Fórum - Como e quando você se envolveu com tecnologia?
Cindy Hoang - Ainda me lembro do dia em que descobri como instalar um jogo no computador – foi quando pude tocar um pela primeira vez, e acho que isso me conduziu a essa área. Isso aconteceu quando eu estava no Jardim de Infância. Quando estava na 5ª série, comecei a jogar online, o que também me marcou muito. Eu estava tão intrigada e fascinada pela maneira com que podia me conectar a outras pessoas online e jogar com ela o mesmo jogo e ao mesmo tempo... Então, quando entrei para a 7ª série, descobri como criar meu próprio servidor exclusivo para um jogo chamado MapleStory. Ele demandava tantos códigos e conexões que até hoje me pergunto como consegui fazê-lo funcionar. Era muito prático e podia customizar literalmente qualquer coisa no jogo. E o mais importante: funcionava online. Pedi para alguns amigos testarem comigo e nos divertimos muito sendo os mestres do jogo. Dali em diante, apenas continuei procurando por oportunidades relacionadas ao campo da tecnologia e programação. Encontrei o iD Tech e o Girls Who Code – ambos mudaram minha vida.
Fórum - Quando as áreas de tecnologia e engenharia se tornaram, de fato, possíveis carreiras para você?
Hoang - Desde quando eu era criança, sonhava em ser médica. Era o perfeito estereótipo asiático – tinha que ir bem na escola e me tornar médica, porque essa é uma carreira que dá dinheiro e te dá o poder de curar as pessoas. Foi lá pela 5ª série que as coisas realmente começaram a mudar para mim. Compramos um computador com Windows Vista em uma liquidação da Black Friday, e aquilo foi muito empolgante. Quando comecei a usá-lo, senti como se minha vida estivesse completa. Meus pais sempre me pediam para ajudá-los, porque eu era muito rápida quando se tratava de algo relacionado à área tech. Me interessei tanto por computadores e tecnologia que dizia para todo mundo: "Não sei o que quero ser quando crescer, só sei que quero fazer algo com computadores."
Fórum - Por que acha que meninas não se interessam muito por essa área?
Hoang - Meninas, em sua maioria, não se vêem sentadas em frente a computadores o dia todo ou construindo coisas. As pessoas normalmente associam "construção" ao universo masculino e "cozinha" ao universo feminino. É o que acontece. Até quando crianças, somos ensinados que meninas devem brincar com Barbies e pôneis, enquanto os meninos brincam com caminhões e robôs. Quando ouvimos o termo "engenheiro", pensamos em homens construindo grandes estruturas e operando máquinas para fazer acontecer. É raro pensarmos em mulheres fazendo o mesmo. Quando estava recrutando o pessoal para entrar em meu clube de programação, perdi as contas de quantas garotas passaram por mim e disseram: "Não sou inteligente ou boa o suficiente". Existe essa falta de segurança e confiança da parte das meninas no que diz respeito à tecnologia. Vemos os garotos ansiosos para consertar coisas, como o projetor ou algum problema que apareceu na tela de computador, e pensamos que nós não podemos fazê-lo. A verdade é que qualquer um pode fazer qualquer coisa que coloca na cabeça. Atualmente, com a tecnologia tão proeminente, há muitas oportunidades para todos neste campo.
Fórum - Quando as meninas se interessam pela área, quais são as dificuldades que encontram?
Hoang - As meninas que se interessam provavelmente enfrentarão muito preconceito e intimidação. Tive uma série de experiências em que me senti desconfortável apenas por estar no ambiente. As pessoas encaram, julgam e dizem coisas. É muito comum, não apenas no campo da tecnologia, mas em qualquer um, as meninas e mulheres encontrarem essas barreiras. Mas, como acontece com todas as dificuldades, você a supera mantendo-se focada e dando 110% de esforço.
Fórum - No artigo que escreveu para o jornal The Huffington Post, você menciona situações em que se sentiu intimidade ou obrigada a se provar somente por ser uma menina. Esse tipo de situação ainda acontece com você?
Hoang - Acontece o tempo todo! Não necessariamente porque sou uma menina, no entanto. É mais porque as pessoas me olham de um certo jeito ou falam coisas sobre mim por trás. Nessas horas, continuo sendo somente quem sou e fazendo o meu melhor, independente de minhas habilidades. Provavelmente passarei por esses momentos pelo resto da minha vida, me sentindo intimidada, mas a coisa certa a se fazer é ir em frente e não me deixar abater.
Fórum - Pode, por favor, contar mais sobre sua experiência no Girls Who Code? Como o projeto te ajudou?
Hoang - Eu poderia escrever um livro sobre minha experiência no Girls Who Code. O plano era estar com outras vinte meninas, oito horas por dia, cinco dias por semana, por oito semanas, com o objetivo de aprender programação. A verdade é que foi muito mais do que isso. Encontrei uma família de meninas, que sempre estarão ao meu lado, e criamos memórias que jamais morrerão. Nos apaixonamos pela tecnologia quando percebemos que a tínhamos em nossas mãos, quando visitamos aquelas empresas incríveis, e até quando estávamos assustadas diante daqueles bugs enormes. Girls Who Code fez muito mais do que me ajudar. Girls Who Code me inspirou e me deu esperança para o futuro. Eles me empoderaram com educação e habilidades para correr atrás do meu sonho e auxiliar outras meninas a fazer o mesmo.
Fórum - Na sua avaliação, projetos como o Girls Who Code e o Technovation Challenge aproximam meninas do campo da tecnologia?
Hoang - Sim, claro! Esses programas são focados em tecnologia e em trazer as minorias para perto dela. Acho que precisamos de mais projetos assim para preparar as próximas gerações para algo melhor. O campo da tecnologia é uma indústria em expansão, que precisa de mais mulheres e menos conflitos.
Fórum - Por que, na sua opinião, meninas e mulheres precisam estar mais presentes nesse mercado?
Hoang - O mercado ganharia em diversidade, e meninas e mulheres seriam mais respeitadas. É uma via de duas mãos. Ao longo da história, o gênero feminino foi sempre retratado como o mais fraco, frágil e emocional. Masculinidade em mulheres é tão desaprovada quanto feminilidade em homens. Mas a tecnologia não faz mulheres deixarem de ser mulheres, ou cozinhar não faz homens deixarem de ser homens. Cada indivíduo tem seus próprios sonhos e habilidades. Não deveria haver limites para ninguém. Quanto mais ativas forem meninas e mulheres nessa área, mais as minorias se inspirarão a quebrar os paradigmas e perseguir seus sonhos.
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(Foto de capa: Reprodução/Facebook)