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Representante do Ministério do Meio Ambiente na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Rubens Nodari aponta contaminação e aumento do uso de herbicidas como tendência mundial com a adoção de organismos geneticamente modificados
Por Brunna Rosa
De 23 a 25 de julho acontece a IV edição da Festa Estadual Sementes da Paixão, em Patos na Paraíba. Com o tema Semente da Paixão: plantando e colhendo solidariedade e riqueza no semi-árido, a festa pretende fomentar e preservar a cultura de sementes nativas de roçado naturalmente adaptadas à região, isso quer dizer não-modificadas geneticamente.
Essas tradições mantidas por homens e mulheres locais podem garantir a segurança alimentar e a autonomia das famílias do semi-árido brasileiro. Com uma programação de palestras e discussões sobre a construção de um Programa Nacional e Popular de Sementes, discute temas críticos para a agricultura familiar como transgênicos, monocultura, agronegócio e multinacionais.
A organização do evento, a Articulação do Semi-árido Paraibano com o apoio da Articulação do Semi-árido Brasileiro e da Articulação Nacional de Agroecologia espera reunir até o final do encontro duas mil pessoas.
A respeito dos transgênicos, Fórum entrevistou Rubens Onofre Nodari, Gerente de Recursos Genéticos da Secretaria de Biodiversidade e Florestas e representante do Ministério do Meio Ambiente na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Rubens foi um dos palestrantes no encontro e reforçou o temor dos agricultores: “as plantações estão sendo contaminadas cada vez mais com os transgênicos”.
FÓRUM- Qual é a situação dos transgênicos no Brasil?
RUBENS ONOFRE NODARI- A situação dos transgênicos no Brasil sempre foi complicada. Em 1998, a CTNBio aprovou a liberação da soja transgênica, sem os devidos estudos. No entanto uma série de ações na Justiça prorrogou a liberação. A liberação para o cultivo foi aprovada no Congresso Nacional, em 2003. Em 2005, houve a liberação do algodão transgênico e em 2007 do primeiro milho transgênico, o Liberty Link. Atualmente, existe uma decisão judicial que contesta está liberação comercial mais recente. Existe uma controvérsia, na judicialização deste processo, decorrente da ausência de estudos sobre os transgênicos. Talvez a próxima liberação seja o milho Vanguard 210, da Monsanto e mais seis da lista, que incluem algodão, arroz. Aliás, há uma audiência publica marcada para o dia 14 de agosto.
FÓRUM- No caso mais recente, a liberação do Liberty Link há estudos. Como foram realizados?
NODARI- Neste caso, a empresa, no caso a Bayer, optou por realizar análises de composição de proteínas, gorduras, carboidratos etc. Na análise, a mostragem de quantidades desta composição se mostrou similar as demais variedades de milho, quer dizer, as não-transgênicas. Considerando a amostragem parecida, logo a empresa considera que os milhos são equivalentes e seguros. Essa doutrina, da equivalência substancial, não se sustenta. Seguindo esta lógica, um animal acometido pelo mal da vaca louca seria tão segura quanto uma vaca sadia, pois a diferença das duas é apenas um gene. A empresa fez estes estudos, apresentou ao governo e pediu a análise de liberação do milho transgênico. E o governo liberou.
FÓRUM- Existe algum estudo concreto sobre os problemas dos transgênico?
NODARI- Existem estudos esparsos, de pesquisadores independentes em diversas partes do mundo e sobre diversos produtos transgênico. Mas, o pesquisador estuda uma série de coisas especificas. Não há um estudo completo. As empresas não vão realizar estudos, onde possam encontrar problemas. Sobre contaminação, o mundo inteiro já sabe quais são os principais problemas. Plantas resistentes a herbicidas, contaminação nas plantações entre os transgênicos e os não-trangênicos.
FÓRUM- O senhor comenta sobre a quantidade de herbicida utilizada. Com a plantação transgênica, a tendência é aumentar. Mas, a semente geneticamente modificada não sofre a mutação para ser resistente às pragas?
NODARI- Isto é uma avaliação mundial. Nos Estados Unidos o uso do herbicida aumentou, na China, atualmente, gastam a mesma quantidade de herbicida na plantação transgênica quanto na não-transgênica. A tendência é que, conforme os anos passem, a quantidade de herbicida aumente, a semente transgênica torna-se imune ao herbicida utilizado.
FÓRUM- Com a liberação do milho transgênico suspenso por decisão judicial, quais os próximos passos para a liberação ou não?
NODARI- Ou a empresa aceita a decisão ou ela recorre. No caso atual, a União já entrou com embargo de moratório e a juíza negou. A Monsanto quis entrar na ação junto a Bayer e a juíza também negou. O Ministério do Meio Ambiente e a Anvisa [Agência de Vigilância Sanitária] entrou com um recurso no Conselho de Munícipes, contra a decisão da CTNBio. Eventualmente o conselho pode solicitar a CTNBio rever a decisão
FÓRUM- Alguns pesquisadores e acadêmicos apontam o Walter Colli, presidente da CTNBio, como um dos principais interessados na liberação do milho transgênico, devido a suas pesquisas. O que há de real nesta história?
NODARI- Não conheço as pesquisas do Dr. Walter Colli. Mas, há na CTNBio quatro ou cinco membros que desenvolvem pesquisas sobre transgênico ou trabalham para as empresas que tem interesse direto nesta tecnologia.