Petróleo, derivados e as veias abertas do pré-sal

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Petróleo, esse tema me incomoda há tempos. Não somente pelos danos ao ambiente, como também à política nacional de desenvolvimento, sobretudo após a sua descoberta na camada do pré-sal. Muitos vêem no petróleo o tesouro redentor a ser extraído das profundezas, cada qual buscando seu quinhão, da justa aplicação em educação, cultura, ambiente e ciência e tecnologia à simples e gananciosa repartição deste sangue negro. Assim, governo, empresas e boa parte da população, comemoram cada indício ou descoberta. Por vezes me pergunto: se a natureza levou centenas de milhões de anos para processar todo este carbono e coloca-lo bem guardado, submerso, distante da atmosfera, dois, três mil metros de profundidade oceânica, camadas de areia, rocha, sal, pré sal... e seremos nós (sim, a nossa geração) que irá, em poucas décadas (e com ainda tão pouco conhecimento), liberar todo esse carbono de volta para o planeta? Qual será a consequência para as próximas gerações? E para o planeta? Inevitável, ao pensar no petróleo do pré-sal, não lembrar da caixa de Pandora e todos os demônios que ela libera. Mas vá lá, vamos admitir que esta exploração seja inevitável e necessária. Será que ela assegura a tão sonhada redenção econômica e social do país? Tenho dúvidas. Analisando o Plano de Negócios da Petrobras (quadriênio 2012/16) essa dúvida se agrava. De um investimento total de U$ 236,5 bilhões, nada menos que 60% (ou U$ 141,8 bi) serão destinados à exploração e produção, enquanto para refino, transporte e comercialização, apenas U$ 65,5 bi (27,7% do total), em petroquímica menos ainda, U$ 5 bi (2,1 %) e para biocombustíveis, U$ 3,8 bi (1,6%). Algo está errado. Esta dúvida se agrava ainda mais quando comparo a revisão feita sobre o Plano de Negócios anterior (2011/15); em percentuais: 57% para exploração e produção, 31% para refino, 2% para petroquímica (neste caso, o atuaL plano fez um acréscimo de 0,1%) e 2% para biocombustíveis. Qual será a intenção? Explorar petróleo em dificílimas condições, produzi-lo aos milhões de barris e exporta-lo em estado bruto? Sem agregar valor algum além do preço definido pelas bolsas de commodities e da qual o país não tem controle algum? Custo acreditar que 512 anos após o primeiro ciclo econômico do país (a extração do pau brasil e sua exportação em toras) ainda se insista em reproduzir um modelo econômico tão subalterno. Ao menos no século XVII, com o ciclo do açúcar, havia alguma indústria de transformação nos engenhos de Pernambuco. Agora, com o petróleo do pré-sal explorado com tamanha avidez, talvez nem isso. Uma pergunta simples. Não seria mais prudente investir um pouco menos em exploração e produção (50% do total de investimentos, talvez) e liberar essa diferença para investimentos que irão agregar mais valor? Atrasando um pouco mais a produção para agilizar mais no refino. Em 2011 o Brasil teve um déficit de U$ 10 bilhões no balanço entre exportação e importação de petróleo e derivados. Fala-se do perigo da desindustrialização do país (e esse perigo é real e visível) e, numa área em que o governo conta com mecanismos e recursos para reverter esse processo, ao invés de incentivar a indústria de transformação, aprofunda-se o processo de primarização da economia. Os dados sobre a importação de gasolina em 2012 (até maio) são ainda mais explosivos: 315% de aumento sobre o mesmo período de 2011, ou U$ 1,4 bilhão em importação de gasolina! Sim, haverá a refinaria Abreu e Lima em Pernambuco, o complexo de refino no Rio de Janeiro e mais duas refinarias menores no nordeste, todas com suas inaugurações adiadas, diga-se. Mas isso é insuficiente em um país que não inaugura nenhuma refinaria de petróleo desde 1980. Qual o caminho que se pretende adotar? Apressar a exploração de petróleo para que ele seja transformado em outros países, e reimportado com valor agregado muito maior? E nossas veias abertas continuarão vertendo sangue para que outros o suguem. Sigo com perguntas e o desejo de que o país encontre um modelo de desenvolvimento sustentável e transformador.