Morreu nesta sexta-feira (6) Nalu Faria, a principal dirigente no Brasil da Marcha Mundial das Mulheres (MMM). Nalu estava internada desde agosto deste ano com problemas renais decorrentes da insuficiência cardíaca e faleceu nesta tarde em decorrência de uma parada cardiorrespiratória.
Feminista histórica, Nalu era ativista de movimentos sociais no Brasil, influenciando a vida de milhares de mulheres ao longo de sua trajetória.
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Quem foi Nalu Faria
Nalu Faria nasceu em Água Comprida, município na região do Triângulo Mineiro, em Minas Gerais. Entre 1978 e 1982, cursou psicologia na Universidade de Uberaba (Uniube), onde começou a se envolver com a política social por meio do movimento estudantil. Posteriormente, desenvolveu sua militância no Partido dos Trabalhadores (PT), no trabalho de mulheres nos sindicatos e na Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Militante da Democracia Socialista, tendência interna do PT, a psicóloga se envolveu mais com o feminismo ao se mudar para São Paulo, em 1983. Em 1986, passou a atuar na Sempreviva Organização Feminista (SOF), uma das primeiras organizações não-governamentais de São Paulo e referência para formação feminista de vários grupos em vários estados.
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Nalu também foi integrante do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo entre 1996 e 2004 e 2012 a 2020. A instituição prestou homenagens à ex-parceira.
“Nalu Faria parte hoje e nos deixa não só seu legado de luta, resistência e persistência, mas muita saudade. Como ela, temos fé na força que só a organização da luta por justiça e direitos consegue modificar a vida de cada uma de nós. E por este motivo, eternamente, Nalu presente”.
Em entrevista de 2012 para a Revista Estudos Feministas, Nalu conta como foi pensar o feminismo nos anos 1990.
”Questionamos muito sobre qual deveria ser uma estratégia de construção do movimento de mulheres para incorporar os vários setores e também para ter uma agenda mais global que desse conta de pensar na totalidade da problemática das mulheres”.
Marcha Mundial das Mulheres
Foi nessa toada de pensar a melhor forma de articular o feminismo que, em 1998, se iniciaram as primeiras conversas para a realização da MMM. O movimento se iniciou com um grupo de mulheres do Quebec, com a ideia de realizar uma campanha mundial no ano 2000 contra a pobreza e a violência contra as mulheres.
O Brasil participou da articulação da MMM desde seu primeiro encontro internacional. Em 1999, foi realizada a primeira reunião nacional da Marcha. Em 2000, a MMM se iniciou, como uma campanha lançada do dia 8 de março a 17 de outubro (Dia Mundial de Luta contra a Pobreza).
Nalu tornou-se membro do comitê internacional da Marcha e principal dirigente brasileira do movimento, com a SOF trabalhando na comunicação e outras tarefas executivas do projeto. A organização atua até hoje, promovendo diferentes ações voltadas para mulheres.
Atuação até hoje
Paralelamente à atuação no movimento de mulheres, Nalu Faria escreveu diversos artigos de teoria ferminista, bem como publicações e livros, como a coleção “Cadernos Sempreviva” e “Gênero e Educação”.
Em 2022, publicou um artigo que clamava por “radicalizar o feminismo e transformar o país”, em que definiu aquele como “um ano de lutas, crucial para dizermos não ao neoliberalismo, ao autoritarismo, ao negacionismo, e para elaborarmos e afirmarmos como é o país que queremos viver”.
Até seus últimos momentos, Nalu Faria permaneceu envolvida na luta que ajudou a impulsionar e popularizar. Ela deixa três filhos – Iuri, Júlia e Mateus – e uma eterna eterna honra para os movimentos sociais dos quais fez parte e as pessoas que ajudou com eles.