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Dividido entre os palcos e o cargo de secretário de Cultura da Paraíba, o músico fala da sua carreira, da questão racial e também opina sobre a polêmica das biografias
Por Igor Carvalho
Esta matéria faz parte da edição 128 da revista Fórum. Compre aqui.
Aos 8 anos, ele já vendia música. Era em Catolé do Rocha, no Alto Sertão paraibano. A Lunik, loja de discos e livros que ficava na cidade, foi o primeiro contato que Chico César teve com o universo que passaria a habitar na vida adulta.
“Respeitem meus cabelos, brancos”, pede ele que, um dia, na juventude, teve a cabeça raspada após denunciar que um policial o havia tentado agredir. “Foi barra-pesada”, lembra o cantor. “Me deram logo uma coronhada na cabeça e depois cortaram meu cabelo, deram banho de água gelada e me fizeram varrer todo o quintal.”
Na entrevista a seguir, Chico refuta o título de contestador político e social: “Minha contestação é amorosa, movida pela afetividade.” Sobre a polêmica das biografias, se coloca em lado oposto ao de Caetano Veloso, Roberto Carlos, Gilberto Gil e Chico Buarque. “A vida é de cada um, é pessoal, mas a história ou o modo de contá-la é de todos, é coletivo”, acredita.
Hoje, o músico se divide entre os palcos do Brasil e seu gabinete na Secretaria de Cultura da Paraíba, onde assumiu a chefia da pasta em 2010. “O que tem é para todos. Pra mim, a discussão conceitual interessa muito e temos travado essa discussão aqui no estado. Cultura como instrumento de cidadania e de sentimento de pertença, distante dos ditames do mercado.”
[caption id="attachment_37186" align="alignleft" width="300"] (Turismobahia / Flickr)[/caption]
Fórum – O trabalho, aos 8 anos, em uma loja em Catolé, foi o seu primeiro contato com a música?
Chico César – Na verdade, não. Ali foi o meu primeiro contato com o produto música e seus suportes, LPs, compactos simples e duplos. E o meu primeiro contato com a pirataria, ainda ingênua e romântica, das fitas cassetes de 45, 60, 90 e 120 minutos montadas a pedido do cliente.
Meus primeiros contatos com a música datam mesmo do comecinho de minha vida, de ouvir minha mãe cantar pra mim as cantigas de ninar, o “chô, chô, pavão, sai de cima do telhado” e de ouvir minha mãe cantar pra Deus os seus benditos tão bonitos quanto penosos, sofridos. Data daí também escutar a música de meu pai e seus primos brincando o reisado de novembro a 6 de janeiro. Mas essa música estava longe do mercado, bem como a música dos vaqueiros que passavam aboiando em frente a nossa casa na zona rural, e música dos violeiros e emboladores de coco das feiras e das cantorias de pé de parede, debaixo das latadas.
Essa música me marcou profundamente e foi surpreendente pra mim ver que música era vendida numa loja, que as pessoas tinham apreço por determinados artistas, esperavam seus discos e pagavam por eles. O encontro dessas duas vertentes, da música espontânea, cotidiana, e da música-produto foi fundamental para meu entendimento de gente e depois de artista, pois esse encontro se deu muito cedo, ainda quando eu tinha só 8 anos de idade.
Fórum – Muita música era consumida em Catolé?
Chico César – Consumia-se muita música em Catolé do Rocha, sim. Desde cedinho, no rádio, com os violeiros improvisando e cantando suas canções, mandando recado para as populações sertanejas. Havia um carro de som, uma caminhonete Rural com umas difusoras em cima, comandada por Chico Cardoso, que fazia propaganda de loja, de cinema, de festa e também dava “notas de falecimento”. Tudo com música, o tempo inteiro. E às 6 da tarde a igreja tocava a “Ave Maria”, de Gounod ou de Schubert, e depois emendava uma sessão de música erudita. A cidade toda ouvia aqueles clássicos enquanto voltava pra casa, alguns casais já começando a chegar pela praça. Aquela música também fez a cabeça da gente. E havia música na rodoviária o tempo inteiro, e nos parques de diversão, nos circos e no cinema.
Sim, o cinema também era usado para shows de artistas populares como Ronnie Von, Waldick Soriano, Teixeirinha. Nas feiras, também aconteciam shows, happenings, performances. Eu mesmo vi Luiz Gonzaga em cima de um carro cantando numa praça em Catolé, acho que fazendo propaganda do Fumo Dubom. E o povo comprava muitos discos. Quando digo o povo, digo todo mundo: os bancários, os comerciantes, os matutos em dia de feira. Era um produto popular, o vinil.
Fórum – O gosto era mais democrático naquela época? Menos segmentado?
Chico César – Havia de tudo e havia público pra tudo. A mesma pessoa que comprava o disco de Dominguinhos podia levar junto o de Moacyr Franco, e o outro que comprava o de Odair José podia levar o do Caetano Veloso. Não podemos esquecer que era outro o rádio daquele período e que as músicas de Chico Buarque tocavam no rádio. Pra vocês terem uma ideia, lá nós vendíamos Marinês e sua Gente, Kraftwerk, Secos e Molhados, Mauro Celso. Tudo mesmo. Nunca havia devolução do que era encomendado. Podia até demorar um pouco, mas vendíamos. Vendemos muito a Orquestra de Paul Mauriat, Erlon Chaves, Jacob do Bandolim, ou seja, música instrumental. Tempo bom, de ouvidos limpos.
Fórum – Quando Catolé começou a ficar pequena para o Chico?
Chico César – A minha mãe me deu o sinal no dia em que cheguei bêbado em casa com 15 anos de idade e as costas todas lanhadas de uma queda na garupa de uma moto. “Meu filho, esta cidade está pequena demais pra você. Agora escolha: você quer ir pra Natal ou pra João Pessoa?” A distância era a mesma praticamente, e eu já tinha terminado o que na época se chamava o 2º Científico, já tocava e me apresentava em outras cidades com o Grupo Ferradura, levando os prêmios dos festivais, e ainda trabalhava no Lunik, a loja de discos e livros. Mas sobrava tempo e hormônios pra farra, isso a preocupava. Natal, no Rio Grande do Norte, podia ser bom, pois eu tinha uns amigos poetas lá, e lá também moravam duas irmãs minhas. Mas escolhi João Pessoa, pois já havia me apresentado na capital paraibana, na Escola de Teatro Piollin, e acompanhava a cena musical pelos jornais.
Estamos falando de 1979 e da explosão da música nordestina com Zé Ramalho e Elba Ramalho. Havia ainda Vital Farias e Cátia de França que despontavam nacionalmente. Eu ambicionava fazer parte da cena local do estado, ao lado de nomes como Braulio Tavares, Ivan Santos, Pedro Osmar e Paulo Ró, Dida Fialho, Livardo Alves, Tadeu Mathias. Essa turma aparecia nos jornais do estado, eu acompanhava, queria ser um deles. E havia uma paixão também, uma ex-colega de classe lá em Catolé, que havia se mudado alguns anos antes e depois nós começamos a trocar umas cartas cheias de amores platônicos. Estava doido para desplatonizar a relação e fui pra João Pessoa, morar na Casa dos Estudantes caindo aos pedaços na Rua da Areia, no baixo meretrício da capital. Lugar de fazer medo pra um menino do interior, mas sabia que era importante vir pra João Pessoa e me virar. Deu muito certo. Fui adotado pelo Grupo Jaguaribe Carne, dos irmãos Pedro Osmar e Paulo Ró. Ali me senti protegido e pronto para entrar finalmente na vida adulta.
Fórum – Quando que você passa a refletir sobre a questão racial?
Chico César – Desde sempre ou quase sempre. Meu irmão Gegê, que veio a se tornar liderança nacional do Movimento dos Sem-Teto, foi preso em 1969 por fazer parte do movimento estudantil de resistência à ditadura militar – quando eu tinha só 5 anos. Aquilo me marcou muito. Depois entendi que as razões eram amplas, e o próprio Gegê foi me fornecendo elementos para minha compreensão.
Depois que se mudou para São Paulo, ele me enviava jornais da imprensa alternativa: O Trabalho, Em Tempo, Movimento etc., mas desde a sua primeira prisão (ele foi preso várias vezes), sinto que ficava um pouco no ar o fato de ele ser negro, de os soldados falarem algo ou sugerir. E minha mãe sempre nos pedia para evitar se meter em confusão de brancos, ela dizia que sempre iria sobrar pra quem fosse negro. Depois, quando tinha 16 anos, também fui preso ao denunciar num quartel em Catolé do Rocha a tentativa de agressão que sofri de um policial armado e à paisana que estava junto com um marginal local.
Foi barra-pesada. Me deram logo uma coronhada na cabeça e depois cortaram meu cabelo, deram banho de água gelada e me fizeram varrer todo o quintal do quartel. Isso me marcou intimamente, mas não foi o suficiente para me fazer ficar muito tempo no movimento negro em meu tempo de universidade. Achava que as discussões segregavam demais, e havia tanta coisa interessante pra fazer junto com todo mundo. Pode ser alienação, mas ainda penso um pouco assim, apesar de entender a importância do movimento negro e de colaborar com ele histórica e pontualmente.
Já em São Paulo é que vim me perceber mais como negro mesmo. E isso me deu uma alegria imensa. Creio que é por isso que minhas músicas que tratam da negritude são alegres: “Mama África”, “Mand’ela”, “Filá”, “Tambores”, “Respeitem meus cabelos, brancos”... Não são lamentos, são celebração. Antes eu tocava quase sempre sentado com o violão. Em São Paulo, passei a tocar sempre em pé, a incluir o corpo na parada. É como se me sentir negro tenha me colocado de pé, me levantado.
Fórum – Como foi sua chegada em São Paulo e que dimensão a cidade ocupa em seu êxito artístico?
Chico César – Minha chegada em São Paulo foi gloriosa. Meu irmão Gegê foi me buscar na Rodoviária Tietê na Kombi do Sindicato dos Coureiros, que na época era dirigido por Paulo Skromov. Me pegou e foi me levar na rua Aspicuelta, na Vila Madalena dos anos 1980, na casa de uma amiga minha chamada Malu Fontenele, uma historiadora e jornalista que morava com a mãe, dona Débora Fontenele, uma executiva da Nestlé. Era uma noite linda de lua cheia, 16 de maio de 1985. Me lembro que, ao chegar naquilo que as pessoas chamam de um aprazível bairro familiar, eu disse: ‘A televisão mostrando só enchentes, engarrafamentos e a Rota na rua queria me enganar, não queriam que eu viesse pra São Paulo’. Foi amor à primeira vista.
Quando acordei no dia seguinte, fui me sentar na calçada e eis que vem caminhando, todo encapotado, um sujeito muito misterioso em minha direção. Veio e passou. Era o Arrigo Barnabé. Fiquei boquiaberto, logo no primeiro dia de São Paulo ver um dos pilares da vanguarda paulista, era muita sorte. Fiquei deslumbrado com isso. São Paulo nunca me meteu medo, gosto demais desse lugar enorme e caótico. Talvez porque já tinha ido a Recife sozinho com apenas 11 anos de idade para comprar discos e livros e pagar duplicatas de meu chefe. De Recife tive medo, mas me saí bem. Então, depois de Recife, podiam vir São Paulo, Tóquio, Nova Iorque. Vieram, e eu não tremi mais.
São Paulo é uma cidade parceira pra mim. Ali eu consegui me reinventar, insuflar negritude e alegria em minha música nordestina. Ali vivi dez anos até gravar meu primeiro disco, que só poderia ser feito e aceito em São Paulo, em nenhum outro lugar do País naquele momento. Ali tenho minha casa, estúdio, vários amigos. Sou doido por Sampa, não tem jeito.
Fórum – Você é gravado por muitos intérpretes, mas já recusou o pedido de alguém? O Roberto Carlos pediu música pra você também?
Chico César – Pra mim, é um mistério que minha música tenha interessado a tantos intérpretes e tenha se espalhado por tantas casas e ouvintes tão diversos. Xangai, Sting, Quinteto Violado, Renato Braz, Pedro Aznar, Pedro Guerra, Simoni, Maria Bethânia, Zizi Possi, Gilliard, Daniela Mercury, Emílio Santiago, Ivan Lins... Uma infinidade de gente já gravou músicas minhas. Isso me dá uma felicidade besta, pois nunca esperei. Nunca recusei nenhum pedido, autorizo tudo. Tenho dificuldades para aceitar encomendas, pois não sei trabalhar assim, as composições não saem. Sou do tipo espontâneo ainda, que espera o corisco da inspiração pra sair tocando fogo nas ideias.
Sim, Roberto Carlos me pediu uma música, através de seu diretor musical, o pianista Eduardo Lajes. Acabei compondo “Pensar em você”, mas ele não gravou. Seria uma honra ser gravado por ele, mas não tem problema, há outras e tantas honras que me chegaram como dádivas. Sou grato ao simples fato de ele ter pensado nessa possibilidade. Vendi seus discos e ouvi muito as músicas dele com Erasmo Carlos, além de suas interpretações de outros autores, algumas inigualáveis mesmo.
Fórum – Falando em Roberto Carlos, como está se posicionando nessa história das biografias?
Chico César – A vida é de cada um, é pessoal, mas a história ou o modo de contá-la é de todos, é coletivo. No começo, fiquei um pouco encafifado com essa história do direito à privacidade e tal, mas depois a liberdade de expressão falou mais alto. E é ela que deve falar mais alto sempre. A vida é só uma, mas a história são versões, é plural mesmo. Tem de ser.
Fórum – O mesmo autor de “À primeira vista” e “Onde estará o meu amor” fez “Dá licença M’” e “Respeitem meus cabelos, brancos”, ou até mesmo “Béradêro”. O que lhe é mais necessário falar, do amor ou dos nossos problemas sociais?
[caption id="attachment_37190" align="alignleft" width="454"] (Ministério da Cultura)[/caption]
Chico César – Do amor, sempre. Todas as minhas canções são de amor. A minha contestação é amorosa, movida pela afetividade. Se me tomo de um ou outro tema, desta ou daquela questão, é o afeto que me aproxima e que me faz abordar, questionar, tratar. É preciso pensar no amor como instrumento de equilíbrio social e não como fator de alienação. Quando vejo meu irmão no centro de São Paulo lutando pelas travestis sem casa, pela gente dos cortiços, pelos que não têm pra onde voltar, penso que isso é um gesto político movido pelo amor, por exemplo.
Fórum – “A prosa impúrpura do Caicó” é um trocadilho com o “A rosa púrpura do Caicó”. O seu “Tudo é descrença e fé” dialoga com a mistura de realidade e fantasia do Allen?
Chico César – É um jogo de palavras, sim, com o nome do filme, que só veio depois da música pronta. Eu vi o filme bem antes e adoro, como gosto de várias coisas de Woody Allen, mas ele não tem uma ascendência direta sobre a canção. Repito: depois de feita a canção, remeti-me ao título do filme. A canção joga com contradições, justaposições, uma espécie de surrealismo numa realidade cotidiana de cidade do interior e, mais do que isso, das contradições dentro da própria pessoa. O filme joga basicamente com realidade e ficção, pelo que eu me lembro. Em mim, quando uma coisa influencia outra, não se dá assim pão-pão queijo-queijo. É tudo menos definido e mais livre, é por contaminação.
Fórum – Em Béradêro, você fala de “Praça de Guerra, onde o homem bode berra”. Qual a relação que isso tem com Catolé?
Chico César – Total: Catolé do Rocha é o nome da praça onde começou a Chacina de Vigário Geral, no Rio de Janeiro, no fim de agosto de 1993. A praça tinha esse nome porque conterrâneos meus lá se instalaram anos antes. Eu já tinha a música “Béradêro” sem essa “coda” quando li a notícia numa banca de jornal da Avenida Paulista ao lado do Cine Belas Artes. Foi quando a Folha de S. Paulo havia começado a ilustrar as notícias com uma espécie de roteiro em quadrinhos, e aquilo me chocou muito: o nome de minha cidade, violenta desde suas guerras entre coronéis até hoje, associada àquela matança absurda no Rio de Janeiro. Pedi uma caneta a alguém e escrevi esse verso num papel. Nem precisava, ele não saía da minha cabeça. Estava lá, com melodia e tudo.
Fórum – Você assumiu a Secretaria de Cultura da Paraíba em 2010. Tem conseguido equalizar a falta de recursos que, em geral, afeta as pastas de Cultura?
Chico César – Não, a Secretaria de Cultura na Paraíba, nós a criamos, espalhamos pelo estado com 12 articuladores, tornamos paritário o Conselho de Cultura, dobramos o valor do edital do Fundo de Incentivo à Cultura e do edital específico para o audiovisual, aderimos ao Sistema Nacional de Cultura e trabalhamos arduamente para que mais de cem municípios também fizessem sua adesão, criassem seus sistemas municipais. Realizamos uma belíssima conferência estadual de cultura, com forte participação de todas as regiões. Sinto-me contente com o que conseguimos alcançar até agora. Não são régios os recursos, mas são republicanos. O que tem é para todos. Pra mim, a discussão conceitual interessa muito. E temos travado essa discussão aqui no estado. Cultura como instrumento de cidadania e de sentimento de pertença, distante dos ditames do mercado.
Fórum – E os editais? Há uma forma de fazer com que os recursos não acabem nas mãos das mesmas produtoras e artistas de sempre?
Chico César – Edital até aqui tem sido a forma mais democrática de colocar os recursos à disposição da sociedade. Agora, é preciso desburocratizar os editais, fazer os Ministérios Públicos e Tribunais de Conta entender que um festival de violeiros é algo bem diferente de uma licitação para calçar uma rua. Se não houver esse entendimento e regras mais brandas e específicas para algumas áreas – e a cultura é uma delas –, vamos ficar engessados e não conseguiremos dar as respostas que a sociedade exige. Há avanços, mas tudo é muito lento. Temos de simplificar esses editais e o Brasil precisa rever de vez a Lei Rouanet, reforçar o Fundo Nacional de Cultura. E o governo federal tem de repassar essas verbas para os estados e municípios, que é onde as coisas acontecem de verdade. Tem de desconcentrar.
Fórum – Ainda sobre gestão, você entende que o período de Ana de Hollanda no Ministério da Cultura foi um retrocesso em relação aos avanços conseguidos pelo Gilberto Gil?
Chico César – Não creio. Águas passadas. Houve muitos avanços nas gestões de Gilberto Gil e de Juca Ferreira, mas estamos falando da gestão de Lula, aquele de “nunca antes na história desse país”, certo? Esse foi um tempo de encantamentos. A gestão de Dilma veio para dar uns choques de realidade na gente, com uma visão mais tecnocrática. Tudo é assim mesmo: respira/inspira, corre/descansa. Lula foi muito ambicioso pela cultura, a quebra de paradigmas se deu toda com ele, Dilma chegou para viabilizar parte do que foi pensado nas gestões do Lula. E ela está fazendo isso, no ritmo dela e com as pessoas que julga preparadas para executar seu projeto, inclusive que gozam de sua confiança. É preciso retomar com força a questão dos Pontos de Cultura e avançar, fazer justiça social distribuindo recursos e oportunidade de expressão para o Brasil profundo.
Fórum – Há ritmos estigmatizados e marginalizados no Brasil, como o funk, ou o “melody” no Pará. O que pensa dessas manifestações?
Chico César – Acho que essas manifestações têm sua importância superdimensionada pela mídia. Deixa os caras fazerem e pronto. Claro que há coisas boas no meio disso tudo. Dia desses, comentava com um amigo guitarrista que a base do funk, botando mais uns tambores de verdade, poderia ser muito boa pra tocar acid jazz. As misturas estão por vir. E virão. Acho que não dá pra olhar pro Norte do Brasil e só enxergar “melody”. Isso é de uma cegueira tacanha. Tem e sempre teve carimbó, sirimbó, siriá, guitarrada, batuque, marabaixo, toada de boi, lundu. E, bem para além do funk, há samba, jongo, partido-alto. Ficar em torno disso, de música da modinha, é um tiro no pé da diversidade musical brasileira. F