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Parentes, amigos e militantes de direitos humanos pedem fim da violência policial e mais atenção do estado
Por Rodrigo Gomes, da RBA
[caption id="attachment_36199" align="alignleft" width="300"] (Foto: Carlos Gonçalves/RBA)[/caption]
Cerca de 400 pessoas, entre militantes de direitos humanos, amigos e familiares, marcharam ontem (13) na zona norte de São Paulo pedindo justiça para o caso de Douglas Rodrigues,o jovem de 17 anos que foi assassinado pelo policial militar Luciano Pinheiro, de 31, em uma abordagem na Vila Sabrina. O crime ocorreu em 27 de outubro e motivou pelo menos dois grandes protestos na região nos dias seguintes.
“Meu filho foi morto sem motivo algum e o assassino está solto e trabalhando normalmente. Se a lei é para todos, ele tem de ser responsabilizado”, afirmou o caminhoneiro José Rodrigues, pai de Douglas.
O soldado que matou o estudante foi preso no mesmo dia. No entanto, a defesa pediu sua liberação alegando que ele possui residência fixa e vínculo empregatício. Pinheiro foi solto no último dia 5 e responderá ao processo de homicídio culposo em liberdade. O PM alega que a arma disparou por acidente.
O pai de Douglas contesta o argumento. “Disparo acidental? No coração?”, questiona. “Meu filho estava de folga do trabalho. Saiu de casa às 14h e eu perguntei: 'cadê seus documentos?'. 'Tá tudo aqui pai', ele respondeu. Mas não adiantou nada, porque o policial nem perguntou quem era ele”, relata.
A estudante Alana Tanaka, de 18 anos, estava na mesma turma que Douglas, no terceiro ano do ensino médio. Ele concluiria a escola neste ano.
“Ele era um cara de boa, trabalhador. Sempre chamava minha atenção quando eu faltava nas aulas. Não tinha maldade nenhuma”, contou.
A costureira Rossane de Souza, mãe de Douglas, contou que quando chegou ao local, os policiais haviam colocado Douglas na viatura, para levá-lo a um hospital. “Eles não me deixaram vê-lo. Só ouvi ele repetindo 'o que foi que eu fiz'”, disse. Segundo o irmão do estudante, de 13 anos, que estava com Douglas no momento do disparo, ele perguntou ao policial: “Por que o senhor atirou em mim?”.
“Ele morreu sem saber e nós também ainda não sabemos”, disse Rossane. A mãe do jovem afirma que o governo de São Paulo não prestou qualquer assistência à família.
“A gente só ouviu pela televisão que o governador lamentou. Mas ajudar a gente, olhar nos nossos olhos, nada. Nós tivemos de nos virar para pagar o enterro do meu menino”, contou.
Segundo Rossane, o dono da lanchonete que Douglas trabalhava, no bairro de Pinheiros, pagou o período em que ele trabalhou, o que ajudou com as despesas. “Ele saía cinco da manhã para trabalhar. Chegava em casa às quatro, cinco horas. Descansava um pouco e ia para escola. Quando tava animado, me ajudava na costura, brincava com os irmãos”, lembra.
Hoje (15), Rossane vai ao Ministério Público, acompanhada do advogado e vereador Laércio Benko (PHS), que, segundo ela, se dispôs a ajudar a família, para estudar uma ação judicial contra o estado paulista.
A tragédia vivida pela família com o assassinato de Douglas não é a primeira. A avó do jovem, Maria Helena Santana, perdeu um filho há 20 anos, também morto por um policial militar, durante uma confusão em uma festa de rua. “A ferida no meu peito tinha cicatrizado, agora estourou como uma úlcera”.
O ato
A marcha saiu da Escola Estadual Victor dos Santos Cunha, onde Douglas estudava, e seguiu pelas ruas do bairro, com muita emoção e revolta. Amigos do estudante pediam o fim da Polícia Militar, chamavam-na de assassina e reivindicavam a punição do acusado. Os manifestantes seguiram até o local onde o jovem foi morto, com faixas, cartazes e a foto do jovem. Nas paredes, grafites com a frase: “Por que o senhor atirou em mim?”.
O rapper Emicida compareceu ao ato e pediu aos presentes que não deixem a morte de Douglas cair no esquecimento.
“A gente tem uma polícia que não protege o cidadão. Os protestos não podem parar até mudar essa situação. Amanhã pode ser eu, pode ser um dos que está aqui”, afirmou.
Seis viaturas e quatro motos da Polícia Militar acompanharam o ato à distância.
O militante do movimento de familiares de vítimas do Estado, Mães de Maio, Danilo Dara, avalia que a impunidade nos casos de violência praticada por agentes do Estado é praticamente cultural.
“O agente é julgado dentro de uma estrutura política que reafirma a prática violenta. No caso militar, as investigações são conduzidas pelos pares dos acusados. Uma ínfima quantidade de casos é devidamente apurada, responsabilizados e punidos”, afirmou. Para ele a desmilitarização e a criação de ferramentas de controle social são fundamentais para combater a impunidade.
Gabriel Medina, coordenador Municipal de Juventude da capital, avalia que é preciso desenvolver mecanismos de reparação efetivos para familiares de vítimas do Estado.
“É preciso pensar em diversas formas de assistência: psicológica, assistencial, material. Muitas vezes são mortos arrimos de família e as pessoas ficam em situação difícil. Inclusive, em casos que a responsabilidade do Estado seja comprovada, é preciso que haja uma política de indenização, que hoje não existe”, afirmou.
Nos dias seguintes ao assassinato de Douglas uma série de protestos tomou conta da região, com episódios de confrontos com a polícia, toques de recolher, interdições de rodovias e incêndios de carros e ônibus. No dia 28, 90 manifestantes foram detidos após 5 horas de protesto, com bloqueio da rodovia Fernão Dias e incêndio de veículos.