"Nossos corpos ainda são considerados objetos de poder e controle", diz Kenarik Boujikian sobre caso Viviane

Desembargadora aposentada do TJ-SP diz que leis ainda não são suficientes para proteger mulheres, pois Judiciário "retroalimenta" violências

Viviane Arronenzi, juíza que foi assassinada pelo ex-marido (Reprodução)
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A desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), Kenarik Boujikian, cofundadora da Associação Juízes para a Democracia (AJD), destacou em artigo publicado no Universa, neste sábado (26), que o assassinato da juíza Viviane Vieira do Amaral Arronenzi tem como substrato uma sociedade "essencialmente patriarcal".

A desembargadora afirma que, no patriarcado, "há uma desigualdade estrutural de poder, que inferioriza e subordina as mulheres aos homens e no qual nossos corpos ainda são considerados objetos de poder e controle".

Boujikian também alega que as leis de proteção à mulher, como é o caso da Lei Maria da Penha, ainda não são suficientes para conter a violência no país. Segundo ela, "a sociedade machista perpetua a violência contra as mulheres e o Judiciário machista retroalimenta a violência".

"Só existência da lei não altera o quadro de barbárie. A cada 2 minutos uma mulher sofre violência doméstica física no Brasil, como indica o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020", comenta a desembargadora.

Viviane foi assassinada a facadas pelo ex-marido, o engenheiro Paulo José Arronenzi, na véspera de Natal, na Barra da Tijuca. O assassinato ocorreu na frente das filhas do ex-casal, gêmeas de 7 anos e uma de 9. Ela morreu no local e ele foi preso em flagrante e levado para a Divisão de Homicídios (DH).

O engenheiro passou para prisão preventiva na tarde desta sexta-feira (25) após audiência de custódia realizada no Rio de Janeiro. O homem está na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, zona norte do Rio, e vai passar por uma triagem para ser mandado a um presídio.