os nazistas utilizaram contra os judeus. Tu te encorajas a fazer esse discurso porque a homofobia, infelizmente, não é crime”, criticou a candidata.
Se o primeiro bloco foi marcado pela tensão entre Eduardo Jorge, Luciana Genro e Levy Fidelix, o segundo com certeza será lembrado por um dos maiores constrangimentos em debate ao vivo. De acordo com as regras, um tema seria escolhido e o candidato teria de fazer uma questão sobre o assunto sorteado. Em sua vez, o candidato pastor Everaldo (PSC) pegou o tema Previdência. Porém, ao elaborar a sua pergunta para Aécio Neves, ignorou o sorteio e entrou no tema do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Ele foi interrompido pelo apresentador William Bonner, que o lembrou do tema e pediu para refazer a sua pergunta. “Candidato, qual é a sua proposta para a Previdência?”, se limitou a dizer o constrangido candidato do PSC.
O segundo bloco ainda contou com confronto direto entre Marina Silva e Dilma Rousseff a respeito da autonomia do Banco Central (BC). A candidata do PSB levantou a hipótese de que Rousseff, na campanha de 2010, era favorável à independência do BC e questionou qual Dilma estava presente no debate. “Você está confundindo autonomia com independência. Independentes são só os poderes legislativos e judiciários. Sempre defendi a autonomia, só não acho que ela tem que ser legalizada, ela tem que ser uma opção segura de cada presidente. Sugiro que a senhora leia o que escreveram no seu programa. Autonomia é uma coisa, independência é outra”, explicou Dilma Rousseff.
Em sua réplica, Marina Silva disse que a resposta de Dilma Rousseff era típica de alguém sem experiência que “nem vereadora foi” e que por isso não tinha clareza das instituições públicas. “É interessante (isso) vindo de alguém que defende a ‘nova política’. Então, para ser presidenta tenho que ser vereadora, deputada, governadora, ou seja, nos moldes da velha política. Na minha opinião, qualquer brasileiro pode ser presidente da República”, respondeu a candidata do Partido dos Trabalhadores.
Dilma e Aécio travariam embate direto na questão de habitação popular, quando o candidato tucano disse à petista que vai manter o Minha Casa Minha Vida. “Os bons projetos devem ser continuados. Por exemplo, o Bolsa Família, que foi aprimorado (se referindo ao modelo do governo FHC). No meu governo, o Minha Casa Minha Vida vai ter foco em até 3 salários mínimos, renda que o seu governo não consegue atingir”, disse Neves.
“Um programa (Bolsa Família) que atinge mais de 14 de milhões de pessoas não tem nada a ver com um programa (do governo FHC) que era fatiado e não atingia 2 milhões de pessoas. Você não conhece o Minha Casa Minha Vida. O maior subsídio do programa é para quem ganha até R$ 600”, respondeu a presidenta e candidata à reeleição.
No momento seguinte, Dilma e Marina trocariam acusações sobre leniência com a corrupção. “Eu apresentei um programa de governo, mas você (Dilma), não, e o Aécio também. Na eleição passada, você assumiu vários compromissos e nada do você prometeu foi cumprido”, questionou Marina Silva. “Cumpri todos os compromissos. O Brasil pratica a menor taxa de juros, não houve governo que combateu a corrupção como o meu, não nomeamos engavetador da República e demos autonomia para a Polícia Federal”, respondeu Dilma.
Porém, a candidata socialista voltou a atacar. “Dilma, você não cumpriu com os seus compromissos e você varreu a corrupção para debaixo do tapete”, atacou Silva. “Marina, vamos colocar os pingos nos 'is': o seu diretor do Ibama foi afastado do meu governo por corrupção e não disse por aí que você o acobertou”, respondeu a candidata do PT.
Dilma e Aécio voltaram a se enfrentar, mas agora o tema era Inflação. “A senhora disse que a inflação está sob controle, deve considerar o crescimento de 2,2% do Brasil adequado. A senhora fracassou na política econômica?”, perguntou o candidato tucano. “Sou bem-sucedida quando comparada aos seus antecessores, que quebraram o país três vezes. O senhor nega a realidade do que aconteceu no Brasil no período que vocês governaram, vocês desempregaram 12% da população brasileira, taxas de juros bateram todos os recordes e colocaram o Brasil de joelho para o FMI”, respondeu Dilma Rousseff.
Com a exceção de alguns poucos momentos, o debate da Rede Globo foi morno e pouco deve influenciar as intenções de votos que vêm sendo divulgadas nos últimos dias. Destaca-se o desempenho do candidato tucano frente a Marina Silva que, assim como no debate da TV Record, esteve apagada e preferiu os embates com Dilma Rousseff, que está isolada em primeiro lugar. Mais uma vez, foram as candidaturas de Luciana Genro e Eduardo Jorge que propiciaram alguns dos momentos mais interessantes do debate ao trazerem temas como regulamentação de substâncias ilícitas, questões LGBT e descriminalização do aborto.
Foto: PSOL