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Na semana passada, publiquei uma história sobre uma possível origem do terreno do Pinheirinho, onde moravam as 1,6 mil famílias expulsas pela polícia e pela Guarda Civil de São José dos Campos. As terras teriam chegado às mãos da Selecta, de Naji Nahas, por caminhos bem tortuosos. A área seria propriedade de quatro irmãos alemães que teriam sido brutalmente assassinados e, sem deixar herdeiros. Por isso a propriedade teria ido parar na mão do Estado.
Essa versão circulou pela internet, com alguns historiadores corroborando a origem das terras do Pinheirinho. Na ocasião, a professora de história da Universidade do Vale do Paraíba (Univap) Valéria Zanetti de Almeida disse ter pesquisado e ouvido depoimentos de moradores antigos, que confirmavam a chacina dos irmãos Kubitzky.
Porém, após a divulgação desse fato, alguns historiadores começaram a levantar outras hipóteses da origem das terras. Na Fórum, também decidimos investigar a história.
Nesta segunda, 30, o repórter da Fórum, Igor Carvalho, que acompanhou toda a violência no despejo da população do Pinheirinho, voltou a São José dos Campos com a missão de encontrar os documentos que confirmassem os 100 anos de história do terreno.
Pois bem, aí vai o que os documentos mostram: Em 1959, o terreno chamado de Bairro do rio Comprido pertencia a Bechara Lahud. Em 10 de fevereiro de 1962, passou para os nomes de Paulo Lahud e Reston Lahud. Em 31 de março de 1975, para Reston Lahud. Em 27 de junho de 1978, Benedito Bento Filho comprou de Reston. E no dia 17 de dezembro de 1982, a área teria sido comprada pela Selecta, pertencente a Naji Nahas.
Com a falência do império de Nahas no final dos anos 1980, o terreno foi penhorado em 4 de dezembro de 1992. Porque desde a compra do terreno, a Selecta não pagava o IPTU, como explicou Denis Ometto, advogado do movimento dos moradores do Pinheirinho.
Os alemães Kubitzky assassinados em 1969, não aparecem na origem do Pinheirinho. Mas, de acordo com a apuração da Fórum, as terras dos irmãos fazem fronteira com o terreno e por isso a área é chamada de Bairro dos Alemães. Foi no Bairro dos Alemães, que cerca de 2 mil famílias ficaram abrigadas numa igreja após serem expulsas do Pinheirinho.
A Fórum ainda está apurando essa história, que ainda tem outros componentes que vão bater na operação Satiagraha.
A reportagem completa será publicada na edição de fevereiro da revista. O mais importante, porém, é que após a penhora, a prefeitura poderia ter tornado a área de interesse social. O que não ocorreu, mesmo com as famílias utilizando-a como moradia desde 2004.
Uma comissão nacional, intermediada pelo governo Lula, em 2006, para propor uma solução sequer foi recebida pela prefeitura de São José dos Campos. Na época, sob o comando do tucano Emanuel Fernandes.
Dessa história toda, nada justifica a violência e a falta de vontade política de governos em encontrarem uma solução para as famílias terem o direito à moradia digna.