VIOLÊNCIA DE GÊNERO

Titi Müller revela que passou por "todos os estágios de um relacionamento abusivo"

A jornalista era casada com o músico Tomás Bertoni, filho do ex-ministro da Justiça Torquato Jardim, de quem foi vítima de tortura física e psicológica

Titi Muller revela que passou por "todos os estágios de um relacionamento abusivo".Créditos: Reprodução/ redes sociais
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A jornalista Titi Müller e o músico Tomás Bertoni foram casados por 2 anos. Uma relação marcada por violências físicas e verbais. 

Relatos de Titi Müller à Justiça revelam que, mesmo com o fim do casamento, as violências não cessaram, pelo contrário, aumentaram. "A física, que sofreu ainda casada, juntou-se à institucional", diz a defesa de Müller. 

Em depoimento à Justiça durante o processo de separação, Tomás Bertoni confessou que submeteu Titi Müller a violência física, psicológica e verbal - inclusive no período em que Müller estava grávida. 

A confissão feita por Tomás Bertoni, de que submetia Titi Müller a variadas formas de violência, foi feita sob a condição de que ficasse sob sigilo por 15 anos. Mas, o termo em que Tomás admite as violências não foi incluído na homologação do divórcio. Ele entrou com um pedido de desistência da ação, e Titi concordou. De acordo com a defesa da apresentadora, ela assinou o documento porque - naquela ocasião - não queria entrar em uma batalha judicial.  

 


“Vivi todos os estágios de um relacionamento abusivo” 

 


Em entrevista à revista Marie Claire, Titi Müller resolveu quebrar o silêncio e falar sobre as violências que sofreu.

 "Quis falar porque a minha história é a história de muitas outras mulheres. Quando uma parte do que estou vivendo veio à tona, entendi que minha voz poderia ecoada e, principalmente, que poderia ser usada como um serviço. Veio uma sensação de que isso não está sendo em vão. Minha denúncia é a primeira de violência psicológica a ser acolhida pelo Ministério Público de São Paulo [...] se isso ajudar uma mulher a sair de uma situação de violência, vou sentir que algo valeu a pena", diz Titi Müller.  

A jornalista também afirma que não esperava tamanha comoção em torno de seu caso. "Não esperava nem que o caso fosse público. Demorei muito tempo para conseguir denunciar. Na primeira vez que fui na delegacia, desisti. Lembro de voltar sentada no carro de uma das minhas advogadas chorando, porque essa situação escancara muitas dores e ambivalências. O mesmo privilégio que me levou até a delegacia com duas advogadas também me fez acolher outras mulheres, inclusive dando algum dinheiro para que pudesse voltar para casa. Isso me paralisou. Por outro lado, eu não esperava que as pessoas na internet seriam tão empáticas. Esse apoio me fortaleceu bastante e me tirou um pouco do lugar que eu estava”, relata Müller. 

Müller também explica por que demorou para fazer a denúncia. "Foi o medo do vazamento, porque pensei que não iria aguentar o tranco. Tinha certeza da revitimização que aconteceria e que está acontecendo comigo. Cada vez que o caso é citado publicamente, dá um frio na barriga. Mas aprendi a lidar com a retaliação por parte do meu agressor e das pessoas, que acontece também por eu estar distante do ideal da vítima perfeita", revelou a jornalista. 

Além disso, Titi Müller revela que viveu um período de negação e vergonha da violência pela qual estava passando.

 

"Passei por todos os estágios de um relacionamento abusivo. Quando estamos em um, a gente não sabe. Vivi desde a negação e a vergonha até a coragem de começar a contar para as pessoas mais próximas. Por um ano, me comuniquei por prints para mostrar que o que estava falando era verdade. Foi difícil me ver nesse lugar. No meu corpo, consigo ver totalmente as marcas de desgaste que foram deixadas na minha saúde", conta.   

 

 

"Ninguém escolhe ser uma vítima. As vítimas de violência e os agressores são tão plurais quanto a sociedade. Não existe vacina para a violência doméstica. Tem uma estatística que diz que a cada cinco mulheres, só uma denuncia ou fala o que está acontecendo. E, depois que essa mulher fala, tem uma morosidade grande por parte da Justiça. As mulheres desistem, muitas delas morrem", finaliza Titi Muller.