JORNADA DE TRABALHO

A cidade que adotou a jornada de 4 dias, influenciou o país e hoje colhe os resultados

Um experimento que durou de 2015 a 2019 mostrou os benefícios da jornada de trabalho reduzida, sem perda de produtividade

Mulher em trabalho remoto.Créditos: Pixabay
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Entre 2015 e 2019, o governo da Islândia, país insular com cerca de 350 mil habitantes, iniciou um experimento com pouco mais de 2.500 pessoas de sua capital, Reykjavik, a maior cidade do país.

O experimento, que envolveu cerca de 1% da força de trabalho total do país, consistia em reduzir a semana de trabalho dos envolvidos de 40 horas semanais (ou 8 horas de trabalho diárias) para 35 horas por semana.

Diversos locais de trabalho foram selecionados para participar do esquema-piloto, de estações de polícia a serviços sociais, escritórios e museus. A aderência das empresas privadas foi menor do que a do setor público.

Mas resultados de longo prazo da experiência, que durou cerca de quatro anos, mostraram-se tão positivos que, ao longo de 2020, centrais sindicais e empregadores começaram a negociar menos horas de trabalho e tornaram a jornada reduzida uma possibilidade.

Relatórios liderados pelos institutos Autonomy e Alda, que consideraram estudos conduzidos no país como parte dos testes, indicam o "sucesso esmagador" da iniciativa, que melhorou os níveis gerais de bem-estar e produtividade, sem afetar a prestação de serviços.

Hoje, a maioria dos trabalhadores islandeses pode escolher trabalhar uma semana de quatro dias, e pelo menos 86% da força de trabalho trabalha, no máximo, 36 horas semanais, aponta o Autonomy.

Ao contrário do que alguns analistas possam pensar, a redução das horas trabalhadas não significou uma redução de produtividade: aliás, em 2023, três anos após a adoção opcional da jornada de quatro dias no país, a economia da Islândia cresceu 5%, com taxas de desemprego baixas (3,4% em 2023) e uma análise positiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), que evidenciou seu "ritmo de crescimento excepcional" em comparação com seus vizinhos europeus.

Além do aumento geral da satisfação dos trabalhadores, com 97% alegando uma melhoria no equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e 42% apontando que as horas de trabalho reduzidas eram também um fator de redução de estresse (e apenas 6% dizendo o contrário), a força de trabalho islandesa tem trabalhado mais horas do que seus vizinhos nórdicos, cuja produtividade por hora é, comparativamente, menor.

"É o único país a ter reduzido com sucesso a jornada de trabalho em escala nacional na última década", diz o relatório de 2024 do Autonomy. A adoção foi feita sobretudo no setor público.

Outros países já estudam uma redução de sua jornada de trabalho: é o caso da Espanha, cujo Conselho de Ministros aprovou, no começo de maio, o projeto que reduz de 40 horas para 37,5 horas a jornada semanal, fruto de um acordo com centrais sindicais. A decisão pode afetar até 12,5 milhões de pessoas.

Leia também: Redução da jornada de trabalho: semana de 37,5 horas avança na Espanha | Revista Fórum

Em Tóquio, a maior metrópole do mundo, a fim de combater a mudança demográfica e a queda abrupta das taxas de natalidade, o governo decidiu adotar a possibilidade de uma jornada de quatro dias a partir de abril.

Leia mais: Maior metrópole do mundo adota escala 4x3 e desbanca cultura de 'trabalho à exaustão' | Revista Fórum

No Brasil, tramita uma emenda constitucional apresentada por Erika Hilton (PSOL-SP) que quer reduzir a jornada de trabalho de 44 horas para 36 horas semanais, e um abaixo-assinado já reuniu mais de duas milhões de assinaturas em favor da medida.

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