As 10 maiores centrais sindicais do país anunciaram, nesta quinta-feira (3), que estarão presentes nos atos por justiça ao congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, assassinado de maneira brutal após cobrar uma dívida de trabalho em um quiosque no Rio de Janeiro.
A principal manifestação em reação ao crime bárbaro acontecerá no sábado (5), a partir das 10h, em frente ao quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, capital fluminense, onde o Moïse foi assassinado. Também haverá um ato em São Paulo, no mesmo dia e horário, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), na avenida Paulista. Ambos os protestos foram convocados pela comunidade congolesa no Brasil e pela Articulação Negra por Direitos.
Em nota, as centrais sindicais avaliam que a morte do congolês "sintetiza em um só ato o racismo enraizado em nossa sociedade, o sentimento de xenofobia que cresce com o avanço da extrema-direita e os efeitos nefastos da política neoliberal que retirou direitos trabalhistas e suprimiu investimentos na área social".
"O jovem africano que trabalhava sob contratação precarizada, recebendo apenas por diárias foi morto com chutes, socos e ao menos 30 pauladas porque por cobrar pagamentos atrasados no quiosque Tropicália, em que prestava serviço", dizem as entidades.
Confira a íntegra da nota das centrais
O crime
Moïse foi, na segunda-feira (24), cobrar duas diárias no quiosque Tropicália, que fica próximo ao Posto 8, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Ele prestava serviços de ajudante de cozinha no local. A informação é da sua família.
Logo após ele chegar ao local, surgiram três homens, um deles com um taco de beisebol nas mãos, que o cercaram, o jogaram no chão e desferiram, pelo menos, 26 pauladas em Moïse, que continuou apanhando mesmo desacordado. As imagens podem ser vistas nas câmeras de segurança do quiosque.
Moïse foi encontrado morto, no chão, com as mãos e pés amarrados. De acordo com laudo do IML (Instituto Médico Legal), ele morreu em decorrência de traumatismos no tórax, com contusão pulmonar causada por ação contundente. O laudo diz ainda que os pulmões apresentavam áreas hemorrágicas de contusão e também vestígios de broncoaspiração de sangue.
Estão presos temporariamente pelo crime Brendon Alexander Luz da Silva, Fábio Pirineus e Aleson Cristiano. Os três aparecem nas imagens do espancamento. Ao depor, todos negaram que quisessem matar o congolês. Brendon, porém, disse ter a “consciência tranquila”, enquanto Aleson afirmou que, ao bater no imigrante com um taco de beisebol, “resolveu extravasar a raiva que estava sentindo”.
Dono diz que não conhece agressores e nega dívida
Mais de oito pessoas já prestaram depoimento à DH (Delegacia de Homicídios da Capital). Um dos ouvidos foi o dono do quiosque, que não teve a identidade revelada. Ele negou envolvimento no crime e disse que estava em casa no momento da agressão que resultou na morte de Moïse.
Um casal que prestou depoimento à Polícia Civil como testemunha do assassinato revelou, ainda, que acionou a Guarda Municipal para tentar salvar o homem, mas foi ignorado pelos agentes.
Segundo reportagem do jornalista Flávio Trindade, de “O Globo”, o casal tentou ajudar Moïse ao ver os três homens o espancando no quiosque Tropicália, na praia da Barra da Tijuca. Eles afirmaram à polícia que acionaram dois guardas municipais que estavam presentes no local, mas eles passaram direto.
O casal, então, voltou ao local para tentar ajudar por conta própria. Os agressores tentaram mantê-los afastado da vítima, mas nas imagens, a mulher aparece tentando reavivar o congolês com uma massagem cardíaca. Já era tarde.