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Quem foi Nalu Faria, feminista histórica que morreu aos 64 anos

Psicóloga era a principal dirigente da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil e deixa um currículo de luta

Nalu Faria discursando em evento em 2022.Créditos: Reprodução/YouTube/Marcha Mundial das Mulheres
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Morreu nesta sexta-feira (6) Nalu Faria, a principal dirigente no Brasil da Marcha Mundial das Mulheres (MMM). Nalu estava internada desde agosto deste ano com problemas renais decorrentes da insuficiência cardíaca e faleceu nesta tarde em decorrência de uma parada cardiorrespiratória.

Feminista histórica, Nalu era ativista de movimentos sociais no Brasil, influenciando a vida de milhares de mulheres ao longo de sua trajetória.

Quem foi Nalu Faria

Nalu Faria nasceu em Água Comprida, município na região do Triângulo Mineiro, em Minas Gerais. Entre 1978 e 1982, cursou psicologia na Universidade de Uberaba (Uniube), onde começou a se envolver com a política social por meio do movimento estudantil. Posteriormente, desenvolveu sua militância no Partido dos Trabalhadores (PT), no trabalho de mulheres nos sindicatos e na Central Única dos Trabalhadores  (CUT).

Militante da Democracia Socialista, tendência interna do PT, a psicóloga se envolveu mais com o feminismo ao se mudar para São Paulo, em 1983. Em 1986, passou a atuar na Sempreviva Organização Feminista (SOF), uma das primeiras organizações não-governamentais de São Paulo e referência para formação feminista de vários grupos em vários estados.

Nalu também foi integrante do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo entre 1996 e 2004 e 2012 a 2020. A instituição prestou homenagens à ex-parceira.

“Nalu Faria parte hoje e nos deixa não só seu legado de luta, resistência e persistência, mas muita saudade. Como ela, temos fé na força que só a organização da luta por justiça e direitos consegue modificar a vida de cada uma de nós. E por este motivo, eternamente, Nalu presente”.

Em entrevista de 2012 para a Revista Estudos Feministas, Nalu conta como foi pensar o feminismo nos anos 1990.

”Questionamos muito sobre qual deveria ser uma estratégia de construção do movimento de mulheres para incorporar os vários setores e também para ter uma  agenda  mais  global  que  desse  conta  de  pensar  na totalidade da problemática das mulheres”. 

Marcha Mundial das Mulheres

Foi nessa toada de pensar a melhor forma de articular o feminismo que, em 1998, se iniciaram as primeiras conversas para a realização da MMM. O movimento se iniciou com um grupo de mulheres do Quebec, com a ideia de realizar uma campanha mundial no ano 2000 contra a pobreza e a violência contra as mulheres.

O Brasil participou da articulação da MMM desde seu primeiro encontro internacional. Em 1999, foi realizada a primeira reunião nacional da Marcha. Em 2000, a MMM se iniciou, como uma campanha lançada do dia 8 de março a 17 de outubro (Dia Mundial de Luta contra a Pobreza).

Nalu tornou-se membro do comitê internacional da Marcha e principal dirigente brasileira do movimento, com a SOF trabalhando na comunicação e outras tarefas executivas do projeto. A organização atua até hoje, promovendo diferentes ações voltadas para mulheres.

Atuação até hoje

Paralelamente à atuação no movimento de mulheres, Nalu Faria escreveu diversos artigos de teoria ferminista, bem como publicações e livros, como a coleção “Cadernos Sempreviva” e “Gênero e Educação”.

Em 2022, publicou um artigo que clamava por “radicalizar o feminismo e transformar o país”, em que definiu aquele como “um ano de lutas, crucial para dizermos não ao neoliberalismo, ao autoritarismo, ao negacionismo, e para elaborarmos e afirmarmos como é o país que queremos viver”.

Até seus últimos momentos, Nalu Faria permaneceu envolvida na luta que ajudou a impulsionar e popularizar. Ela deixa três filhos – Iuri, Júlia e Mateus – e uma eterna eterna honra para os movimentos sociais dos quais fez parte e as pessoas que ajudou com eles.