Liana Cirne, vereadora agredida em ato no Recife, repudia declarações machistas de advogado dos militares

“Não tem cabimento que os homens que me agrediram ainda achem que têm o direito de julgar a maneira como eu me visto, a maneira como eu uso meus cabelos. Isso é só mais uma camada dessas agressões que têm acontecido”, declarou

A vereadora Liana Cirne Lins foi vítima da violência policial - Foto: Reprodução
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A vereadora por Recife (PE), Liana Cirne Lins (PT), divulgou em suas redes sociais um texto, no qual expõe sua indignação diante dos argumentos machistas usados pelo advogado dos militares que a agrediram, no dia 29 de maio, durante manifestação contra Jair Bolsonaro.

“Qual é o problema com minha roupa, meu sapato? Nenhum. Não tem cabimento que os homens que me agrediram, que violentaram meu rosto, meus olhos, da maneira absurda como aconteceu, ainda achem que têm o direito de julgar a maneira como eu me visto, a maneira como eu uso meus cabelos. Isso é muito machista e é só mais uma camada dessas agressões que têm acontecido”, declarou Liana.

“Qualquer pessoa de bom senso, que tenha assistido às agressões contra mim, viu que eu era uma mulher desarmada, conversando com os policiais, me identificando como vereadora e eles dispararam um jato de spray de pimenta a um palmo do meu rosto”, ressaltou.

Assista.

O advogado que defende os militares, Rafael Nunes, fez acusações machistas à vereadora: “Uma mulher que sai de casa com um salto de 15 centímetros, com roupa de gala, bem maquiada, com penteado de casamento, com fotógrafo particular, ela sai de casa com o objetivo de querer aparecer e encontrou uma oportunidade de ouro”, disse.

O advogado afirmou, ainda, que Liana desacatou os policiais. “Ela cometeu crime tipificado no artigo 214 do Código Penal Militar. Ela espancou a honra da instituição da Polícia Militar, que tem que ser respeitada. Ela não pode dizer que os policiais são bandidos fardados”.

Veja a íntegra da resposta de Liana ao advogado:

“O advogado dos policiais que me agrediram, para além de defender versão fantasiosa, cabalmente desmentida pelas provas documentais, a ponto de dizer que os policiais foram vítimas de minha ação, também foi machista. Criticou meu vestido, meu sapato, meus cabelos, afirmando que eu desejava apenas chamar atenção.

Ninguém se coloca como escudo humano frente a duas viaturas com policiais fortemente armados para ‘chamar atenção’. Mas para proteger os demais, sim.

A fotógrafa que me acompanhava estava designada para a agenda de entrega de cestas básicas e visitas a uma comunidade na Zona Sul da cidade, onde inspecionaríamos vários problemas que têm sido denunciados.

Esse compromisso estava previsto para meio-dia. Infelizmente, o telefone do nosso plantão jurídico começou a registrar várias denúncias de abuso policial. Troquei de roupa e me vesti como sempre me visto para exercer meu múnus de advogada: com vestido tubinho e salto alto.

Mas na versão delirante dos policiais, me vesti para uma festa de gala.

Diante de tantas agressões e mentiras, essa violência de gênero poderia passar despercebida.

Mas isso seria um erro.

Denunciar a forma desrespeitosa como nós, mulheres e advogadas (ou médicas ou balconistas ou trabalhadoras domésticas) somos tratadas é um dever!

Por isso, vou apresentar representação contra o advogado junto à OAB, para que responda por suas palavras e atos, evidentemente excessivas e ofensivas, que extrapolam o exercício da função”.