RESISTÊNCIA

Com 60 anos de história, Sindicato dos Bancários de Brasília se prepara para novos desafios

Ao completar seis décadas, a entidade comemora conquistas, mas tem clareza das novas lutas, como emprego diante dos processos tecnológicos

Trajetória de lutas.Créditos: Agnaldo Azevedo - Cedoc/Sindicato dos Bancários de Brasília
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Em ano de celebração pelos 60 anos do Sindicato dos Bancários de Brasília, a entidade comemora conquistas, mas se prepara para encarar desafios fundamentais, tanto em relação ao futuro da categoria, quanto no que se refere às pautas gerais da sociedade.

O presidente do sindicato, Kleytton Guimarães Morais, conta que a entidade completou seis décadas em 23 de novembro de 2021, mas decidiu promover um ano de atividades comemorativas.

“Tomamos a decisão de contar nossa trajetória, resgatando a memória desses anos de luta, que confundem a história do sindicato com a história da capital do país. Há muita semelhança, muitos processos, cuja contribuição se dá com a organização dos bancários”, afirma.

Kleytton conta que são vários os episódios nos quais os bancários estiveram envolvidos na construção da cidadania e inclusão em Brasília: luta pelo salário mínimo, contra a carestia, pela emancipação política, pois Brasília tinha governadores indicados, não havia eleições diretas, entre outros.

“O sindicato esteve presente nesses episódios todos, da mesma forma em que esteve presente no processo de retomada democrática, nas lutas por Diretas Já, protagonizando vários momentos importantes”, relata.

O dirigente define os 60 anos de luta da entidade como um processo constante de construção em defesa dos direitos. “Nessa perspectiva, a entidade sempre esteve ligada aos mais altos valores da democracia, com seus quadros muito alinhados com a ideia da representação política direta e defendendo os direitos corporativos da categoria, mas com um olhar sobre as pautas gerais da sociedade. É um sindicato que se insere na comunidade, um sindicato cidadão”, diz.

Preservação dos bancos públicos é uma das principais conquistas

Kleytton relembra as principais conquistas da entidade ao longo de seis décadas. “Podemos definir que o sindicato lutou para que as pessoas pudessem ter acesso à cidade”.

“No campo mais corporativo, lutou e assegurou a preservação dos bancos públicos. Nós temos um banco regional de Brasília, o Banco de Brasília, que resistiu aos processos de privatização na década de 90, a todos os mecanismos de liquidação dos bancos estaduais. O sindicato e os trabalhadores do BRB souberam fazer a luta e resistiram”, aponta.

O sindicalista destaca, também, a luta pela defesa do Banco do Brasil público, da Caixa pública, defesa dos empregos, pela ampliação dos direitos.

“Os bancários inovaram nos processos de participação nos lucros e resultados, corrigindo essa equação de mais-valia que “O Capital”, do Karl Marx, traduz. Enfim, lutamos, ainda, por ampliações, como licença maternidade e licença paternidade, no caminho de buscar o equilíbrio das obrigações e responsabilidades dos homens para com seus filhos, equilíbrio entre homens e mulheres”, acrescenta.

Além disso, Kleytton revela que o sindicato luta como vanguarda contra os preconceitos e as discriminações de gênero, raça, orientação sexual. Na Convenção Coletiva do sindicato, inclusive, existe uma cláusula que compromete o sistema financeiro, os bancos, no combate à violência doméstica contra a mulher.

Situação do país é grave: “Estamos no fio da navalha”

Kleytton faz uma análise do atual momento do país, com o governo de Jair Bolsonaro (PL), e classifica a situação como grave.

“Estamos no fio da navalha com relação às garantias fundamentais, aos direitos fundamentais da pessoa: emprego, educação de qualidade, saúde, alimentação”, analisa.

Diante deste cenário, o dirigente ressalta a importância do sindicato. “A entidade é uma resistência, do ponto de vista de aprofundar o diálogo com os trabalhadores que atuam em bancos, de modo a demonstrar que sem o espaço da vivência coletiva organizada, o que nos resta é o vilipêndio às conquistas históricas, como 13º salário, direito a férias, a uma jornada legal de trabalho, direito à aposentadoria, enfim, tudo o que a gente viu sendo atacado de 2016 para cá, que é o processo de interrupção democrática”, lembra.

“Por isso, a gente tem de se convencer de que é preciso ter lado, e o lado dos trabalhadores não é cerrar fileiras com os opressores, mas, sim, defendendo com clareza seus direitos. O Brasil tem condições suficientes para incluir todo cidadão no nível de classe média. A tarefa é essa e o papel que a entidade empresta é de ser um bastião da guarda de direitos, entendendo que a democracia é um terreno fértil para que a gente possa reivindicar e manter nossos direitos”.

Processos tecnológicos deveriam estar a serviço da qualidade de vida dos trabalhadores

Entre os principais desafios do sindicato e da categoria para o futuro, Kleytton destaca a garantia do emprego, especialmente diante dos processos tecnológicos.

“Este objetivo tem que ser perseguido mais do que nunca. Os processos tecnológicos deveriam estar a serviço da qualidade de vida dos trabalhadores, mas que tem essa realidade subvertida para a lógica da acumulação: gerar lucro e mais lucro. A mão de obra impactada se vê desempregada, em um primeiro momento, e recontratada logo em seguida em condições degradantes, muito mais precárias, sem direitos já contratados, de acordo com a conquista da classe trabalhadora, e sem a garantia ao lazer, pois não se respeita o direito à desconexão”, avalia.

O dirigente chama esta prática de uberização da categoria, que “coloca os novos bancários em um looping constante de produção: resultados, performances e rendimentos”.

“Ou seja, a equação se liquefaz, de uma previsibilidade de renda no final do mês, para um processo de renda segundo a sua performance. Isso provoca muita insegurança do ponto de vista imediato, que é o pagamento das contas do mês e, também, do ponto de vista das imprevisibilidades, como a questão do adoecimento. Em uma terceira dimensão, de longa data, o processo de aposentadoria, que precisa de uma gestão acima do normal para fazer valer a renda no momento da velhice”, acrescenta.

Música e cinema estão na agenda das comemorações

Reprodução

Como o próprio Kleytton destaca, a categoria, além de uma atuação consciente diante dos problemas do país, precisa de momentos de lazer.

Por isso, para celebrar os 60 anos do sindicato e o Dia do Trabalhador, em 1º de maio, que será neste domingo, o sindicato retoma o projeto de arte, cultura e entretenimento “Sexta Básica”.

Nesta sexta-feira (29), o músico baiano Carlinhos Brown e a banda brasiliense Maskavo vão se apresentar, gratuitamente, a partir das 20 horas, com muito axé e reggae, no Setor Bancário Sul.

Divulgação/Sindicato

Ainda dentro das comemorações dos 60 anos do sindicato, foi lançado no sábado (23), no Cine Brasília, o documentário “Palco de Luta”. A produção mostra a história de resistência e unidade do sindicato.

O documentário é uma realização do Sindicato dos Bancários de Brasília, com apoio da Federação dos Bancários do Centro Norte (Fetec-CUT/CN) e produção da Pavirada Filmes.