Anitta, funk, mulheres brancas e mulheres negras

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"Se para as mulheres negras o esforço sempre foi o de provar sua capacidade intelectual para além da bunda, o das mulheres brancas passou a ser o desejo de libertar sua sexualidade". Confira a análise de Andrea Caldas sobre o que representa a polêmica envolvendo o novo clipe da cantora Anitta  Por Andrea Caldas*, em seu Facebook A bunda da Anitta - com ou sem celulite - virou motivo de polêmica e no meio do debate apareceu a discussão sobre o que é "cultura da periferia", o que é etnocentrismo e o que é libertação sexual. Ajude a Fórum a fazer a cobertura do julgamento do Lula. Clique aqui e saiba mais. Me permito alguma reflexões: 1. O corpo da mulher sempre foi objetificado e vendido como publicidade associada ao turismo brasileiro. 2. O corpo da mulher negra sempre foi o produto "mais vendido" - desde os tempos das capitanias hereditárias. 3. As mulheres de classe média e brancas, ao contrário, sempre foram reprimidas na expressão de sua sensualidade já que seu papel funcional era o de ser esposas e, eventualmente, mulheres bem sucedidas. 4. Se para as mulheres negras o esforço sempre foi o de provar sua capacidade intelectual para além da bunda, o das mulheres brancas passou a ser o desejo de libertar sua sexualidade (sem desconsiderar as exceções e contradições, de lado a lado). 5. Não por acaso, a Marcha das Vadias, com o mote do direito à exposição do corpo, tem apelo mais forte entre mulheres jovens de classe média. 6. Na periferia, o direito à exposição do corpo da mulher não é uma questão (a não ser em comunidades evangélicas) mas, uma opressão. Porque "novinha" é negociada entre traficantes e a prostituição é forma de sobrevivência. 7. Querer se travestir de uma cultura que não é a da sua origem, sem entender o contexto e contradições, é uma forma de etnocentrismo invertido - e arrogante! 8. Precisamos falar de violência sexual. 9. Nem tudo o que parece libertador na superfície, de fato o é na essência. 10. É preciso não confundir cultura popular com a sua apropriação pela indústria cultural. P.s: Não é de hoje que mulheres de classe média e alta se esbaldam em ritos de libertação de fim de semana, nos bailes da periferia, para voltar ao seu status quo nos dias úteis. *Andrea Caldas é diretora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR)